Consórcio Pesquisa Café desenvolve tecnologias para café conilon na Bahia

10 de setembro de 2014 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

Nas últimas três décadas, a Bahia tem contribuído para que o Brasil mantenha a posição de maior produtor e exportador, além de segundo maior consumidor de café em nível mundial. O Estado, nos últimos anos, não só agregou o café à sua produção agrícola, como também se tornou uma das grandes regiões produtoras de café arábica e conilon. Essa conquista é resultado da articulação da pesquisa, ensino, extensão rural e do setor produtivo, fortalecida pelo Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, e também resultado dos estudos do Instituto de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper e da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, instituições participantes do Consórcio. Unidas, essas instituições consorciadas vêm obtendo resultados positivos nos índices de produção, produtividade e melhoria da qualidade da cafeicultura baiana.


Como reflexo desse esforço conjunto de ensino, pesquisa e extensão, a Bahia, que tradicionalmente tem produção expressiva de café arábica, vem se tornando, nos últimos anos, também grande produtora de café conilon. Segundo a Conab (Jan/2014), o Estado produziu 1,8 milhão de sacas em 2013 (sendo 1,07 milhão de sacas de arábica e 723,4 mil sacas de conilon). A previsão de produção de conilon para a safra deste ano (Conab, Maio/2014) é de 769,5 mil sacas. Ainda de acordo com a Conab, a produção de conilon na Bahia concentra-se predominantemente na região Atlântica, localizada no extremo sul do estado e composta pelos municípios que se situam em torno de Eunápolis, Porto Seguro, Itabela, Alcobaça e Teixeira de Freitas.


O Estado do Espírito Santo, maior produtor de conilon do País, atingiu, em 2013, o volume de 11,6 milhões de sacas (8,2 milhões de sacas de conilon e 3,4 milhões arábica), enquanto Rondônia, segundo maior produtor de conilon do Brasil, atingiu produção de 1,3 milhão de sacas, todas de café conilon.


Atraídos pela terra fértil e pelo clima favorável, agricultores capixabas têm migrado do Espírito Santo para a Bahia, de acordo com o pesquisador da Embrapa Café no Incaper Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, em função de certas similaridades climáticas entre as duas regiões, e muitas das tecnologias desenvolvidas pelo Incaper para o Espírito Santo podem ser empregadas na região Atlântica e no extremo Sul da Bahia.


As cultivares ‘Emcapa 8141-Robustão Capixaba’ e ‘Vitória Incaper 8142´, desenvolvidas pelo Incaper, são as mais cultivadas na região Atlântica da Bahia hoje. De acordo com Aymbiré, tais cultivares apresentam, além de elevado potencial produtivo, maturação uniforme dos grãos dos clones que as compõem, diferentes épocas de maturação e colheita, grãos maiores, boa performance em plantios de sequeiro e porte adequado ao cultivo semi-adensado.


Conheça mais sobre essas cultivares:


Emcapa 8141 – Robustão Capixaba: cultivar clonal tolerante à seca, formada pelo agrupamento de 10 clones tolerantes à seca, compatíveis entre si, lançada e recomendada em 1999. Os clones componentes dessa cultivar se destacaram em condições de estresse hídrico, em produtividade, com média de 54 sc/ha, e parâmetros fisiológicos considerados. Caracteriza-se também como cultivar responsiva à suplementação de água, alcançando nessas condições, produtividade média de até 112,5 sacas beneficiadas por hectare nas quatro primeiras colheitas.


Vitória Incaper 8142: cultivar clonal desenvolvida pelo Incaper formada pelo agrupamento de 13 clones superiores compatíveis entre si, lançada e recomendada em 2004. Possui produtividade média de 70,4 sc/ha, tolerância à seca, grãos grandes, elevada adaptabilidade e estabilidade de produção.


Outras tecnologias utilizadas na região – Em 29 anos de pesquisa com café conilon no Incaper, foram desenvolvidos diferentes conhecimentos básicos, produtos, processos e tecnologias que têm sido bastante utilizadas pelos cafeicultores do Espírito Santo e que potencialmente podem ser utilizadas na Bahia. Exemplo disso, além das cultivares mencionadas e de outras melhoradas, pode-se citar outras tecnologias como o aprimoramento das técnicas de produção de mudas clonais de qualidade superior; fisiologia vegetal; estabelecimento e recomendações de espaçamentos e densidade de plantio; poda programada de ciclo; plantio em linhas; ajustes na recomendação de nutrição; tecnologias associadas à melhoria da qualidade final do produto (bebida café); manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas; práticas de conservação de solo; manejo de irrigação e tecnologias de colheita e pós-colheita, como secagem, beneficiamento e armazenamento.


Poda Programada do conilon – A tecnologia da poda é adotada pela maioria dos produtores do Espírito Santo e chegou mais recentemente em Rondônia, na Bahia e demais estados produtores. A prática revigora as lavouras de conilon, favorece a longevidade do cafezal e aumenta a produtividade, além de reduzir a mão-de-obra nas práticas de adubação, podas e de manejo, de forma geral. A técnica consiste na eliminação das hastes verticais e dos ramos horizontais improdutivos para que no lugar deles nasçam outros mais novos e com potencial produtivo renovado. Nesse processo, os ramos estiolados, de baixo vigor, e o excesso de brotações, também são eliminados.


Entre os benefícios da tecnologia da poda, segundo o pesquisador do Incaper Romário Gava Ferrão, encontram-se: “redução média de 32% de mão-de-obra (evidenciado em um período de dez safras consecutivas); facilidade de entendimento e execução; padronização do manejo da poda; maior facilidade para realização da desbrota e dos tratos culturais; maior uniformidade das floradas e da maturação dos frutos; melhoria do manejo de pragas e doenças; aumento superior a 20% da produtividade média da lavoura; maior estabilidade de produção por ciclo e melhor qualidade final do produto, tornando inclusive as plantas mais tolerantes à seca e com melhores condições para o monitoramento e o manejo de pragas e doenças”.


Recomendações do Incaper para colheita e preparo do conilon – A colheita bem feita é essencial para produzir café de qualidade. Antes de iniciá-la, o produtor deve se estruturar, efetuando a compra de peneiras, lonas, sacarias, e fazer as limpezas e reparos de terreiros, máquinas e armazéns. A colheita deve iniciar quando mais de 80% do café já estiver maduro, com os frutos de coloração cereja. O café deve ser derriçado em peneiras ou lonas, nunca diretamente no chão, e, em seguida, ainda no campo, deve-se retirar as impurezas grosseiras, como paus e folhas. Para uma colheita bem feita, não devem ficar frutos na planta ou no chão. Falhas como essa promovem aumento da incidência da broca-do-café na safra seguinte.


O transporte do café colhido para o terreiro ou secadores deve ser feito diariamente para evitar fermentações. Recomenda-se o uso de lavadores ou separadores para a eliminação de impurezas e separação entre frutos secos, verdes e cerejas. Para a produção de cereja descascado, os frutos verdes e cerejas devem passar pelo descascador, separando frutos verdes e retirando a casca dos maduros, no mesmo dia da colheita.

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