Máquinas de expresso Equipamentos para o preparo da bebida custam entre R$ 495 a R$ 5.690
Paulo Henrique Lobato – Carolina Mansur
O brasileiro começa a adquirir um hábito comum em países europeus: o consumo de café em cápsulas aumentou 46,5% entre 2012 e 2013, segundo uma pesquisa da consultoria Nielsen. O total de lares que saboreiam os grãos nesse nicho ainda é pequeno (0,6% dos domicílios no país), mas o percentual de crescimento entre os dois últimos anos sugere, conforme especialistas, que o produto caiu no gosto das pessoas. “É um mercado que vai pegar no Brasil. Em lugares como a França e a Suíça, as cápsulas representam mais de 30% do consumo (da bebida)”, comparou Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic).
Uma das justificativas para o aumento do mercado de cápsulas é o maior poder aquisitivo do brasileiro. Outro é a qualidade do café especial produzido no país e no exterior. O aumento do consumo ocorre num momento relevante para o mercado: o fim da patente da Nespresso, controlada pela suíça Nestlé e pioneira nesse segmento. Por quase duas décadas e meia, a Nespresso produziu máquinas em que apenas as suas próprias cápsulas podiam ser usadas. Concorrentes que criaram cápsulas compatíveis com os equipamentos da rival tentaram, sem êxito, quebrar a exclusividade com ações na Justiça. Mas o fim da patente abriu a porteira para a concorrência no planeta todo. Esse é o tema da última reportagem da série Muito além do cafezinho, que o Estado de Minas publica desde domingo.
A americana Sara Lee começou a explorar o mercado francês com cápsulas compatíveis com máquinas da Nespresso. O mesmo, também no país europeu, ocorre com a rede Casino, uma das donas do Grupo Pão de Açúcar. Esses produtos ainda vão chegar ao Brasil. Por aqui, a Três Corações começou a vender as próprias máquinas (três modelos) e cápsulas (17 tipos). Os equipamentos chegam com o preço mínimo de R$ 449. Já as cápsulas, importadas da Itália, saem a R$ 1,10 cada.
Marcella Issa, gerente da marca TRES, do Grupo 3corações, lembra o crescimento do mercado de cápsulas . “De 2008 a 2012 esse mercado cresceu mais de oito vezes, chegando a R$ 206 milhões movimentados”, diz. Ainda de acordo com ela, o Brasil está caminhando para a maturação desse segmento, que deve deixar de ser nicho. “Hoje as cápsulas representam 2,5% do segmento de cafés em valor, mas entendemos que pode chegar até 20% como em muitos países desenvolvidos”, ressalta.
Sobre a participação de mercado que a empresa pretende atingir, ela garante que a expectativa é que a solução TRES represente 10% do faturamento do Grupo 3corações em cinco anos. “Além disso, daremos continuidade ao posicionamento da marca de tornar-se uma das referências no mercado com produtos com design diferenciado”, afirma.
GLAMOUR EM CASA As vendas crescentes das máquinas domésticas mostram o quanto o café com ares premium caiu nas graças dos consumidores. Na Spicy, especializada em utensílios domésticos e com unidade no BH Shopping, a venda das máquinas respondem por 20% da comercialização total da loja. Entre os modelos oferecidos aos clientes, há os equipamentos da suíça Iura, que contam com moedores de grão, em vez de cápsulas. “Essas são as preferidas por quem entende de café, porque dá condição de a pessoa escolher o grão e outras características da bebida”, explica a gerente da loja, Débora Rizzi.
As máquinas da linha da Nestlé, preferidas pelos apreciadores de café iniciantes, variam de R$ 495 a R$ 1.599, conforme o design e funcionalidades. Já as da marca Iura, que tem como proposta oferecer um café com toque gourmet, variam de de R$ 2.690 a R$ 5.690, de acordo com o modelo, que pode ter, inclusive, microchips, onde toda as informações de produção e mecânica ficam armazenadas, e tela touch. As vendas de acessórios acompanham o ritmo do negócio. “Vendemos muitas xícaras, moedores para máquinas manuais que trabalham com pó e até mesmo próprio pó ou grão”, diz Marcela.
A loja conta ainda com marca própria e vende a embalagem de 500 gramas de café, grão e pó, produzido no Norte de Minas, por R$ 19 e R$ 18, respectivamente. “Fazemos a junção ao vendermos uma boa máquina, mas também um bom café, para que o consumidor saia totalmente satisfeito”, conta. A comercialização de cápsulas, segundo ela, fica restrita às boutiques da Nespresso, mas não atrapalham as vendas dos equipamentos. “Aqui, as pessoas acabam tendo acesso a todo o universo de máquinas, e isso mantém o nosso movimento ativo”, reforça.
SABOR A vendedora Izabel Oliveira, apreciadora de cafés, conta que ainda não tem a sua própria máquina, mas que, quando adquiri-la, deve optar pelas mais sofisticadas, que processam os grãos. “Essa (máquina) de grãos oferece um café de melhor sabor e qualidade. É possível sentir mais o gosto do café do que no expresso. Embora seja mais cara, ela possibilita que a gente selecione o grão de café que quer experimentar”, lembra. Para ela, a febre dos consumidores pelas máquinas pode ser explicada pela forma mais atraente como o café vem sendo apresentado. “Ficou mais interessante tomar café e muito diferente do cafezinho de todo dia, aquele de casa.”
Na prática, as cápsulas são uma espécie de café individual. Há outros modelos, como o sachê feito pela empresa Café Fazenda Caeté, em Campo Belo, onde caixas com 16 saquinhos com cinco gramas do grão já beneficiado são vendidas para grandes redes de supermercados do país. Outra parte já ganhou o mercado externo, como Estados Unidos e Emirados Árabes. “Temos grãos especiais”, comemora Antônio Costa, um dos donos da empresa, que conta com fazendas e torrefadora.
Luxo até no lixo O mercado de café não termina nem depois do consumo. Artesãos como Cristina Pujjati, moradora de Barbacena, dão novo uso às cápsulas vazias. Inventando acessórios femininos, ela estende a cadeia do café à reciclagem e, de quebra, ajuda o meio ambiente, pois recicla o que poderia virar lixo. “São colares, pulseiras, broches, guirlandas e enfeites em geral que conquistam cada vez mais público. Já tenho tradição em reciclar materiais e me apaixonei pelo colorido das capsulas”, disse Cristina, que ontem mesmo negociou três colares.
Ela teve a ideia de reciclar cápsulas numa viagem que fez à Argentina: “Vi uma pulseira feita com o material e gostei”. De lá para cá, juntou, com a ajuda de amigos e parentes, várias embalagens pesquisou o material, comprou um equipamento de prensa e investiu na linha de acessórios em 2012. “É preciso cortar a parte de alumínio, lavar direito (a embalagem), tirar o pó, deixar secar, prensar… Mas o resultado vale a pena.” (PHL)