Publicação: 25/07/07
Café supera previsões
Crescimento médio no planeta é de 1,5% ao ano, enquanto a média anual brasileira é de 5,8%, ou quatro vezes mais
Tomas Okuda Da agência estado
A indústria de café do Brasil encerrou junho passado com venda de pouco mais de 17 milhões de sacas nos últimos 12 meses. O resultado antecipa as expectativas iniciais de 17,4 milhões de sacas, que deveriam ser atingidas apenas em outubro de 2007, conforme informações do diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz. O consumo de café no Brasil tem crescido em ritmo mais acelerado do que no resto do mundo. O crescimento médio no planeta é de 1,5% ao ano, enquanto a média anual brasileira é de 5,8%, ou 4 vezes mais.
Nathan observa que um dos motivos do aumento do consumo é a consolidação do mercado de cafés tipo gourmet ou especiais. Segundo ele, pesquisa quinzenal da Abic mostra que o espaço dedicado a esse segmento (gourmet e superior) nas redes de supermercados cresceu de 17% em janeiro para 24% em 10 de julho passado.
O produto tradicional ainda é predominante nas gôndolas, mas reduziu participação no período de 83% para 76%. “A demanda do consumidor leva o supermercado a ampliar a oferta de café de qualidade nas prateleiras”, diz Nathan.
O diretor-executivo da Abic informa que no fim de 2006 havia previsão de aumento de cerca de 25% nos preços do café no varejo. A projeção, no entanto, não se confirmou porque as cotações do café começaram a recuar a partir de março. Em março, o quilo do café tradicional era cotado em média a R$ 10,30. No início de julho, o mesmo produto valia R$ 9,90.
Mesmo assim, os preços acumulam, em média, aumento de 15% desde o início do ano, acompanhando as cotações da matéria-prima no mercado internacional. “Mas não prevemos novos reajustes de preço, pelo menos até setembro”, avalia Nathan. A partir de outubro, a indústria torrefadora vai analisar o comportamento do mercado.
Conforme avaliação da Área de Pesquisa da Abic, existem incertezas com relação a disponibilidade de café no fim do ano e início de 2008, antes do início da colheita da safra, que começa entre abril e maio. A Abic considera que os baixos estoques privados brasileiros (17 milhões de sacas em abril) e a pequena safra deste ano (32 milhões de sacas) podem significar que a disponibilidade do grão não será suficiente para a demanda interna e externa.
A Abic considera que a deterioração da qualidade, em parte das marcas de café, é uma ameaça ao aumento do consumo. Nesse sentido, a entidade tem monitorado a qualidade por meio do Selo de Pureza e do Programa de Qualidade do Café (PQC). Também está em operação o Programa Nível Mínimo de Qualidade (NMQ), cujo objetivo é verificar a qualidade dos cafés fornecidos em concorrências e licitações, além das marcas próprias do varejo e de cestas básicas.
Nathan afirma, ainda, que o café conillon (robusta) tem sido cada vez mais utilizado na composição dos blends das indústrias, “mas não há risco de prejudicar a qualidade, justamente por causa dos programas de monitoramento da Abic”, explica. Ele acrescenta que o café conillon já representa entre 35% e 40% do volume consumido pela indústria, de um total de 17 milhões de sacas.
Segundo Nathan, a tendência é o cafeicultor investir no produto, embora existam fatores limitantes, como falta de áreas de plantio. “O conillon tem garantido melhor remuneração ao produtor em comparação com o café arábica”, diz. Além do custo de produção mais baixo, a produtividade do conillon é maior: 40 sacas/hectare em comparação com 20/sacas/hectare do arábica.
O diretor-executivo da Abic afirma que o setor está bem posicionado e apto a receber investimento do exterior, assim como já ocorre com o segmento de açúcar e carnes. “O volume de vendas da indústria de café é de cerca de R$ 6,5 bilhões/ano e acredito que seja suficientemente grande para atrair interesse de investidores”, diz. Segundo Nathan, a indústria nacional está amadurecida e o próprio mercado evoluiu, com a chegada de importantes players, como a Starbucks.
Ele comentou, ainda, que o setor passa por processo de concentração, o que pode ser uma tendência em direção ao mercado aberto. Em 2005/2006, as 5 maiores do setor participavam com 34,46% do mercado. Esse índice subiu para 37,02% em 2006/07. No mesmo período, a participação das 20 maiores do País passou de 48,74% para 50,35%. Das 20 principais indústrias brasileiras, com exceção das multinacionais, “todas têm condições de entrar em processo de fusão ou de capitalização por terceiros”, avalia Nathan.
A Abic pretende estimular a demanda por cafés ditos sustentáveis. No dia 1º de outubro, será lançado oficialmente os cafés sustentáveis com base no Código Comum da Comunidade Cafeeira (4Cs). O produto é uma iniciativa das indústrias multinacionais e dos governos da Alemanha e da Suíça. Inicialmente, estima-se que a demanda pelo produto seja da ordem de 2,8 milhões de sacas, mas não está previsto um bônus aos cafeicultores que aderirem à iniciativa. Além da certificação do produto quanto aos aspectos ambientais e econômicos, os cafés 4Cs prevêem ausência de trabalho infantil nas fazendas e condições dignas aos trabalhadores. Inicialmente, no Brasil, as cooperativas de Franca (Cocapec) e de Guaxupé (Cooxupé) vão desenvolver produção com base nas regras do 4Cs.