15/02/2006
09h26–O
tradicional cafezinho voltou a cair nas graças do consumidor brasileiro.
Resultado: o consumo retornou aos patamares anteriores à proliferação dos
refrigerantes e sucos no país.
No ano passado, cada brasileiro consumiu,
em média, 4,11 quilos de café moído e torrado, volume que não se registrava
desde 1965, quando o consumo estava em 4,7 quilos per capita.
O consumo
total de café no mercado interno foi de 15,5 milhões de sacas, 600 mil a mais do
que em 2004, segundo acompanhamento da Abic (Associação Brasileira da Indústria
de Café).
Animada com a expansão no setor, apesar da previsível elevação
dos preços ao consumidor, a associação prevê o consumo de 16,5 milhões de sacas
neste ano.
O Brasil está na contramão do mercado mundial. Enquanto o
consumo nacional de café cresceu à média anual de 4,4% nos últimos dez anos, não
passa de 1% no mercado internacional. Em 2005, conforme os mais recentes dados
da Organização Internacional do Café, o consumo mundial evoluiu apenas 0,69%.
Esse grande potencial do mercado interno tem despertado a atenção das
principais empresas mundiais do setor. Algumas, como a líder Sara Lee,
incorporaram empresas já existentes, enquanto outras, como a Lavazza, decidiram
montar um parque industrial por aqui. Esse mercado é tão atraente que a
centenária Lavazza está prestes a construir o primeiro parque industrial fora da
Itália.
Mais qualidade
Nathan Herszkowicz, diretor-executivo
da Abic, diz que esse aumento no consumo de café no país tem vários motivos. O
principal, segundo ele, é o aumento da oferta de cafés diferenciados e de alta
qualidade.
Herszkowicz diz que essa expansão do consumo está sendo
conseguida aos poucos e teve início no final da década de 80, quando as próprias
indústrias se conscientizaram de que a qualidade do produto no país era ruim.
Naquele período, o consumo médio brasileiro vinha com queda constante, recuando
para até 2,27 quilos. Foi criado um selo que devolveu a qualidade ao produto.
A expansão do consumo se dá também fora do lar. Até então tradicional no
café da manha, o cafezinho começa a ser adotado em escritórios e em casas
especializadas, onde o consumo cresceu 29% no ano passado. Assim como as grandes
indústrias mundiais estão de olho no Brasil, as principais redes de café, como a
Starbucks, preparam a entrada no país.
Natal Martins, da área de
pesquisas da Abic, diz que o consumo deve continuar aquecido e que, em 2010, o
país deverá consumir 21 milhões de sacas. O faturamento do setor foi de R$ 4,7
bilhões em 2005 e está previsto em R$ 5,6 bilhões neste ano.
O
consumidor nacional deve se preparar, no entanto, para novos aumentos de preço.
Atualmente em R$ 9 por quilo, o café torrado e moído tradicional teve aumento de
18% no ano passado. Faltam, ainda, ser incorporados de 10% a 15% correspondente
à elevação da matéria-prima, segundo Herszkowicz.
A atração das
multinacionais pelo mercado interno provoca forte concentração da produção nas
mãos de poucas empresas. O setor tem 1.180 empresas, mas 40% da produção está
concentrada nas cinco maiores. Há um ano, esse percentual era de 33%.
A
melhora da qualidade do produto brasileiro tem permitido o avanço das
exportações de café torrado e moído, que cresceu 99% no ano passado. Apesar
desse forte crescimento, as receitas ainda são de apenas US$ 17 milhões. A
Alemanha, sem produzir um só pé de café, exporta o correspondente a US$ 280
milhões por ano.