18/11/2014
No século XIX, o Rio de Janeiro foi importante estado produtor de café no Brasil, chegando a representar cerca de 60% da produção nacional. Neste ano de 2014, o estado produzirá, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento – Conab (set/2014), 292,4 mil sacas de 60 kg de café com produtividade de 22,87 sacas por hectare. No entanto, estima-se que o Rio de Janeiro é o terceiro maior consumidor de café verde do País com de 1,7 milhões de sacas de 60 kg, atrás dos estados de São Paulo (4,6 milhões) e de Minas Gerais (2,2 milhões), considerando a estimativa populacional de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e o consumo de café apurado pela Associação Brasileira da Indústria do Café – Abic.
Pesagro-Rio – Pesquisa da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro – Pesagro-Rio desenvolvida no âmbito do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, com financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, apresenta resultados animadores com relação ao aumento da produção, produtividade e melhoria da qualidade do café. O projeto “Aprimoramento do cultivo do café no Noroeste Fluminense” avalia o comportamento do adensamento da cultura, da resposta de cultivares de café à ferrugem na região, bem como a qualidade do café produzido e a favorabilidade das terras do Noroeste Fluminense à cafeicultura, para definição de áreas propícias para cultivo sustentável.
Essas pesquisas indicam que a produção pode ser incrementada a médio prazo, bastando, para tanto, recuperar lavouras viáveis e investir em novas áreas com plantio adensado e produção voltada para a qualidade do produto. O uso de cultivares resistentes à ferrugem é também considerado importante, bem como a identificação de áreas de cultivo mais favoráveis à cultura. “Como resultados, são esperados o aumento da produtividade com redução dos custos de produção e melhoria da qualidade do café e geração de renda; estímulo a pequenos e médios produtores para formação de lavouras com espaçamentos adequados, conservação de solos e do meio ambiente e, futuramente, capacitações em gestão empresarial, mercado, comercialização e marketing”, adianta o pesquisador da Pesagro Wander Eustáquio de Bastos Andrade.
Embrapa Café – Para o gerente geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo, o Rio de Janeiro tem plenas condições para expandir a produção cafeeira com melhoria da qualidade do produto para atender a expressiva demanda do estado e ainda os mais exigentes mercados consumidores do Brasil e do exterior. “O esforço da equipe da Pesagro-Rio envolvida nos estudos e do Consórcio Pesquisa Café está centrado nessa expectativa positiva. Bons frutos em médio prazo virão”. O projeto envolve, além da Pesagro-Rio, a Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF e a Embrapa Agrobiologia e conta com a participação de técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro – Emater-Rio, finaliza Bartholo.
Café adensado – É considerado a principal alternativa tecnológica para a modernização e o incremento produtivo da cafeicultura fluminense, pois além de intensificar a utilização em áreas montanhosas, característica topográfica do estado, é de interesse para pequenas propriedades que utilizam intensamente a mão de obra familiar. A tecnologia também ajuda a reduzir custos e a aproveitar racionalmente as áreas de cultivo em curto prazo. Os resultados da pesquisa no sistema de plantio adensado têm demonstrado que é possível obter alta produtividade por área no cafeeiro arábica, além de redução do custo de produção e retorno de curto prazo do investimento na implantação do cafezal.
Entretanto, resultados de pesquisas em longo prazo obtidos na região Noroeste, considerando a produção acumulada em 10 anos, mostraram que é necessário certo limite, já que o superadensamento não é favorável à produtividade do café. Esse experimento foi instalado em 2002 em um Latossolo Vermelho-Amarelo da Fazenda Candelária, região Noroeste Fluminense.
“De fato, a principal vantagem da técnica de adensamento é obtenção de altas produções de café em curto prazo. No entanto, esse aumento de produtividade tende a cair à medida que o cafeeiro se desenvolve e aumenta a competição entre as plantas, sendo necessário, a partir daí, o uso da poda, o que pode anular os ganhos iniciais de produção obtidos com os espaçamentos mais adensados. Essa evidência sinaliza para a necessidade de prever bom manejo de podas para cafeeiros adensados. Já estamos trabalhando nesse sentido”, pondera o pesquisador.
Também são elencadas como vantagens do adensamento: melhoria das propriedades químicas e físicas do solo em função do maior número de queda de folhas e ramos e menor escorrimento de água devido à concentração de matéria orgânica; melhor aproveitamento desses nutrientes graças à manutenção da umidade nas camadas superficiais pelo sombreamento e melhor distribuição do sistema radicular; menor gasto no controle de plantas daninhas pelo sombreamento da área e melhor proteção do solo em áreas declivosas, diminuindo processos erosivos.
Para saber mais sobre essas pesquisas, leia artigo da revista do Consórcio Pesquisa Café, Coffee Science, “Produtividade do cafeeiro arábica e condições de adensamento no noroeste Fluminense”.
Em busca de mais qualidade – Assim, a retomada da cafeicultura no Noroeste Fluminense tem incluído, em suas metas, a obtenção de cafés de qualidade para dar sustentabilidade à atividade, especialmente dos pequenos produtores. Como parte do projeto, foram coletadas amostras de café de alguns produtores de Porciúncula na safra 2013/2013 para caracterização da qualidade final de seu produto quanto ao tipo e bebida. Em 2013/2014 continuou-se o trabalho com a coleta de amostras do mesmo local (análises em andamento). Com base em análises anteriores (2013), verificou-se que, em termos de qualidade de bebida, algumas amostras se destacaram, com bebida mole (1 amostra), apenas mole (2 amostras) e bebida dura (4 amostras), de um total de 17 amostras. As análises iniciais permitiram verificar que a melhor qualidade da bebida foi obtida nos cafés cereja descascado independentemente dos produtores. Isso é indicativo de que os descascadores e secadores instalados na região (em Porciúncula e Varre Sai) têm grande importância na melhoria da qualidade. Por outro lado, seguindo o mesmo raciocínio, as piores amostras em termos de bebida referem-se, de modo geral, a café colhido em terra (café de varrição). Acredita-se que, com a adoção de técnicas adequadas de colheita e de preparo dos grãos, envolvendo o uso de secadores e mesmo a prática do despolpamento, a qualidade dos cafés da região vai melhorar.
