Não concordamos com a imputação ao custo de produção de alguns itens que acreditamos distorcer o custo informado, por saca
Me dedico ao estudo do custo de produção do café com as planilhas elaboradas pela Conab, Educampo e Agrianual. Não concordo com diversos itens imputados ao custo do café que vêm distorcer o custo aumentando-o. Ao custo do café somente devem ser imputados os gastos diretamente correlacionados.
Exemplo dessa discrepância é a atribuição aos custos a remuneração do capital, investimentos, fatores. Claro devem ser remunerados, mas não imputados ao custo de produção. Existem outras. Não atendem aos princípios contábeis geralmente aceitos nem avalia a viabilidade do negócio café.
Planilha de Custos
PLANILHA ORIGINAL SEM AJUSTES
Discriminação |
Custo Total |
Custo / há |
Custo Saca $ |
CUSTO OPERACIONAL EFETIVO – C.O.E. – 2.1 |
|||
Mão de Obra Administrativa – Fixa |
48.631,44 |
1.067,18 |
23,06 |
Educampo |
5.089,50 |
111,69 |
2,41 |
Adubação do Solo |
124.972,30 |
2.742,42 |
59,25 |
Adubação Foliar |
6.900,00 |
151,42 |
3,27 |
Controle de Pragas e Doenças |
51.083,00 |
1.120,98 |
24,22 |
Controle de Plantas Daninhas |
4.018,00 |
88,17 |
1,91 |
Tratos Culturais |
6.000,00 |
131,67 |
2,84 |
Colheita |
63.689,60 |
1.397,62 |
30,20 |
Pós Colheita |
35.592,15 |
781,04 |
16,88 |
Energia e Combustível |
18.553,00 |
407,13 |
8,60 |
Impostos e Taxas |
30.953,50 |
679,25 |
14,68 |
Reparos de Benfeitorias e Máquinas |
12.000,00 |
263,33 |
5,69 |
Outros Gastos |
1.000,00 |
21,94 |
0,47 |
TOTAL DO CUSTO OPERACIONAL EFETIVO – C.O.E. |
408.482,49 |
8.963,84 |
193,48 |
CUSTO OPERACIONAL TOTAL – C.O.T. – 2.2 |
|||
Mão de Obra Familiar |
36.000,00 |
789,99 |
17,07 |
DEPRECIAÇÃO: |
|||
Benfeitorias |
7.358,91 |
161,49 |
3,49 |
Máquinas |
20.731,40 |
454,94 |
9,83 |
Irrigação |
|||
Outros |
|||
Lavoura |
25.945,41 |
569,35 |
12,30 |
TOTAL DO CUSTO OPERACIONAL TOTAL – C.O.T. |
498.518,21 |
10.939,61 |
236,17 |
REMUNERAÇÃO DO CAPITAL – 2.3 |
|||
Benfeitorias |
4.415,35 |
96,89 |
2,09 |
Máquinas |
9.329,13 |
204,72 |
4,42 |
Irrigação |
|||
Outros |
|||
Lavoura |
9.340,35 |
204,97 |
4,43 |
TOTAL DA REMUNERAÇÃO DO CAPITAL |
23.084,83 |
506,58 |
10,94 |
TOTAL DO CUSTO DE PRODUÇÃO |
521.603,04 |
11.446,19 |
247,11 |
Fonte: Décimo Nono Seminário do Café da Região do Cerrado Mineiro (2011)
Verifica-se que ao Custo Operacional Efetivo – C.O.E., $408.482,49 acresce-se o montante da mão de obra familiar, $36.000,00 mais as depreciações e exaustão da lavoura no total de, $90.035,72, encontrando-se o Custo Operacional Total – C.O.T. de $498.518,21.
A esse total foram acrescidos os valores referentes a remuneração de fatores, $23.084,83, encontrando-se que o custo total de produção foi de $521.603,04.
Assim, com os dados informados o custo de produção de uma saca de café (2011) foi de $247,11. Atualizando-se esse valor com a variação do IPCA até maio de 2019 encontra-se o valor de $378,56 de custo por saca. Esse valor não difere tanto dos custos informados no mercado, embora saibamos que alguns itens variaram mais outros menos. Trata-se apenas de uma base para nossa argumentação.
Não concordamos com a imputação ao custo de produção de alguns itens que acreditamos distorcer o custo informado, por saca.
Expurgamos alguns itens ao passo que apresentamos as justificativas que consideramos pertinentes a tal procedimento.
Acreditamos que ao custo de produção apenas devam ser imputados gastos, custos e despesas, diretamente correlacionados com a produção. Registramos que por falta de informações poderemos cometer algumas impropriedades embora não anule totalmente nossas observações. Assim, questionamos a totalidade do valor referente a mão de obra administrativa fixa, no valor de $48.631,44, imputada ao custo de produção. O valor de $5.089,50 possivelmente referente a assessoria por parte da Educampo decididamente consideramos não fazer parte do custo de produção por trata-se de consultoria, assessoria que, mesmo contribuindo para o sucesso da produção, não faz parte do custo de produção, pois também atende a assessoria quanto a gestão conforme escopo da mesma. No tocante a impostos e taxas $30.953,50, embora não haja detalhes a que se refere, cremos tratar-se de valor referente a obrigações inerentes as receitas auferidas ou mesmo geração de lucro. Nesse caso, consideramos não fazer parte do custo de produção.
