Grupos de private equity também estariam interessados na compra da companhia norte-americana e poderiam se unir à empresa brasileira
11 de janeiro de 2011
Roberto Samora, da Reuters
SÃO PAULO – A formação de um consórcio com grupos de private equity está entre as alternativas que a brasileira JBS estuda para negociar a compra da norte-americana Sara Lee, com valor estimado em US$ 11 bilhões, disse à Reuters nesta terça-feira uma fonte próxima da negociação.
Ao comentar como a JBS financiaria uma transação dessa magnitude, a fonte afirmou que ainda é prematuro para se ter tal resposta, mas destacou que a entrada de parceiros no processo para a aquisição poderia interferir diretamente no montante de recursos que a JBS precisaria levantar.
\”É muito cedo para dar qualquer ideia, depende do negócio que for montado, do percentual que for adquirido, se é oferta plena, se é oferta parcial, se vai ter algum outro sócio. Existem várias alternativas\”, declarou a fonte, que pediu para não ser identificada.
Notícias de que a JBS, maior companhia de proteína animal do mundo, tem interesse na Sara Lee, que possui algumas das marcas mais conhecidas no varejo norte-americano, surgiram no final do ano passado.
Nesta semana veio à tona a informação de que grupos de private equity também querem comprar a companhia norte-americana, que atua em diversos países e é uma das líderes no varejo de café torrado e moído no Brasil, com as marcas Café do Ponto e Café Pilão.
Questionada sobre a possibilidade de a JBS integrar um consórcio para compra da Sara Lee, a fonte respondeu: \”Isso pode ser uma alternativa, evidentemente que eles (grupos de private equity) têm nos procurado, mas não há nem preferências nem compromissos firmados\”.
Ainda de acordo com a fonte, a JBS –que não tem comentado oficialmente o assunto– pode divulgar novidades sobre a negociação nos próximos dias, uma vez que os executivos que estiveram nos Estados Unidos para discutir temas ligados à Sara Lee, entre outros assuntos, estão retornando ao Brasil a partir de quarta-feira.
A assessoria de imprensa da JBS não quis comentar a informação.
O interesse da JBS está nos negócios de carnes e também de café da Sara Lee, revelou a fonte, lembrando que as marcas e a estrutura de distribuição da norte-americana também se encaixariam perfeitamente na estratégica do grupo brasileiro.
\”O que eles estão centrados hoje é carnes e alimentos processados e café. São dois segmentos… Carnes nos interessa, e café é a oportunidade de uma empresa brasileira ter uma posição importante em café, que nunca tivemos\”, disse a fonte.
O Brasil é o maior produtor e exportador de café, mas suas exportações são em sua maioria de café verde, de menor valor agregado.
A fonte salientou que, do ponto de vista estratégico, a Sara Lee pode ajudar a JBS a dar passos mais largos em áreas que têm sido bastante trabalhadas pela companhia atualmente: marketing, para agregar valor aos produtos, e logística, para melhorar as margens do negócio.
Empecilhos
Além do valor da Sara Lee, considerado muito alto pela JBS no fim de 2010, há outras questões que dificultam o negócio, disse a fonte.
\”Quando há um, dois ou três interessados efetivamente, e que têm cacife pra fazer um negócio deste tamanho, aparecem três, quatro, cinco ou 10 (interessados), a pedido de acionistas, geralmente os diretores que receberam ações como bônus, para aumentar o preço da ação.\”
A JBS, em sua proposta para a Sara Lee, trabalha com um múltiplo da geração de caixa medido pelo Ebitda. \”Se vai além desse múltiplo, começa a ficar esquisito, o banco não vai te emprestar dinheiro para pagar um absurdo. O mercado define os parâmetros salutares para uma aquisição\”, comentou a fonte.
Questões tributárias, que eventualmente poderiam interferir no interesse de venda da Sara Lee –se ela for vendida inteira ou em fatias–, também estão sendo consideradas, mas a fonte não tinha detalhes sobre esse assunto.
Apenas lembrou que esse tema pode não ser fundamental, pois algumas divisões da Sara Lee já vinham sendo vendidas, como a área de panificação da América do Norte, vendida para a mexicana Bimbo em novembro.
\”A Sara Lee hoje é a metade do que era antigamente. A Sara Lee não é mais aquela que vendia até cuecas, calcinhas. A Sara Lee tem um departamento de alimentos processados, sobretudo carnes, e o departamento do café… Isso é a Sara Lee que está sendo (negociada). As outras empresas eles ou venderam ou estão em processo de vender.\”
Por volta das 17h45 (horário de Brasília), as ações da JBS reduziam a alta para 0,8%, cotadas a R$ 7,06, enquanto o Ibovespa tinha valorização de 0,4%. Em Nova York, as ações da Sara Lee reduziam queda para 0,2%, a US$ 18,16. Quando a Reuters divulgou a informação, elas cediam 1,5%.
(Com reportagem adicional de Guillermo Parra-Bernal)
(Edição de Aluísio Alves)