CONAB MENOS PESSIMISTA QUE MUITOS Por Rodrigo Costa

Comentário Semanal – de 12 a 16 de maio de 2014


A semana teve uma mistura de dados macroeconômicos positivos e negativos, justificando as oscilações distintas das principais bolsas de ações no mundo.


O tom mais pessimista das autoridades monetárias européias veio acompanhado de uma declaração do Banco Central Alemão de que, dependendo do prognóstico inflacionário, dará apoio à política monetária mais expansionista na próxima reunião do Banco Central Europeu.


O dinheiro barato, e algumas vantagens fiscais, têm ajudado o mercado de fusões e aquisições, principalmente entre empresas do setor farmacêutico.


Dentre as commodities o açúcar foi destaque de alta, seguido pelo suíno-magro, gasolina, cacau e petróleo, enquanto as perdedoras foram o níquel, os grãos e o gás natural.


O café em Nova Iorque encerrou os últimos cinco dias com ganhos de US$ 1.52 por saca, e Londres caiu US$ 2.82 a saca. Quem, por qualquer motivo, não acompanhou as movimentações diárias, e olhou apenas para o quanto oscilou de uma sexta-feira para outra, diria que nada aconteceu. Na verdade foi justamente o oposto, a volatilidade foi grande, pois tivemos dois dias de intervalos de US$ 12 centavos, sendo que um positivo e outro negativo.


O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na segunda-feira, divulgou sua estimativa da safra 14/15 do Brasil em 49.5 milhões de sacas, sendo 33.1 milhões de arábica e 16.4 milhões de conilon. A revisão da safra anterior fez com que o órgão preveja um estoque de passagem de 9.29 milhões de sacas, considerando um consumo interno brasileiro de 20.1 milhões. A queda do arábica comparado com a safra anterior é de 6.3 milhões de sacas, e a do conilon aumentou 2.1 milhões.


Na quinta-feira foi a vez da CONAB soltar sua revisão da safra 14/15. Muito embora o total da produção tenha sido revisado de 47.76 milhões de sacas para 44.56 milhões de sacas, foi muito interessante notar que a entidade prevê a quebra do arábica (com os efeitos da seca) em 4.07 milhões de sacas – menos do que bastante gente acredita. Se por um lado muitos questionam a baixa estimativa para o conilon, por outro o arábica está dentro do número que o mercado tem trabalhado.


Para os agentes que tinham um ponto de partida do volume de produção mais alto, a diminuição proporcional ajuda-os a justificar prognósticos de uma safra total entre 53 a 55 milhões de sacas.


O mercado respondeu com uma alta forte depois da divulgação do número, e mais tarde foi fazer as contas para perceber que o dado não deveria ser lido como altista. Depois, para “ajudar” os baixistas, a LIFFE informou que os estoques certificados dobraram de volume em 15 dias, de 269 mil sacas para 559 mil, e a Associação de Cafés Verdes Americana apontou um aumento dos estoques nos Estados Unidos de 279,187 sacas, para 5,24 milhões de sacas.


Com isto na sexta-feira o mercado devolveu quase todos os ganhos, muito embora o incremento dos estoques seja algo natural e esperado em função do crescente volume de exportações de praticamente todos os países exportadores, também um efeito da puxada dos preços – ou alguém achou que de uma hora para outra todo este café ia ser torrado?!


É muita volatilidade para pouca justificativa, haja vista que a situação de incerteza é a mesma.


Ao mesmo tempo me espanta ver analistas escrevendo relatórios tão certeiros sobre o quadro da produção no Brasil e quantificando com muita certeza a safra atual e a próxima, justamente quando diversos agrônomos e técnicos de grande respeito no país têm tido muito cuidado com suas palavras e estudos. Inclusive muitos produtores, que tenho o prazer de sempre conversar, me dizem que para algo ser dito tem que esperar primeiro o final da colheita, quando serão avaliadas as condições das árvores, e depois o comportamento do cafezal durante o retorno das chuvas e floradas.


O tom não é de crítica, mas de alerta para que todos os produtores, que de fato são os que sentirão no bolso os efeitos da seca, sejam cautelosos quando ouvem ou lêem algo que agrade seus ouvidos, como por exemplo, foi dito nesta semana que os preços deverão passar dos US$ 3 dólares a libra em Nova Iorque.


Teve até quem falou em US$ 4 e US$ 6 dólares por libra, já que o papel aceita tudo, assim como se falava em US$ 80 centavos quando os preços estavam em US$ 110 centavos no final de 2013 – e vejam o que aconteceu.


No fim é escalonando as vendas, aproveitando as altas, e realizando lucros as formas de disciplinadamente os produtores agir, pois da mesma forma que os preços podem subir, eles também podem cair.


O fechamento da semana não foi de todo ruim, entretanto o Commitments of Traders causa desconforto ao mostrar que os fundos venderam apenas 2,905 lotes e o terminal perdeu US$ 15.30 centavos, entre os dias 6 e 13 de maio.


As incertezas no ar manterão a volatilidade alta, mas uma leitura menos catastrófica do quadro de oferta e demanda mundial pode descontar um pouco do prêmio de desastre que está embutido nos preços.


Uma liquidação mais forte dos fundos pode desmontar este prêmio, mas, em minha opinião, as cotações devem encontrar o “fundo” entre US$ 150 e US$ 160 centavos por libra-peso.


Boa semana e muito bons negócios a todos.


*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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