Verificamos o montante de $23.084,83 atribuído à remuneração do capital. Tratam-se das benfeitorias, máquinas, irrigação, outros e lavoura. São remunerações esperadas dos investimentos realizados sabe-se lá a que taxas de juros. Não se trata de desembolsos e sim remunerações esperadas, mas que imputadas ao custo de produção distorcem o cálculo elevando de forma artificial o custo. Claro que os investimentos realizados devem ser remunerados, mas não da forma proposta pela Educampo no custo de produção. Essa prática não encontra suporte nas práticas contábeis geralmente aceitas, bem como influencia a diminuição do lucro tributável.
Nesse caso, adiante transcrevemos a mesma planilha anteriormente informada com os expurgos dos itens que achamos pertinentes: mão de obra administrativa (atribuímos apenas 10% do total informado ao custo de produção), Educampo, impostos e taxas e remuneração do capital.
O custo de produção total, por saca, decresce de $247,11 para $198,32. Corrigindo-se esse valor pela variação do IPCA no período (2011 até maio de 2019) tem-se $303,80.
Elaboramos também a Demonstração de Resultado do Exercício – DRE com os dados das planilhas com e sem ajustes.
PLANILHA ORIGINAL COM AJUSTES
Discriminação |
Custo Total |
Custo / há |
Custo Saca $ |
CUSTO OPERACIONAL EFETIVO – C.O.E. – 2.1 |
|||
Mão de Obra Administrativa – Fixa |
4.863,14 |
106,71 |
2,30 |
Educampo |
|||
Adubação do Solo |
124.972,30 |
2.742,42 |
59,25 |
Adubação Foliar |
6.900,00 |
151,42 |
3,27 |
Controle de Pragas e Doenças |
51.083,00 |
1.120,98 |
24,22 |
Controle de Plantas Daninhas |
4.018,00 |
88,17 |
1,91 |
Tratos Culturais |
6.000,00 |
131,67 |
2,84 |
Colheita |
63.689,60 |
1.397,62 |
30,20 |
Pós Colheita |
35.592,15 |
781,04 |
16,88 |
Energia e Combustível |
18.553,00 |
407,13 |
8,60 |
Impostos e Taxas |
|||
Reparos de Benfeitorias e Máquinas |
12.000,00 |
263,33 |
5,69 |
Outros Gastos |
1.000,00 |
21,94 |
0,47 |
TOTAL DO CUSTO OPERACIONAL EFETIVO – C.O.E. |
328.671,19 |
7.212,43 |
155,63 |
CUSTO OPERACIONAL TOTAL – C.O.T. – 2.2 |
|||
Mão de Obra Familiar |
36.000,00 |
789,99 |
17,07 |
DEPRECIAÇÃO: |
|||
Benfeitorias |
7.358,91 |
161,49 |
3,49 |
Máquinas |
20.731,40 |
454,94 |
9,83 |
Irrigação |
|||
Outros |
|||
Lavoura |
25.945,41 |
569,35 |
12,30 |
TOTAL DO CUSTO OPERACIONAL TOTAL – C.O.T. |
418.706,91 |
9.188,20 |
198,32 |
REMUNERAÇÃO DO CAPITAL – 2.3 |
|||
Benfeitorias |
|||
Máquinas |
|||
Irrigação |
|||
Outros |
|||
Lavoura |
|||
TOTAL DA REMUNERAÇÃO DO CAPITAL |
|||
TOTAL DO CUSTO DE PRODUÇÃO |
418.706,91 |
9.188,20 |
198,32 |
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO SEM AJUSTES
Discriminação |
$ |
Receita das Vendas |
1.012.367,10 |
Venda de Escolha |
24.803,02 |
Total da Receita |
1.037.170,12 |
(-) Custo de Produção |
521.603,04 |
(=) Margem Bruta |
515.567,08 |
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO COM AJUSTES
Discriminação |
$ |
Receita das Vendas |
1.012.367,10 |
Venda de Escolha |
24.803,02 |
Total da Receita |
1.037.170,12 |
(-) Impostos e Taxas |
30.953,50 |
(=) Total da Receita Líquida |
1.006.216,62 |
(-) Custo de Produção |
418.706,91 |
(=) Margem Bruta |
587.509,71 |
(-) Mão de Obra Administrativa |
43.768,30 |
(-) Despesas com a Educampo |
5.089,50 |
(=) Resultado Final |
538.651,91 |
Marcus Fomm é economista pós-graduado em Mercado de Capitais pela Fundação Getúlio Vargas – RJ, possui diversos cursos de especialização na área de administração e finanças. Docente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em cursos de Pós Graduação em Gestão Empresarial.
Exerceu o cargo de Economista Sênior no BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social.
Desenvolveu o sistema de Simulação Empresarial voltado ao aprimoramento de habilidades gerenciais, avaliação e gestão de decisões, tendo sido adotado pela UniverCidade – RJ.
Presta serviços de consultoria para pequenas e médias empresas. Atuou como Diretor Administrativo Financeiro de empresas localizadas no Pólo Petroquímico de Camaçari – BA como representante do BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social.