Zoneamento por Análise Multicriterial – O zoneamento do café no estado será novamente objeto de estudo. Há alguns anos, o Consórcio Pesquisa Café financiou pesquisas da Pesagro-Rio sobre zoneamento climático que inclusive embasam o projeto em curso. Mas agora a ferramenta estatística é a análise Multicriterial. Essa análise se resume ao estudo da interação do sistema de produção identificado pelas variáveis: homem, solo e planta, com os sistemas econômicos e sociais, tornando-se instrumento fundamental de planejamento e desenvolvimento em políticas públicas. O que se pretende é utilizar essa ferramenta para definição dos potenciais de terras do Estado do Rio de Janeiro para a cultura do café, para fins de planejamento rural.
Ferrugem do cafeeiro – É uma das principais doenças da cultura, causando grandes prejuízos nas regiões produtoras, principalmente onde as condições climáticas favorecem o desenvolvimento da doença. A utilização de cultivares resistentes é a alternativa mais econômica para o produtor viabilizar o controle da doença, possibilitando, principalmente, a redução da necessidade de produtos agroquímicos, o que implica economia de custos e preservação ambiental. Além disso, em um parque cafeeiro como o do Estado do Rio de Janeiro formado, em sua maioria, por lavouras adultas e velhas, a renovação das lavouras com cultivares melhoradas e adaptadas às condições de solo e clima locais repercutirá na produtividade e qualidade do produto.
Irrigação por gotejamento – Realizada com café conilon, no Norte Fluminense, obteve resultados positivos de produtividade devido à disponibilização tecnológica e às mudanças climáticas ocorridas. Segundo resultados obtidos em Campos dos Goytacazes, foi observado maior número de grãos por roseta e, consequentemente, maior número de grãos por ramo produtivo. Os estudos com irrigação no café conilon no Norte Fluminense mostraram que a produtividade aumentou de 13 sacas de café beneficiado por hectare (sem irrigação) para 52 sacas de café beneficiado por hectare. Saiba mais na publicação “Irrigação por gotejamento”.
É de certa forma consenso entre os pesquisadores que a irrigação garante mais segurança à atividade da produção agrícola e acréscimos na rentabilidade das lavouras. O uso da irrigação por gotejamento, por sua vez, constitui importante investimento que deve ser feito em conjunto com as outras técnicas indicadas para o manejo do café conilon. Além disso, um aspecto importante da adoção de sistemas como o gotejamento é a economia de água. Dessa maneira, a tecnologia “gota a gota” de aplicação de água e fertilizantes pode ser tecnologia ecologicamente correta e viável economicamente para os agricultores.
Segundo Wander Eustáquio, para o aumento da produtividade agrícola e da eficiência do uso da água, a técnica da irrigação por gotejamento, por si só, não garante esses benefícios imediatos para a cultura do cafeeiro. O manejo da irrigação, bem como as técnicas agrícolas, o controle da umidade do solo, da adubação, da salinidade, das doenças e insetos e a seleção de cultivares podem proporcionar efeitos significativos na produção por área e por água consumida e na qualidade do produto final. “O custo inicial pode ser mais elevado em relação a outros métodos de irrigação; no entanto, a melhor eficiência no uso da água e na aplicação de fertilizantes, em conjunto com a economia no uso da mão de obra, representam vantagens econômicas relevantes em médio prazo, o que tornam a irrigação por gotejamento vantajosa para o produtor rural”.
Zoneamento climático – O conhecimento das limitações edafoclimáticas auxilia os produtores na tomada de decisão quanto à utilização de novas áreas ou introdução de variedade mais adaptável à região. A Pesagro-Rio, Embrapa e parceiros realizaram Zoneamento Agroclimático para revitalização da cultura do café no estado e oferta de informações técnicas ao setor produtivo.
Para o café arábica, com esse estudo – uma espécie de mapa de aptidão climática para a cafeicultura do estado – verificou-se que existem 42% de áreas aptas, 5% aptas irrigadas e 53% de áreas inaptas. Para o café robusta, foram mapeados cerca de 38% de áreas aptas, 26% de áreas aptas irrigadas e 36% de áreas inaptas.
Foram considerados aptas, para o café arábica (Coffea arabica L), as regiões concentradas principalmente em áreas entre 500 e 900 metros de altitude (Noroeste e Serrana) e as áreas localizadas na região Noroeste, onde se recomenda a irrigação como operação complementar, mas não obrigatória, devido ao déficit hídrico menor que 150 mm anuais. Para o café robusta (Coffea canephora Pierre), são aptas as regiões situadas em áreas abaixo de 500m de altitude nas regiões Norte, Noroeste e das Baixadas Litorâneas. Nessas situações, recomenda-se a irrigação, devido ao déficit hídrico maior que 150 mm anuais. Saiba mais no documento “Zoneamento climático para a cultura de café no Rio de Janeiro”.
Fonte: Embrapa Café