Ao contrário de outras cooperativas de MG, Cocapec arcou com dívida e repassou valores aos produtores
Cafeicultores da Alta Mogiana estão apreensivos com o atraso no pagamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) ao primeiro lote negociado com o governo federal. Com a proposta de que o crédito do poder público pode virar precatório, muitos já estão refletindo antes de vender o produto.
Sebastião Manoel Ananias, produtor na região de Ibiraci, por exemplo, relata que a diferença entre o preço de mercado e do governo gira em torno de R$ 20,00, mas pelas circunstâncias o risco de negociar com o governo é muito grande, já que muitos produtores ainda não receberam pela primeira venda.
A Cocapec – Cooperativa de Agricultores e Agropecuaristas -, por exemplo, não deixou os proprietários no prejuízo, pagando os valores. No entanto, o Departamento de Comercialização da cooperativa não tem conseguido resultados positivos para o recebimento daquilo que foi vendido nas três unidades de Minas Gerais.
Anselmo Magno de Paula, gerente da área, explicou que a dificuldade tem sido enorme e a apreensão é grande. “O escritório de negociação da Conab, em Belo Horizonte, está com os telefones congestionados. E quando se fala com as atendentes, a informação transmitida é de que Brasília não autorizou o pagamento. O atraso se arrasta por vários dias”, desabafou.
Ainda ontem, ao falar com diretores de cooperativas mineiras, Anselmo foi informado sobre a grave situação que envolve milhares de produtores.
“É bom refletir muito antes de fazer qualquer negociação com o governo. O lucro é pequeno -chega a ser de R$ 20, mas será que compensa vender ao governo ao mercado?!”, detalhou Sebastião Ananias.
Muitos produtores imaginaram que a proposta do Governo Federal poderia ser um negócio seguro e que serviria para manter os preços do café no mercado. Mas, um mês após a venda das sacas do produto ao Governo, cafeicultores de várias cidades mineiras ainda não receberam sequer um centavo relativo à transação. O pagamento era para ter acontecido no dia 15 do mês passado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Além da falta do pagamento, produtores ainda acumulam dívidas bancárias, trabalhistas e comerciais (de insumos) que têm prazos vencendo em janeiro. “Não recebemos e não podemos vender para outra pessoa, mas as nossas dívidas estão aí, vencendo. E temos de arrumar um modo de pagá-las, mesmo que o Governo não esteja nos pagando”, lamenta Paulo Renato de Souza, 76 anos.
Ele, que comercializou 400 sacas de café tem R$ 120 mil para receber. Dinheiro é para pagar os empréstimos que fez para a plantação e quitar dívidas dos insumos necessários para o cultivo do café. “E até agora, nada. Nenhuma explicação oficial”. Assim como ele, no mínimo outros 1,5 mil cafeicultores, principalmente de Minas Gerais, enfrentam a mesma situação, segundo a própria Conab. Órgão reconhece problema e diz que questão foi “burocrática”, mas que dinheiro será liberado até segunda-feira.
Cafeicultores têm dívidas bancárias e de insumos. O pagamento da venda do café era esperado pelos produtores principalmente para saldar as dívidas feitas para o plantio e cuidados do cafezal. “Já deixei de pagar o custeio junto ao banco porque o dinheiro não entra na conta”, explica um cafeicultor que preferiu ser identificado apenas pelas iniciais N.A. “Estamos sendo penalizados, temos compromissos e não podemos honrar”. Pela venda de 300 sacas ele receberia cerca de R$ 90 mil. Outro que também foi prejudicado pela venda de café ao governo é o produtor Wilson Lopes.
Há cafeicultor vendeu pouco mais de 100 sacas de café e tem mais de R$ 30 mil para receber, que servirão para os compromissos, assim como os outros cafeicultores. “É uma situação complicada. A intenção era de que o preço do café fosse mantido no mercado, mas com essa situação, as coisas só pioraram”. A Conab reconhece a falta de pagamento e disse aguardar repasse do Tesouro para efetuar os últimos pagamentos.
O órgão informou ainda que problemas de ordem burocrática acabaram desencadeando outras situações. Leilão, ocorrido no ano passado, teve participação de pelo menos 2 mil produtores de café de todo o país. A estimativa é de que somente em Minas Gerais eles tenham sido aproximadamente 1,5 mil.
Até agora, a Conab pagou cerca de R$ 10 milhões aos cafeicultores e diz ter ainda cerca de R$ 135 milhões a acertar. Esta última quantia, de acordo com o superintendente de operações comerciais do órgão, João Paulo Moraes Filho, ainda não havia sido liberada pelo Tesouro, o que ocorrerá até segunda-feira.