Consórcio Pesquisa Café contribui para sustentabilidade da agricultura familiar

30/05/2012 
  
Com as tecnologias geradas pelo Consórcio Pesquisa Café os pequenos produtores vivem uma nova realidade e estão deixando para traz aquela imagem do pequeno produtor atrelado a técnicas ultrapassadas. O acesso ao conhecimento e às tecnologias adequadas à pequena propriedade levou a cafeicultura familiar a um novo patamar. Hoje, o café desses produtores não só gera renda familiar como, principalmente, tem qualidade reconhecida.


Segundo o Censo Agropecuário 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 285 mil estabelecimentos rurais de café. A grande maioria das propriedades cafeeiras é formada por famílias de pequenos produtores. O Simpósio de Cafeicultura Familiar, realizado em 2009 pela Prefeitura Municipal de Poços de Caldas (MG), destacou ainda que 70% delas têm menos de 20 hectares.


O Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café, unidade da Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), desenvolve tecnologias que, quando adotadas pela cafeicultura familiar, torna a produção competitiva, rentável e sustentável. “Todas as pesquisas do Consórcio atendem o pequeno produtor e com treinamento e transferência de tecnologia adequada à propriedade, o produtor fica preparado para produzir da melhor forma possível”, diz Antonio Fernando Guerra, gerente adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Café.


A cafeicultura familiar vem ganhando qualidade com as pesquisas das instituições consorciadas nas diferentes regiões produtoras do país. O pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Juarez de Sousa e Silva, atua em pesquisas voltadas para a criação de alternativas para a agricultura familiar. Em parceria com os pesquisadores Roberto Precci Lopes, Sérgio Maurício Lopes Donzeles e Carlos André da Costa, Juarez lançou o livro “Infraestrutura mínima para produção de café com qualidade”, com apoio do Consórcio Pesquisa Café. Um manual para qualquer pequeno cafeicultor que deseja otimizar sua produção e obter um produto final de qualidade.


A publicação traz opções de máquinas de baixo custo e tecnologias para as etapas de pós-colheita especialmente pensadas para a cafeicultura familiar. Técnicas para as etapas de abanação, lavagem, separação, secagem e armazenamento dos grãos processados estão sendo transferidas a pequenos cafeicultores na Zona da Mata mineira e no Espírito Santo.


O mesmo caminho está sendo feito pela pesquisa da Embrapa Cerrados sobre o Estresse Hídrico Controlado, liderada por Antonio Guerra. Tecnologia que também está beneficiando pequenos produtores no Espírito Santo e na Bahia. Essa técnica pode ser adotada em qualquer propriedade e não tem custo alto, pois os sistemas de irrigação já são normalmente instalados. A tecnologia permite a uniformização da florada com base no controle da irrigação, para otimizar a colheita e melhorar a qualidade dos grãos.


A pesquisa que desenvolveu o Sistema para Limpeza de Águas Residuárias (Slar), com participação do pesquisador Sammy Fernandes, da Embrapa Café, em parceria com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), projetou um equipamento passível de ser construído pelo próprio produtor. O aparelho consiste num sistema de caixas de decantação interligadas e de peneiras estrategicamente posicionadas que permite o reaproveitamento da água utilizada no processamento dos grãos em lavagens futuras. A tecnologia pode gerar uma economia de até 90% de água na etapa do processamento via úmida dos frutos.


Em relação à agroecologia, o cafeicultor familiar pode se beneficiar com a tecnologia do “Manejo de plantas daninhas usando leguminosas herbáceas consorciadas com café”. A pesquisa realizada pelo pesquisador da Embrapa Café, Julio Cesar Freitas Santo, com a parceria da UFV, avaliou as influências das leguminosas lablabe, sirato, híbrido de Java e amendoim forrageiro na redução das plantas daninhas que podem ser prejudiciais aos cafezais. Segundo Julio, “essa tecnologia é de baixo custo e pode ser adotada em qualquer tipo de propriedade cafeeira”. A prática está de acordo com os sistemas de produção de cafés de base ecológica, certificados e especiais, contribui para agricultura de baixo carbono e promove a sustentabilidade da cafeicultura, com redução do uso de herbicidas, capinas e custos.


No Paraná, onde a cafeicultura é formada praticamente de pequenas propriedades, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) desenvolve continuamente o projeto de pesquisa “Café Adensado”, que recebeu apoio do Consórcio. A tecnologia consolidada entre os cafeicultores do estado depende essencialmente da mão-de-obra familiar na produção, principalmente na colheita. Ela consiste em aumentar a quantidade de plantas na mesma área cultivada.


Mais próximas, as plantas otimizam o espaço e aumentam a produtividade, mas é preciso um manejo adequado até a colheita para manter a área limpa, produtiva e livre de pragas e doenças. O coordenador do programa de café do Iapar, Marcos Antonio Pavan, explica que é feito um estudo constante sobre o adensamento para orientar da melhor forma os cafeicultores. “Se o espaço fechar muito, é preciso fazer podas nos ramos laterais. O produtor também deve preparar um estoque que supra suas necessidades, pois não há colheita no ano seguinte a poda. Em contrapartida, o uso da técnica de poda, elimina a broca do cafeeiro da lavoura”.


“A agricultura familiar no café é extremamente representativa”, destaca Antonio Guerra, e os investimentos em tecnologias nesse segmento implicam melhorias sociais na vida do pequeno produtor como: geração de emprego e renda, fixação do homem no meio rural e mais qualidade de vida no campo. Guerra lembra que praticamente todas as tecnologias do Consórcio Pesquisa Café podem ser adaptadas à cafeicultura familiar, sendo a transferência de tecnologia fundamental para isso. As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com o apoio financeiro do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé/MAPA). 

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