Alexandre Inacio | De São Paulo | Valor Econômico
A maior indústria de defensivos genéricos do mundo está prestes a trocar de mãos. Atualmente controlada pela KoorIndustries, a israelenseMakhteshim-Aganestá na mira da China National Chemical, mais conhecida no mercado como ChemChina. O grupo chinês acertou ontem a compra de uma participação de 7% da Koor no capital da Makhteshim, que tem um valor de mercado estimado em cerca de US$ 2,4 bilhões.
Mas a estratégia dos chineses vai além de uma participação minoritária. A ChemChina quer adquirir todas as ações da Makhteshim que são negociadas em bolsa. Com a operação, a fatia do grupo chinês na companhia israelense subiria para aproximadamente 60%, o que lhe conferiria o controle da fabricante de produtos genéricos. Dessa forma, os 40% restantes permaneceriam em posse da Koor.
\”Parece que o negócio está prestes a ser fechado e nós acreditamos que esta oferta será aceita pelos acionistas, porque os chineses estão pagando um prêmio alto\”, disse à Bloomberg, Guil Bashan, analista da IBI, de Tel Aviv. \”Essa é uma boa notícia para a Makhteshim e para a Koor\”.
A ChemChina é a segunda maior indústria de produtos químicos da China, com ativos avaliados em US$ 24 bilhões. A empresa é estatal e possui dez subsidiária, que vão desde fábricas de defensivos a indústrias de plástico. Em 2007, tentou comprar a também fabricante de defensivos genéricos Nufarm, da Austrália, mas o negócio não foi concretizado. Na época, a operação criaria a maior indústria de produtos agrícolas genéricos do mundo.
Apesar de o negócio aparentemente estar distante do Brasil, a operação terá impactos no mercado nacional de defensivos. Isso porque a Makhteshim controla no país a Milenia, companhia que detém 6% do mercado nacional e sozinha é responsável por quase 20% dos negócios globais do grupo. Na prática, a chegada da ChemChina reforça a presença chinesa no segmento de proteção de cultivos no Brasil, país com um dos maiores potenciais de crescimento no consumo de defensivos, incluindo os genéricos.
No mês passado, a Milenia anunciou uma ampla reestruturação de seus negócios no país, incluindo a readequação de unidades produtivas, o enxugamento do portfólio e a demissão de 250 funcionários, como informou o Valor. Ironicamente, a responsabilidade das mudanças e do foco em produtos de margens melhores destinados ao cultivo de soja, milho, cana, café e algodão foi atribuída à forte presença dos produtos genéricos vindos da Ásia, em especial da China.
Em 2008, os produtos chineses foram beneficiados pelo fim de barreiras à importação que existiam aos defensivos agrícolas. Com isso, os produtos importados passaram a ser mais competitivos que os formulados no mercado doméstico e ampliaram a sua presença.
A queda das barreiras, a valorização do real e o avanço dos transgênicos tornaram o Brasil um dos principais mercados para produtos genéricos. Estimativas das próprias empresas do setor indicam que últimos cinco anos, a participação desse tipo de defensivo passou de praticamente zero para quase metade do faturamento do segmento. No ano passado, as vendas totais da indústria foram de US$ 6,6 bilhões, dos quais 48,5% foram provenientes de produtos genéricos.