Contabilidade suicida

14 de março de 2006 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: A Gazeta








José Marques
Porto
O agronegócio brasileiro bateu novo recorde de exportações em 2005,
totalizando US$ 43,6 bilhões. Superior 11% em relação a 2004, de acordo com
dados divulgados pelo Ministério da Agricultura. Os produtos que mais
contribuíram para o aumento foram açúcar e álcool (49%), café (42%), carnes (31%) e papel e celulose
(17%). As vendas externas do agronegócio representaram 37% do total das
exportações brasileiras em 2005. Contudo, o governo, além dos empresários, não
contabiliza e oculta o alto custo ambiental desse modelo.

O atual modelo
do agronegócio ameaça pôr fim a uma das maiores dádivas divinas e das principais
riquezas de biodiversidade do país: o Pantanal. É o que mostra o estudo
“Estimativa de Perda de Área Natural da Bacia do Alto Paraguai e Pantanal
Brasileiro”, feito pela ONG Conservação Internacional (CI Brasil). O estudo
aponta que, até 2004, 44% da área em análise tiveram sua cobertura nativa
degradada.

A expansão da pecuária e da soja, aliada às atividades de
grileiros, madeireiros, industriais e mineradores, segundo o Instituto de
Pesquisas da Amazônia, já causou a destruição de 12% da floresta nativa nas
últimas décadas. Tal ação afetou o clima, o regime das chuvas, além de causar
danos irreversíveis à biodiversidade da região.

Já a vegetação do Cerrado
está sendo rapidamente destruída e substituída pela soja, algodão e outros
cultivos, sendo reduzida hoje a apenas 22% de sua cobertura original.

A
Mata Atlântica, segundo o CI Brasil, perdeu 92% de sua cobertura original desde
o descobrimento. No Espírito Santo, foi reduzida a apenas 7% de nosso
território, em pouco mais de um século.

Qual será o custo ambiental do
agronegócio no Estado? Quanto custa para o ambiente a produção das monoculturas
de eucalipto, cana-de-açúcar, dos cafezais e das pastagens? Quanto custa tratar
da saúde de todos os contaminados pelos venenos usados na produção do
agronegócio?

De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), cerca de
70% dos cursos de água, entre o Rio Grande do Sul e a Bahia – região que
concentra a maior parte da produção agrícola do país –, estão contaminados por
venenos e outros produtos químicos. As águas que as companhias de saneamento
comercializam, que são captadas em mananciais contaminados, estarão livres dos
venenos utilizados? Quanto custará limpar o ambiente? Será possível?

A
contabilidade suicida do modelo econômico hegemônico está nos levando à contínua
e insana destruição das principais riquezas naturais do país e do
planeta.

José Marques Porto é sociólogo, especialista em Planejamento e
Gerência de Operações Logísticas

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.