16/01/2013
A Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do mundo, aposta no transporte a granel do produto
DARLENE SANTIAGO, de Guaxupé (MG)
Sacas de 60 quilos carregadas nas costas, para a carga e descarga do café, estão com os dias contados no País. A nova onda do setor, que deve produzir mais de 50 milhões de sacas do grão nesta safra, é a granelização total da cultura. O café vai diretamente do campo para o caminhão, e do caminhão para os silos ou para armazéns, mas agora ficam armazenados em grandes bags de 1,2 mil quilos cada. O cafeicultor Hugo Guimarães, dono de uma lavoura com 193 hectares, em Guaxupé, no sul de Minas Gerais, faz parte desse grupo de produtores que está revolucionando a logística do grão.
Na safra passada, Guimarães entregou à Cooxupé, com sede no município — a maior cooperativa cafeeira do mundo —, todo o seu café a granel, em vez de acondicioná-lo nas tradicionais sacas de estopa. A cooperativa está apostando nessa modalidade logística desde 2011 e também incentivando os produtores a começar a granelização desde suas propriedades.
Segundo Lúcio Dias, superintendente de operações e mercado interno da Cooxupé, no ano passado foram recebidas mais de cinco milhões de sacas do grão, das quais cerca de 80% foram entregues a granel. O processo é inédito na cafeicultura, mas habitual em commodities como o milho e a soja. “Queremos chegar a 100% de granelização até 2015”, afirma Dias.
Para a granelização total do café, os produtores precisam fazer alguns investimentos, mas os ganhos compensam.
Guimarães, por exemplo, investiu R$ 13 mil em máquinas e na construção de um silo na fazenda. Com produção equivalente a 3,4 mil sacas na safra de 2012, o investimento já se pagou. “Somente em sacaria, economizamos mais de R$ 10 mil”, diz Guimarães. “A mudança veio para ficar, porque facilita a vida do produtor.” Mas a economia mais efetiva de Guimarães não foi com embalagem e sim em mão de obra. Em safras passadas, o cafeicultor contava com mais de cinco funcionários temporários após a colheita. Na última, foi necessário apenas um para operar os novos equipamentos. “A mecanização traz mais conforto e torna a mão de obra mais produtiva”, diz Guimarães. Agora, os grãos são transportados do silo, por uma tubulação, e são despejados diretamente no caminhão, que segue para a cooperativa. Além da substituição da mão de obra pela mecanização, o novo o modelo requer profissionais mais qualificados para operar as máquinas. A aposta da Cooxupé na granelização de toda a cadeia fez com que o recebimento, armazenamento e distribuição do grão ganhassem velocidade e eficiência. A cooperativa, que tem 12 mil cafeicultores associados e faturou R$ 3,1 bilhões em 2011, já investiu R$ 75 milhões no Complexo Industrial Japy, inaugurado no início de 2011. Para Dias, o complexo vem promovendo mudanças significativas na cadeia cafeeira. “Além da melhor qualificação dos trabalhadores, tivemos um grande avanço tecnológico.
Temos hoje um sistema inédito totalmente automatizado”, diz.
O complexo Japy foi a primeira unidade construída para receber café a granel no País. Sua capacidade diária de recebimento é de 35 mil sacas por dia e ainda pode expedir 25 mil sacas por dia. São três armazéns para as bags e 20 silos, totalizando 1,5 milhão de sacas.
“Além da velocidade de armazenagem, o acondicionamento em bag é melhor que em saca”, diz Benedito Stampone, gerente de operações da cooperativa.
“Descarregamos uma carga equivalente a 250 sacas em oito minutos”, diz. “Antes, levava uma hora.”
Atualmente, a capacidade total de armazenagem da cooperativa alcança 5,2 milhões de sacas de café. Segundo o presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa, o Japy tem mudado a logística do escoamento do grão no sul de Minas Gerais. “Foi o maior investimento da cooperativa nos últimos anos”, diz Paulino da Costa. Mas a cooperativa não deve parar por aí. O projeto prevê ainda a construção de outros 30 silos para o armazenamento do grão. Além disso, em
outubro do ano passado foi inaugurada a segunda etapa do complexo Japy, uma unidade totalmente automatizada de limpeza, para retirar impurezas como pedras, separar os grãos por tamanho e cor, e eliminar os grãos defeituosos, com capacidade de processamento de 600 mil quilos de café por dia.
O complexo industrial foi idealizado em 2009, com o projeto-piloto na unidade da cooperativa em Monte Santo de Minas. “Quando mais de 60% dos cooperados entregaram o café a granel, tivemos a certeza de que o projeto daria certo”, diz Paulino da Costa.
Neste ano, a cooperativa deve investir nas filiais. A de Monte Carmelo, a 460 quilômetros de Guaxupé, vai ganhar um novo laboratório de análise e classificação, por R$ 1 milhão. A Cooxupé conta com 16 unidades administrativas e seis escritórios avançados que prestam assistência técnica aos produtores. Nos últimos anos, a cooperativa exportou mais de dois milhões de sacas de café. “Estamos preparados para crescer ainda mais”, diz Paulino da Costa.