30/05/15
Inflação e desemprego em alta e renda em queda provocam recuo de 0,9% no consumo das famílias no 1º trimestre em relação a 2014 O consumo das famílias, que responde por 63% do Produto Interno Bruto (PIB), caiu 0,9% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a primeira retração desde o terceiro trimestre de 2003.
Crédito mais caro por causa da alta dos juros, endividamento elevado, inflação ao redor de 8%, avanço do desemprego e retração real na renda dos trabalhadores levaram os brasileiros a frearem as compras, o que teve impacto no PIB. No primeiro trimestre deste ano, os serviços encolheram 1,2% em relação ao mesmo período de 2014. Foi o pior desempenho do setor de toda a série do PIB, iniciada em 1996.
A educadora Lilian Kempinski Consorte, de 51 anos, casada e mãe de três filhos, contou que reduziu as despesas com consumo da família por causa da inflação elevada que corroeu a renda. “Meu marido é empresário do setor de publicidade e ele sentiu a retração da economia mais do que eu, que sou assalariada”, disse a educadora.
Para ajustar as despesas ao orçamento, ela optou por substituir marcas, trocar itens importados por nacionais, mas procurou manter as quantidades compradas no supermercado.
Com a mudança de padrão de vida da família também, diminuiu as idas ao restaurante e as viagens internacionais saíram dos planos da família. “Até o ano passado viajávamos uma vez por ano para o exterior.Agora é só viagem nacional e para casa de amigos”, relatou.
O aperto no consumo também pegou a costureira Gilda Tinteo, de 56 anos, que mora com a filha em um cômodo alugado no bairro paulistano do Bom Retiro. Com renda familiar na faixa de R$ 1,6 mil, ela disse que neste ano está comprando” cada vez menos elevando para casa os produtos mais baratos”. A carne saiu da lista de compras e foi substituída pelo ovo e pelo frango. “Agora está mais difícil viver. Antes as coisas estavam mais baratas. A inflação subiu muito.”
Perspectiva. Para a economista Viviane Seda, responsável pela Sondagem do Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas, a parte psicológica do consumidor está comprometida hoje, e a queda do emprego pode prejudicar ainda mais a demanda.
Um dos elementos do ajuste macroeconômico, o realinhamento dos preços administrados também atuou para achatar ainda mais a demanda. “O ‘tarifaço’ comprimiu a renda disponível para consumo”, disse o economista- chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Até abril deste ano, a conta de luz ficou quase 40% mais cara, de acordo com o IPCA.
Viviane acredita que ainda não há espaço para recuperação.” É possível que tenha resultado mais negativo do PIB em geral e do consumo das famílias no segundo trimestre.”
Como reação à queda no consumo, o PIB do comércio encolheu 6% na comparação no primeiro trimestre de 2014. Representantes de segmentos do varejo e do atacado já trabalham com cenários de estagnação e encolhimento de vendas neste ano.
“Nos últimos trinta dias tenho ouvido em muitas conversas com os empresários que muitos estão revendo o que estava planejado”, disse o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), José do Egito Frota Lopes Filho.