Controle da broca-do-café – Considerações de Dr. Julio César de Souza, pesquisador da Epamig, sobre a situação atual
Por Daniela Novaes – Rede Social do Café
Colaboração de Clayton Grillo Pinto
É do conhecimento de todos os envolvidos na cadeia produtiva do café, especialmente de técnicos e cafeicultores, que o uso do inseticida de ingrediente ativo endossulfan, consagrado no controle da broca-do-café, está proibido desde julho de 2013 no Brasil. Sua proibição é muito importante, já que se tratava de um inseticida clorado e de extrema toxicidade.
Diante desta realidade, a pesquisa antecipou-se e estudou a eficácia de dois novos ingredientes ativos para a mesma finalidade. Após criteriosos experimentos de campo, chegou-se a conclusão de que os inseticidas Ciazipir e Rinaxipir apresentam a mesma eficácia do endossulfan no controle da broca-do-café, inseticidas alternativos e de baixa toxicidade, de tarja azul. Além de sua eficiência no controle da broca, o inseticida ciazipir, por exemplo, apresentou também, em trabalho científico realizado em laboratório, seletividade a três espécies de ácaros predadores (inimigos naturais), mantendo-os vivos.
Os resultados desse trabalho foram apresentados pelo pesquisador da Epamig Dr. Paulo Rebelles Reis, no 39º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, realizado em Poços de Caldas entre os dias 29 de outubro e 01 de novembro de 2013. De acordo com o Dr. Paulo Rebelles, “o inseticida ciazipir é seletivo aos ácaros predadores de outros ácaros pragas e não polui o meio ambiente”.
Para ser utilizado na agricultura brasileira, todo agrotóxico, deve antes ser registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), após comprovada eficácia contra a praga alvo, dentre outras comprovações que são solicitadas, mesmo que as empresas fabricantes dos inseticidas Ciazipir (Benevia®) e Rinaxipir + abamectina (Volian Targo®) tenham cumprido todas as exigências do MAPA quanto à eficácia, e do Ministério da Saúde (MS) em estudos de toxicidade. Devido à burocracia dos referidos ministérios, os produtos não estarão à disposição dos cafeicultores a partir da safra de café 2013/2014.
Segundo Dr. Julio César Souza, “Em documentos enviados às autoridades competentes no registro de agrotóxicos em junho de 2013, universidades, cooperativas de cafeicultores e empresas de pesquisas solicitaram, por meio do MAPA, o registro dos inseticidas mencionados para uso emergencial no controle da broca, já que os quatro outros produtos já registrados apresentam baixa eficiência. Ainda, para que o registro do uso emergencial do Ciazipir (Benevia®) e Rinaxipir + abamectina (Volian Targo®) seja autorizado pelo MAPA, as referidas entidades terão de preparar mais documentos, segundo solicitação do ministério”, explicou.
Durante o 39º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, Souza anunciou que o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento autorizaria o uso emergencial dos dois novos inseticidas. Segundo o pesquisador, “percebeu-se naquela ocasião uma grande euforia por parte dos técnicos, pesquisadores e cafeicultores lá presentes, com a importante notícia. Porém, mesmo que essa autorização seja dada, por falta de tempo hábil, os produtos só estarão disponíveis aos cafeicultores em aproximadamente seis meses, já que as empresas terão de importar os ingredientes ativos para formular os produtos, após um tempo de permanência na alfândega. Além disso, uma vez produzidos, leva-se tempo para a logística de distribuição às revendas, antes de chegarem às mãos dos cafeicultores.”
Julio César afirmou ainda que “se os técnicos do MAPA, responsáveis pelo registro de agrotóxicos, tivessem dado a merecida atenção aos documentos a eles, os referidos inseticidas já teriam o uso emergencial autorizado para a atual safra, o que não vai acontecer. Como as condições para a broca sobreviver e se multiplicar são as ideais, resultado de uma colheita mal feita, a previsão é de que haja uma maior infestação da praga para a próxima safra de café. Assim, com a presença da broca e da baixa eficiência dos produtos disponíveis para seu controle, os cafeicultores contabilizarão prejuízos e também enfrentarão altos preços desses inseticidas no mercado devido a maior demanda.”
Fêmea adulta da broca na fase de trânsito |
Fêmea adulta e larvas em fruto já comprometido
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