Como preparar Mudas de café

 





           O
sucesso da lavoura cafeeira depende, entre outros fatores, da boa qualidade das
mudas. Ainda que as mesmas apresentem bom aspecto exterior, podem apresentar
problemas que só se manifestarão no futuro (doenças, “pião torto”, nematóides,
etc), comprometendo todo o investimento. Devido a isto, as mudas só devem ser
adquiridas de viveiristas
idôneos.
           O
sistema adensado exige grande necessidade de mudas, o que acaba onerando muito a
implantação. Uma alternativa que pode ser realizada nas pequenas propriedades é
a produção de mudas pelo próprio cafeicultor, o que gera redução substancial no
preço, já que a maior parte do custo de produção é formada pela mão-de-obra,
podendo ser aproveitada a disponível na propriedade, principalmente a familiar.
Uma opção que pode apresentar bons resultados é a instalação de um viveiro
comunitário, onde pequenos agricultores de uma mesma comunidade se unem para a
produção de mudas em multirão, entretanto, é fundamental o treinamento e a
dedicação dos agricultores.
          
          
Embora existam sistemas mais sofisticados para produção de mudas, como o viveiro
de tubetes, será descrita a produção em saquinhos de polietilieno (10 x 20 cm),
por ser mais simples e requerer menor estrutura.


 




          
Basicamente existem duas formas para a produção de mudas em saquinhos: a
semeadura direta e a indireta (ou
transplante).
           Na
semeadura direta, a semente é depositada diretamente no saquinho. As vantagens
(em relação ao transplante) são: menor necessidade de mão-de-obra especializada;
menor possibilidade de danos no sistema radicular; menores gastos com
germinadores e
transplante.
           Na
semeadura indireta, a semente é plantada em germinadores com areia, para
posterior transplante nos saquinhos. As vantagens são: maior uniformidade das
mudas; menor necessidade inicial de irrigação; maior tempo disponível para
enchimento dos saquinhos; seleção de plântulas (sementes recém emergidas) sem
problemas de raiz; maior quantidade de mudas por Kg de semente; facilidade de
emergência das sementes pela não ocorrência de crosta superficial (em solo
argiloso).
           Muito
se criticado o transplante, pela possibilidade de ocorrência de problemas de
raiz (os quais poderão trazer conseqüências desastrosas no futuro), caso a
operação não seja bem executada. Existem até estados brasileiros que proibiram
esta prática, mas a solução não é eliminar o transplante e sim treinar bem os
trabalhadores para que a operação seja eficiente. Mudas provenientes de
transplante (bem executado) apresentam percentual de plantas com problemas de
raiz bem inferiores ao plantio direto, já que neste sistema não é possível a
eliminação das plântulas com sistema radicular deficiente (raiz bifurcada,
“cadeirinha”,
etc).
           Um sistema
intermediário estes dois sistemas é o plantio feito com sementes pré-germinadas.
Neste sistema, as sementes são colocadas para germinar entre sacos de estopa
cobertos com areia, o que permite observar a germinação. Quanto a semente der
início à germinação, ou seja, começar a imitir a radícula, faz-se o plantio nos
saquinhos. Com este sistema consegue-se mais uniformidade de mudas sem que seja
necessário o transplante.


 




           O
local para instalação do viveiro deverá ser de fácil acesso mesmo em época de
chuvas. Deve-se evitar baixadas, pois são mais suscetíveis à geadas. O local do
viveiro deve ser bem ensolarado, drenado e arejado para evitar doenças. A água
para o consumo deverá ser em quantidade suficiente e não poderá ser proveniente
de rios, devido à possibilidade de contaminação por nematóides. O local deverá
ser cercado para evitar a entrada de animais e pessoas
estranhas.


 




           A
cobertura tem a função de proteger as mudas, principalmente no início, da ação
do sol. Pode ser de vários materiais, sendo mais comum o uso de bambu e de telas
sintéticas (“sombrite”). A cobertura deve permitir uma insolação em torno de
50%.
           Poderá ser
alta (2,0m) ou baixa (0,6 m). A cobertura baixa é de menor custo e facilita a
aclimatação, já que os canteiros são cobertos individualmente (deve ser 50 cm
mais larga que o canteiro). A cobertura alta permite reduzir a área do viveiro,
já que os canteiros podem ser mais próximos uns dos outros, além de facilitar um
pouco o manejo, pois os trabalhos são feitos em baixo da
cobertura.
           Os
canteiros deverão estar no sentido leste-oeste, estando a cobertura no sentido
norte-sul.


 




           Devem
ter cerca de 1,10 m de largura e comprimento variável, não devendo ser muito
compridos, a fim de facilitar o manejo. A distância entre os canteiros deve ser
de no mínimo 60 cm. Cada metro quadrado de canteiro suporta cerca de 250
mudas.


