Quando tudo apontava para uma maior valorização do dólar americano, em função da desconfiança grande com a crise de débito soberano na Europa, o presidente do Banco Central Europeu apareceu defendendo a moeda e a região, e com uma rodada de compras de títulos e a promessa de estender as atuais medidas de liquidez, tirou o Euro das mínimas e provocou uma forte alta.
Para tirar um pouco mais do brilho do dólar, o número de criação de postos de trabalhos nos Estados Unidos veio abaixo do esperado, e o índice de desemprego subiu para 9.8% ante os 9.6%. Os mercados de moedas tiveram uma volatilidade insana, tanto que a índice do dólar começou a semana negociando a 81.444 e encerrou a 79.15, quase 3% de oscilação!!
Quem imaginava uma fuga do risco, viu na verdade o contrário. Os índices de ações americanos voltaram para níveis próximos da máxima no ano, assim como os índices de commodities. Dos componentes do CRB, apenas o gás natural e o contrato de suíno tiveram leve queda, todo o resto subiu.
O café em Nova Iorque teve uma modesta performance, mas dado que estava próximo do precipício (por causa da formação técnica negativa), a semana não foi nada mal. O robusta em Londres também teve uma bela reação, principalmente o contrato de janeiro que em apenas um dia eliminou todo o desconto contra o Março e fechou com um prêmio sobre os demais contratos – algum “squeeze” a vista?
O fato é que com o final do ano calendário, muitos participantes diminuem a velocidade dos negócios tentando não alterar muito o resultado do período. Os que estão ganhando dinheiro não querem ter sustos, e os que estão perdendo não querem criar mais marolas para que a água não entre no nariz.
O mercado físico deu uma ajuda para que os preços da bolsa não caíssem. As chuvas na Colômbia e parte da América Central causaram uma diminuição no ritmo da colheita, e no caso do primeiro comprometeu infra-estrutura para o transporte do produto. Demanda para o Robusta melhorou com as baixas recentes do mercado, enquanto no Brasil o arábica tem diferenciais bem distintos entre o fine cup e o good cup.
Duas notícias interessantes circularam na semana. A primeira veio do presidente colombiano dizendo que a safra atual do país é de 9 milhões de sacas (em linha com o mercado), e o prognóstico de que a produção será de 14 milhões de sacas em 2014, e de 18 milhões de sacas em 2020. A outra veio do Brasil onde diz-se que não há mais mudas de café disponíveis nos viveiros em Minas Gerais. Ambas as “novidades” dão uma idéia se os preços atuais do café são atrativos ou não. Há ainda um dado interessante que foi o crescimento no Brasil de 11% da produção de fertilizantes, e da importação de fertilizantes intermediários que aumentou 36.8% nos 10 primeiros anos de 2010 – claro que o aumento do uso de fertilizantes não se dá apenas para a cultura do café – mas sem dúvida deve melhorar a produtividade.
Bem, com o fim do ano próximo, outra preocupação dos agentes do mercado é com impacto do ajuste da posição dos chamados fundos de índice (index funds) que acontece no começo do ano. Segundo estudos de dois grandes bancos, dada a valorização do café no ano, os fundos do SPGSCSI e do DJUBS (que juntos correspondem a 85% do estimado US$ 145 bilhões investido na categoria) venderão entre 8 e 9.5 mil lotes. Isto não necessariamente significa que a mesa-proprietária destes fundos não antecipem ou posterguem o ajuste, e tampouco sabemos se haverá resgate ou novos investimentos neste tipo de fundos, mas ao menos serve para não sermos pegos desprevenidos caso uma eventual realização ocorra. Muitos bancos continuam sugerindo aos seus clientes para apostar nas altas das commodities, em especial as agrícolas.
O café encontrou suporte por parte de torradores e está consolidando acima de US$ 200.00 centavos, mas ao mesmo tempo não passa tanta segurança de que o nível não possa ser rompido, o que causaria uma onda forte de vendas. A volatilidade implícita teve uma queda de 2% em uma semana, sinal de que as apostas de de uma maior oscilação diminuíram. Mas não custa mencionar que as restrições ao momento de fixação de alguns dealers conotam a incerteza de antever o movimento do médio-prazo.
Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting