As culturas de cana-de-açúcar, café e frutas devem continuar em ritmo ascendente no próximo ano. Em 2005, as quedas na receita que atingiram grande parte das cooperativas agropecuárias, principalmente de grãos, já passaram longe das três culturas. Segundo o presidente da Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, esses segmentos conseguiram resultados acima das outras e escaparam de perdas, principalmente por conta de quebras na safra e valorização do real frente ao dólar. Ao lado do lucro, está a Valexport, cooperativa de produtores e exportadores de frutas e hortigranjeiros do Vale do São Francisco, que espera um aumento de pelo menos 25% sobre a receita apurada no último ano. Segundo o presidente da Valexport, José Gualberto, o incremento na receita deverá garantir à cooperativa um retorno à posição que se encontrava em 2003. “O ano passado foi muito ruim, com muitas chuvas e nós perdemos cerca de 25% em relação ao ano anterior. Com certeza já recuperamos essa perda e espero que no fim do ano seja ainda superior.” Lopes, da OCB, atesta os ganhos da cooperativa. “As frutas do Vale do São Francisco já conquistaram o mercado europeu e chegaram à Inglaterra, conhecida por ser o mais exigente do mundo. Quem vende para a Inglaterra, vende para qualquer lugar.” Para 2006, a intenção da Valexport é continuar em ritmo ascendente. “Poderemos ter um crescimento na área e nossos pomares estarão mais velhos e, conseqüentemente, mais produtivos. Queremos intensificar nossa posição na Ásia e crescer nos nossos mercados tradicionais, como Estados Unidos e Europa”, afirma Gualberto. O presidente da Valexport acrescenta ainda que a aposta da cooperativa para os próximos anos é a uva sem semente. Segundo ele, a produção da fruta pode aumentar em até 30% para atender ao exterior. “Esse é um produto nosso que vem se impondo com muita força no mercado internacional.” Castrolanda Já a cooperativa paranaense Castrolanda, de produtores de grãos, leite e suínos, está do lado dos prejuízos e estima uma queda de até 30% na sua receita em relação aos R$ 14 milhões alcançados em 2004, para cerca de R$ 10 milhões este ano. Além disso, a direção não nutre grandes expectativas para o próximo ano. Segundo o presidente Franz Borg, 2006 deve ser o ano da ‘ressaca’. “Esse ano que passou foi muito complicado, com ondas de perdas. Nos grãos, plantamos com o dólar a um preço e vendemos a outro muito menor, que provocou rentabilidade negativa, além de passarmos por uma quebra de safra. No leite, tivemos um bom primeiro semestre, mas no segundo, os preços caíram e tivemos o problema com a aftosa. A doença também prejudicou os suínos, que perderam mercado no exterior e foram direcionados para o mercado interno. O excesso do produto depreciou os preços e provocou mais perdas.” Borg acredita que a solução será cortar gastos de onde for possível. “Não é um ano para investir. Agora, entramos em um dos ciclos de baixa do agronegócio depois de crescer muito nos últimos dois, três anos e que o produtor investiu tudo o que podia. Essa é a hora de deixar o barco correr.” Segundo dados da OCB, o cooperativismo agrícola pode sofrer uma queda na receita de R$ 7 bilhões em relação ao ano passado, quando o faturamento do setor chegou a R$ 60 bilhões. Ainda segundo a associação, apesar disso, as exportações devem se manter na faixa dos US$ 2 bilhões nesse ano, tanto por conta dos produtos em alta (cana, café e frutas), como pela agregação de valor. “As cooperativas aprenderam a agregar valor ao produto, o que possibilitou manter a receita com exportação. Os cooperados estão atendendo as necessidades dos consumidores, e esse processo deve se intensificar ainda mais”, diz Lopes, que acredita ter sido essa, a grande vitória do setor em 2005. “Esse processo de agregação de valor aproximou o produtor do consumidor, e essa é a função primeira da cooperativa. A crise criou uma oportunidade para o setor evoluir.” Para 2006, Lopes acredita que a tendência é a contínua ocupação de espaços das cooperativas. “Deve ser um ano menos ruim para a agricultura, uma vez que o produtor comprou insumos no câmbio baixo e pode ter uma margem de lucro maior na venda. No entanto, ainda haverá resquícios de 2005, e o produtor precisa manter o ‘pé no breque’. Ele deve aproveitar para economizar e equacionar a sua renda com os financiamentos.” As cooperativas agropecuárias representam 17% do total de 7.355 cooperativas de 13 ramos diferentes existentes no território nacional e representaram, em 2004, 33% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola. |