 




           O
substrato é a mistura que será usada para enchimento dos saquinhos. Os
componentes usados no substrato são: terra, adubo orgânico, adubo químico e
calcário. A terra deve ser proveniente de solos com boas características
físicas, isento de nematóides (fazer análise prévia), grama seda e tiririca.
Eliminar a camada superficial para reduzir a quantidade de sementes de plantas
daninhas. Utiliza-se como adubo orgânico o esterco de curral curtido na
proporção de 25% da mistura. Para cada metro cúbico do substrato, acrescentar 5
Kg de superfosfato simples e 1 Kg de cloreto de potássio. Em solos ácidos,
deve-se acrescentar também 2 Kg de calcário dolomítico/m3. O substrato deve ser
peneirado para uniformização da mistura, utilizando-se peneira malha 15 a 20
mm.
           Após a
mistura, o substrato deve ser desinfectado para eliminação de plantas daninhas,
patógenos e principalmente de nematóides (o solo deve ser isento de nematóides,
a desinfecção é uma segunda garantia). Os produtos mais utilizados são o brometo
de metila e o dazomet (Basamid). A desinfecção deve ser realizada com o máximo
cuidado, pela possibilidade de danos nas mudas e de intoxicação humana,
principalmente quando se usa o brometo de metila (este produto será proibido nos
próximos anos, pois causa danos à camada de
ozônio).
           A
desinfecção do substrato é feita com auxílio de lonas plásticas, pois ocorre a
emissão de gases tóxicos, devendo ocorrer uma boa vedação para que os gases não
escapem (as bordas da lona podem ser vedadas com terra). O brometo de metila é
apresentado em latas contendo o produto em forma gás. Para maior segurança na
aplicação deste produto, recomenda-se perfurar a lata já dentro da lona plástica
com o auxílio de um aplicador simples. Este aplicador é formado por um pedaço de
madeira com uma ponta metálica em contato com a lata. Ao pressiona-se a lata por
cima da plástico, a mesma é perfurada, deixando o produto escapar. A quantidade
de substrato deve ser proporcional ao número de latas (1,75 m3 de substrato para
cada lata). No caso do Dasomet, deve-se misturar o produto com o substrato na
dosagem de 250 g/m3. A seguir, rega-se a mistura e faz-se a cobertura da mesma
com a lona plástica. Depois de 10 a 15 dias, retira-se a lona e faz-se um ótimo
revolvimento da mistura para o completo escape dos gases. Dois a três dias após
o revolvimento, deve ser feito o teste de germinação (utiliza-se sementes de
alface, chicória, cenoura, fumo, etc.). Se ocorrer a germinação normal pode-se
fazer a semeadura ou o transplante das
mudas.
           Após a
desinfeccão do substrato, procede-se o enchimento dos saquinhos, o qual deve ser
realizado com o substrato seco. A operação é realizada com auxílio de um funil
feito com lata. Cada metro cúbico de substrato é suficiente para se encher
aproximadamente 1.200 saquinhos.


 




           As
sementes destinadas à produção de mudas devem ser adquiridas de produtores
idôneos registrados na Secretaria Estadual de
Agricultura.
          
Para a produção de sementes à nível de propriedade (as quais só devem ser usadas
em viveiros não comerciais), deve-se colher os frutos de café no estágio de
cereja, de lavouras de boa origem e de características genéticas comprovadas
(variedade definida). Os frutos devem ser despolpados (retirada da casca) e
degomados (retirada da mucilagem), sendo esta última operação realizada através
da fermentação natural da mucilagem, o que ocorre em tanques com água. A seguir,
seca-se as sementes à sombra, ficando as mesmas (após a secagem) com uma
película superficial chamada de “pergaminho”. As sementes devem ser armazenadas
e semeadas sem a retirada do pergaminho, o que poderia danificar a
semente.
           Somente
deve-se plantar sementes com idade inferior a 6 meses, pois após este período a
germinação cai acentuadamente, a não ser que as mesmas sejam armazenadas em
câmara fria. Também não se deve tratar as sementes com brometo de
metila.
           Cada Kg
de sementes produz em média 3.000 mudas.


 



  • 5.8 –
    Semeadura indireta




              
    Germinadores são estruturas contendo areia, sendo destinados à germinação e
    emergência das sementes de café. Podem ser feitos de diversos materiais, como
    madeira, tijolos ou mesmo bambu. Suas dimensões são: 1,1 m de largura, 30 cm de
    profundidade e comprimento variável, de acordo com a quantidade de mudas a serem
    produzidas.
               Para
    semeadura, distribui-se uniformemente 1,5 Kg de sementes por metro quadrado de
    canteiro, cobrindo-se com 1 cm de areia grossa. Para evitar o impacto das gotas
    de chuva e auxiliar na manutenção da umidade, sugere-se colocar sacos de estopa
    sobre a areia. Quando as sementes começarem a emergir, retira-se os sacos e
    coloca-se uma cobertura para evitar a ação direta do
    sol.
              
