Produtores do estado esperam fechar 2006 com lucro, depois de três anos de prejuízos, e já voltam a investir
Camilla Baeta Folha Rural/Divulgação
– 24/8/04 Cooperativa de café em Minas Gerais: Produtores avançam no exterior investindo em tecnologia
Responsáveis por um terço das riquezas produzidas no campo, as cooperativas se tornaram a principal saída para a retomada da agricultura. O setor que viveu nos últimos anos uma das suas piores crises devido à queda de preços, dólar fraco e excesso de produção, aposta na união dos produtores para recuperar-se. Segundo o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), as cooperativas do estado devem faturar R$ 14 bilhões este ano. Desse total, grande parte virá das cooperativas agropecuárias – presentes em maior número em Minas, superadas só pelas de crédito em número de associados e faturamento. “Depois de três anos de prejuízos, devemos fechar o balanço de 2006 com receita de R$ 10 bilhões e vamos continuar essa recuperação em 2007”, diz Ronaldo Scucato, presidente da Ocemg.
Apesar do otimismo, ele ressalta que os produtores estão cautelosos. “Enfrentamos problemas climáticos, preços baixos e câmbio desfavorável. Muitos produtores importaram insumos com dólar alto, custo que não foi compensado na colheita, quando o dólar caiu”, relata Scucato. No Sindicato dos Produtores Rurais de Unaí (Coanor), Noroeste de Minas, os cooperados estão animados com os negócios. No ano passado, a produção de grãos recuou 40% e a expectativa para este ano é retomar a produção de 2005. “As plantações estão praticamente garantidas. Precisamos ter safra de melhor qualidade, mais crédito, preços melhores, pois 2006 foi desalentador”, diz Irmo Casavechia, presidente da Coanor.
Sintonizadas com essa demanda, algumas cooperativas de crédito prometem ampliar os empréstimos este ano. Só na Cooperativa Central de Crédito de Minas Gerais (Crediminas/Sicoob), com 250 mil associados, o aumento de verbas deve ser 25%. Segundo o presidente da entidade, Heli Penido, o volume disponível para empréstimos vai subir de R$ 1,18 bilhão para R$ 1,5 bilhão, valor captado pelo Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) e pela carteira de depósitos das cooperativas associadas. Segundo ele, o produtor, sobretudo o de pequeno porte, precisa se unir a uma cooperativa se quiser facilitar o acesso ao crédito rural. “É difícil o produtor conseguir empréstimos isoladamente”, diz.
Com mais dinheiro na mão, o produtor pode investir na qualidade. Na Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), responsável por boa parte do café exportado pelo país, o investimento em tecnologia de ponta tem gerado bons retornos financeiros aos produtores. A Cooperativa que já exporta para vários mercados, como Alemanha, Estados Unidos, Itália e Japão, atribui seu bom desempenho aos investimentos que vem fazendo. “A qualidade do nosso café cresceu porque estamos investindo em maquinários modernos e em melhores sementes e insumos. O resultado é aumento das vendas”, afirma Otto Vilas Boas, assessor de negócios da Cooxupé.
As cooperativas mineiras têm conquistado espaço maior nas exportações da agricultura brasileira. Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras, as vendas externas de cooperativas subiram 26% em 2006, enquanto o agronegócio cresceu 13% no geral. As exportações das cooperativas do país somaram US$ 2,81 bilhões no ano passado, sendo US$ 209 milhões de cooperativas mineiras. O estado ficou na terceira posição da lista de cooperativas que mais exportaram, atrás do Paraná (US$ 852 milhões) e São Paulo (US$ 1,1 bilhão). Entre os principais produtos exportados estão açúcar, café, soja em grãos, álcool, carnes e produtos da agroindústria. “As cooperativas estão se profissionalizando cada vez mais. A tendência é que o setor pese cada vez mais a economia”, diz Ronaldo Scucato, da Ocemg.
Análise da notícia
As dificuldades enfrentadas pelas cooperativas durante a maior crise da agricultura no país, em 2005, começam a ser sanadas. Uma saída é investir em modernização da produção. Mas a maior preocupação dos produtores continua sendo o estabelecimento pela União de mecanismos compensatórios que evitem novas crises. (Sílvio Ribas)