Protestos de parlamentares, sindicalistas, agricultores familiares, produtores rurais e ONGs tensionam sessão
Mauro Zanatta, de Brasília
07/07/2010
Protestos de parlamentares, sindicalistas, agricultores familiares, produtores rurais e ONGs tensionam sessão
Em clima de enfrentamento, a comissão especial de reforma do Código Florestal aprovou ontem, por 13 votos favoráveis e cinco contrários, o parecer do relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para uma nova lei das matas brasileiras.
O controverso texto, que deve ser apreciado no plenário da Câmara depois das eleições de outubro, abriu um profundo racha na bancada de PT e PSDB, que votaram divididos. Questões como anistia e moratória de cinco anos a multas aplicadas até julho de 2008 acirraram os ânimos de parlamentares ruralistas e ambientalistas.
Em reunião tensa, marcada por troca de insultos e ameaças de agressão física, houve disputa de gritos de guerra entre sindicalistas, agricultores familiares e produtores rurais. Antes, um protesto da ONG Greenpeace tumultuou a sessão e tentou paralisar a votação do relatório. Os exageros no comportamento só foram serenados pela aprovação maciça na comissão. Às vésperas das eleições, os deputados votaram para agradar seus eleitores e aliados políticos.
Com o pano de fundo eleitoral, o novo Código Florestal abre espaço para a regularização de áreas em situação ilegal, prevê \”desmatamento zero\” por cinco anos, perdoa crimes ambientais e libera da exigência de reserva legal áreas de até quatro módulos fiscais – de 20 a 400 hectares, segundo a região. Também onera os cofres públicos com o pagamento de parte dos custos de recuperação das florestas e a remuneração pela manutenção de áreas nativas, além de reduzir a área mínima de preservação permanente (APPs) em beiras de rio (de 30 para 15 metros) e consolidar cultivos de áreas em uso sem contrapartida de recomposição obrigatória. Quem desmatou terá até 20 anos para recuperar. \”Essa lei faz Justiça a 4 milhões de produtores e avança na questão ambiental\”, disse Luís Carlos Heinze (PP-RS).
Nem mesmo algumas concessões de Rebelo foram suficientes para aplacar a fúria dos ambientalistas, que patrocinaram uma guerrilha regimental para evitar a votação do parecer antes das eleições. A manutenção dos termos de compromisso impostos pelo Ministério Público e a obrigação de recompor áreas devastadas acima de quatro módulos fiscais não ajudaram muito. \”Isso aqui termina tão confuso quanto começou\”, disse o líder do PV, Edson Duarte (BA). \”Este relatório não soma nada. Apenas divide. Como fica quem respeitou a lei?\”, perguntou o líder do P-Sol, Ivan Valente (SP), que quase brigou com Heinze após a aprovação do relatório.
Em defesa de seu texto, costurado a duras penas durante um ano de audiências da comissão especial, Aldo Rebelo afirmou ter assegurado \”margem de sobrevivência\” aos produtores. \”Retiramos a autonomia dos Estados para evitar guerra fiscal, mesmo que eu refute esse argumento. Também recuperamos as florestas como bens de interesse comum, além de proteger áreas sensíveis.\” E deixou a porta aberta para novas alterações no texto, agora no plenário. \”A proposta está aberta a votos e destaques, mas tenho certeza que ajudei a proteger o ambiente, a agricultura e a sociedade brasileiras.\”
Nos bastidores, os partidos aliados do governo costuraram um acordo para votar o texto de Aldo Rebelo e evitar desgastes ao relator. Mas o acordo não impediu divergências internas na base aliada. O PT apresentou um voto em separado, retirou o texto e o reapresentou em menos de 24 horas. O deputado Anselmo de Jesus (PT-RO), eleito por agricultores familiares, rejeitou a reprovação do texto, como queria a maioria do partido. No fim, mesmo com orientação contrária da liderança da bancada, votou a favor do relatório. \”Contemplou a maioria, que é bastante ampla aqui\”, disse Anselmo. O PSDB também viveu um dilema. Para não desagradar eleitores rurais nem urbanos, o líder João Almeida (BA) \”liberou\” a bancada. Assim, o ruralista Duarte Nogueira (SP) votou a favor e o ambientalista Ricardo Tripoli (SP), contra.
Aos gritos de \”vendidos\”, militantes da CUT e da Contag encheram dois plenários e corredores das comissões. De outro lado, dirigentes e produtores rurais tomaram o plenário onde ocorriam as discussões.