    Recomenda-se efetuar o tratamento da areia para reduzir a possibilidade de
    doenças. Pode ser realizado o expurgo químico, rega com produtos a base de PCNB
    e/ou processo físicos, como a “solarização”, rega com água quente, vapor, etc.
    Não reutilizar a areia do germinador.


     




  •            É uma
    operação que deve ser feita com máximo cuidado por trabalhadores qualificados,
    dada a possibilidade de problemas no sistema radicular, cujos efeitos só
    surgirão futuramente a
    campo.
               O
    transplante é feito quando as plântulas atingem os estágios de
    “palito-defósforo” ou “orelha de onça”. O primeiro estágio ocorre quando a
    semente emerge, ficando suspensa pelo caule. O segundo é caracterizado pela
    “transformação” da semente (cotilédones) em duas folhas de formato
    arredondado.
              
    Antes do transplante deve-se cortar a raiz a uma distância de 5 a 7 cm do colo
    (divisa raiz/caule). Este corte tem a finalidade de retirar a extremidade da
    raiz, que, por ser mole, pode dobrar durante o transplante, gerando um dos
    principais defeitos da muda, que é o “pião torto”. Não se deve cortar muito,
    pois pode ocorrer o bifurcamento da raiz. Deve-se também eliminar as plântula
    deficientes e imergir as selecionadas em solução contendo fungicidas para
    prevenção de doenças (benomyl a 0,1
    %).
               A operação
    do transplante é realizada com auxilio de um “chucho”, que é um pequeno cilindro
    de madeira com a extremidade afilada. Perfura-se a terra dos saquinhos com o
    chucho e coloca-se a plântula no orifício. A seguir, com uma das mãos deixa-se o
    colo da plântula no mesmo nível da terra, e com a outra chega-se terra na raiz
    utilizando o próprio chucho.

     


  • 5.9 –
    Semeadura direta


           Para
a semeadura direta perfura-se a terra dos saquinhos a uma profundidade de 2 cm.
Para conseguir maior uniformidade utiliza-se um chucho com um disco de madeira,
limitando assim a profundidade do
buraco.
          
Deposita-se uma ou duas sementes por saquinho. Utilizando-se somente uma
semente, deve-se plantar uma parte em um germinador para posterior replantio das
falhas. No caso de utilizar duas sementes, posteriormente elimina-se a planta
mais fraca. Para evitar a formação de crosta superficial (comum em solos
argilosos), recomenda-se fechar os buracos com areia. Após o plantio, cobrem-se
os saquinhos com capim seco ou sacos de estopa para manutenção da umidade e
proteção contra o impacto das gotas de chuva ou irrigação, os quais devem ser
retirados após o início da
germinação.
          
Mudas provenientes de semeadura direta geralmente apresentam desuniformidade de
tamanho. Devido a isto, algum tempo após a germinação, deve-se classificar as
mudas pelo desenvolvimento, formando lotes homogêneos. Isto impede que as mudas
maiores prejudiquem o desenvolvimento das menores.


 




           A
irrigação deve ser em quantidade suficiente para permitir o bom desenvolvimento
das mudas. Após o a semeadura ou transplante a irrigação deve ser diária.
Posteriormente aumenta-se o intervalo de rega até que, próximo à retirada das
mudas para plantio, seja só o suficiente para as mesmas não
murcharem.
           Para
a prevenção de doenças, como ferrugem, cercosporiose e bacterioses, recomenda-se
pulverizar as mudas periodicamente com fungicidas a base de cobre. Caso aparecem
doenças ou pragas efetuar o tratamento químico curativo (ver o item 9 – Doenças
).
           Deve-se
evitar o excesso de adubações nitrogenadas, pois podem ocasionar crescimento
desproporcional da parte aérea em relação às raízes.


 




          
Aclimatação é a adaptação das mudas ao sol. Como as mesmas são produzidas sob
cobertura, podem não suportar o plantio no campo a pleno sol. A aclimatação deve
ser realizada a partir do segundo par de folhas, através da retirada gradual da
cobertura. Quando a cobertura é feita de bambu ou outros materiais equivalentes,
raleia-se a mesma gradativamente, até deixar as mudas a pleno sol. Se a
cobertura não permitir esta regulagem, como é o caso das telas sintéticas
(“sombrite”), faz-se a aclimatação deixando as mudas tomarem sol somente durante
um período do dia. Com o tempo, aumenta-se o número de horas de sol diárias, até
que as mudas fiquem a pleno sol. A aclimatação dura em média 30
dias.


 




           Antes
de ir a campo, as mudas devem ser classificadas, separando e reecanteirando as
menos desenvolvidas para tratamento e posterior
aproveitamento.
          
O estágio ideal para o plantio a campo são quando as mudas estiverem com 4 a 6
pares de folhas. Estágios mais avançados poderão provocar maior dificuldade de
pegamento e desenvolvimento, já que a maior quantidade de folhas não é
compensada pelas raízes, as quais estão limitadas pelo
saquinho.


Fonte: Tulha Agroinformações – www.tulha.com.br

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