fonte: Cepea

COMO REDUZIR O CUSTO DE PRODUÇÃO DA CAFEICULTURA? Por Paulo Bonifácio

REMUNERAÇÃO POR PRODUTIVIDADE X SALÁRIO FIXO

Gráfico 1- Representação do custo de produção de café no Sul de Minas

O peso da folha de pagamento no custo de produção

Sabemos que a mão de obra é a fatia mais representativa no custo da cafeicultura na maioria das regiões, podendo representar 30-40% do custo de produção.

Portanto, devido ao peso da mão de obra no orçamento, qualquer melhoria nessa conta, por menor que seja, vai reduzir de forma significativa o custo de produção. E isso nos leva a perguntar: como aumentar o desempenho da mão de obra? A resposta é somente uma palavra: MERITOCRACIA. Essa palavra traduz o conceito de se premiar quem entrega mais do que a média.

Produtividade dos funcionários

Sempre existe uma diferença entre o desempenho dos funcionários que é inerente à natureza humana, e de acordo com a experiência prática, ocorre um coeficiente de variação de 25-30% no rendimento individual nas atividades de campo. Esse dado demonstra que em um grupo de funcionários, existem sempre aqueles que estão se esforçando mais para o trabalho. E se for possível elevar o rendimento para o padrão dos melhores, automaticamente é possível aumentar a eficiência da mão de obra em no mínimo 25%.

As formas de remuneração

a) Salário fixo

Os trabalhadores, recebem apenas o salário fixo para exercer seu trabalho, não ocorrendo premiação ao se obter melhor desempenho. É a forma mais comum para remunerar atividades administrativas da fazenda e até mesmo alguns trabalhadores da lavoura na forma de pagamento por “diária”.

b) Remuneração por produtividade

É uma forma muito utilizada nas atividades manuais e atividades mecanizadas da lavoura. Nas atividades manuais essa remuneração ocorre conforme os seguintes exemplos: uma colheita manual, na qual se recebe por litro de café colhido, ou na desbrota, em que se paga por número de pés desbrotados. Já nas atividades mecanizadas, o pagamento por produtividade, na maioria das vezes, fica restrito ao pagamento por hora máquina.
Nas atividades manuais, o pagamento por produção é extremamente simples e funciona muito bem. Devido a unidade de medida associada ao pagamento é facilmente mensurável e está diretamente ligada à produtividade do funcionário. Entretanto, nas atividades mecânicas, o pagamento por produção não é tão diretamente ligado ao rendimento. Afinal, mais horas de trator ligado não significam necessariamente mais trabalho realizado.
Sendo assim, a melhor forma de se pagar um tratorista por produtividade é utilizar a medida de área realizada, como por exemplo, quantos hectares foram feitos ao final das atividades como: pulverização, roçagem, adubação, etc.

Como adotar esse modelo?

Ao tomar a decisão de implantar o pagamento por produção para tratoristas, é necessário cumprir algumas etapas:

1. Mapeamento;

Primeiro, precisamos entender como andam as atividades no sentido de saber qual o grau de variação no rendimento do grupo.

Nesse momento, surgem algumas perguntas como: Porque tal funcionário consegue produzir tanto e o outro tão pouco? O que fazer para resolver esse problema?
Sendo assim, podemos representar o cenário de desempenho de tratoristas na maioria das fazendas com uma curva de distribuição de frequência dos rendimentos, com valores concentrados à esquerda. Em outras palavras, a maioria dos tratoristas ou operadores possuem uma média desempenho menor que o potencial. E isso ocorre por vários fatores como: problemas na manutenção, problemas na logística, falta de treinamento, falta de comprometimento, etc. Abaixo um exemplo dessa representação. O eixo vertical é a frequência dos rendimentos e horizontal é o desempenho.


Fonte: http://www.portalaction.com.br/estatistica-basica/25-coeficiente-de-assimetria

2. Padronização;

Esse é o momento de agir em cada ponto crítico encontrado na fase de mapeamento, colocando a operação em um nível maior de rendimento. É muito comum que as fazendas obtenham ganhos expressivos de eficiência já na fase de padronização através de ações de na manutenção dos tratores, resolução dos problemas logísticos, seleção dos melhores funcionários, aplicação de treinamentos de operação e até mesmo o fato da equipe saber que está sendo monitorada gera melhoria. Com isso, o gráfico de distribuição de frequência passa a tomar outra forma. Abaixo um exemplo de mudança para uma curva de distribuição dos rendimentos concentrada à direita. Ou seja, a maioria dos operadores obtém altos rendimentos no final do dia de serviço.


Fonte: http://www.portalaction.com.br/estatistica-basica/25-coeficiente-de-assimetria

3. Definição do método para medir o desempenho e implementação

Nesse momento, a partir de toda a informação obtida nas etapas anteriores, já é possível estabelecer um modelo de operação em que os tratoristas com performance mais elevada sejam recompensados por isso através do pagamento por área feita individualmente.
Além do incentivo para maior produtividade, esse programa deve estar atrelado a um controle de qualidade das operações realizadas e uma atenção maior para segurança das atividades.

Essa melhoria, causada pelo sistema de remuneração, beneficia o tratorista que se esforça mais por produtividade e retorna ao produtor na forma de redução na quantidade de operadores necessários para fazer o mesmo trabalho que antes e reduz o consumo de combustível devido ao melhor aproveitamento do trator ligado e redução no custo de manutenção por conta do maior zelo por parte do funcionário para evitar paradas e manutenção desnecessárias.

Como a tecnologia entra nesse processo?

Todo esse caminho de se obter dados, identificar os problemas, e medir a produtividade, pode ser facilitado pelo uso de sistemas de telemetria. Com essa tecnologia da agricultura digital, todas essas informações relacionadas a produtividade do tratorista, modo de operação do trator, caminho percorrido na lavoura e até mesmo qualidade das aplicações podem ser obtidas em tempo real e com alta precisão. Abaixo uma imagem da telemetria em funcionamento.


Fonte: https://apkpure.com/br/strider-tracker-lite/io.strider.horizon.tracker

Em verde, o sistema de telemetria demonstra a área feita pelo trator.

O caminho para rentabilidade

Cada vez mais o mercado de commodities agrícolas é pressionado pela busca de um menor custo de produção e consequentemente permanência do produtor na atividade de forma sustentável. E o café carrega a mão de obra como principal item no custo de produção. Uma forma de reduzir esse custo, é utilizar o sistema de pagamento por produtividade na propriedade como pilar do aumento da eficiência.

Paulo Bonifácio,

Engenheiro Agrônomo, MBA em Gestão e Economia do Agronegócio pela FGV e especialista em planejamento agrícola.
Tel: (61) 9 9837-6808
E-mail: paulov.bonifacio@gmail.com

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