Conilon: pressa na colheita reduz a qualidade dos grãos

Por: A Gazeta

ECONOMIA
30/04/2008
 
Conilon: pressa na colheita reduz a qualidade dos grãos
 
 
Rita Bridi
rbridi@redegazeta.com.br


A pressa de alguns cafeicultores em iniciar a apanha do café para garantir bom preço e ter facilidade em conseguir mão-de-obra mais em conta já resultou na colheita de cerca de 400 mil sacas de café conilon de baixa qualidade. A colheita do café verde (antes do ponto ideal de maturação) e a secagem de forma errada resulta em produto de baixa qualidade.


De acordo com estimativas de técnicos d o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), cerca de 5% do café conilon no Estado foi colhido e o produto já está no mercado. E o volume de café de baixa qualidade tende a crescer, uma vez que a maturação dos grãos só acontecerá a partir da segunda quinzena do próximo mês.


Café de baixa qualidade significa perda de receita para os produtores, explica o coordenador de Cafeicultura do Incaper, Romário Ferrão. Na tentativa de conscientizar os cafeicultores a respeito da importância de adotar os procedimentos corretos na colheita e secagem do café, será lançada, na próxima semana, uma campanha que terá a participação de todas as entidades envolvidas na cafeicultura capixaba.


Barato que sai caro
O presidente da Cooperativa de Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Cooabriel), Antônio Joaquim de Souza Neto, disse ontem que vários produtores da Região Norte já iniciaram a apanha do café conilon. Os associados da Cooabriel, cerca de 2 mil, segundo ele, estão aguardando o momento certo para iniciar a colheita. O trabalho de orientação aos produtores, explicou, é feito há vários anos, mas muitos deles não adotam os procedimentos corretos.


“Quem colhe café verde perde no peso e no preço”, enfatiza Neto. A antecipação da colheita, explica, acontece porque o produtor busca mão-de-obra mais barata. Como a fiscalização trabalhista é mais intensa no período da colheita, os produtores que começam primeiro, além de pagar menos, não assinam as carteiras dos trabalhadores temporários, em uma tentativa de reduzir os custos.


“O cafeicultor passa 300 dias no ano cuidando da lavoura e adotando medidas para aumentar a produtividade, mas perde todo esse trabalho em apenas uma semana”, destaca Ferrão. Ele lembra que a secagem do café, se feita de maneira errada, contribui para acentuar a perda de qualidade do produto e também o prejuízo do produtor.


Muitos agricultores, informa, estão terceirizando a secagem do café, e o processo, que em condições normais duraria 20 horas, é concluído em sete horas. Sem os cuidados necessários, os secadores utilizam lenha verde. Além de queimar (em vez de secar o café), o cheiro da madeira verde passa para o café. O resultado é alteração do aroma e do sabor.


Especialista alerta para perda de mercado


“Ao fazerem isso os produtores estão perdendo um cenário fantástico para o café conilon”. A avaliação é do representante do Espírito Santo no Conselho Deliberativo de Política do Café (CDPC), Enio Bergoli da Costa. Ele lembra que o consumo de café cresce no Brasil e no mundo e cada vez mais o mercado diminui o espaço para produtos de baixa qualidade.


Além de garantir espaço no mercado interno, o Estado precisa voltar a ser um grande exportador de café, lembra Bergoli. O espaço no mercado internacional, que já foi ocupado pelo café capixaba, vem sendo ocupado pelo café produzido em outros países, como o Vietnã.


O descaso de parte dos cafeicultores capixabas para com os cuidados na colheita e pós-colheita pode resultar em efeitos danosos para os próprios produtores. De acordo com as fontes, a baixa qualidade de parte do conilon produzido no Estado poderia servir de argumento para os que defendem o drawback.


O instrumento é um procedimento especial em que o produto importado, após industrializado, deve ser todo reexportado. A indústria de solúvel, há décadas, vem tentando importar café robusta (conilon) do Vietnã em sistema drawback.

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