Como fazer um bom café

 
 
PPara produtor de Patrocínio (MG), marketing e eficiência no uso de recursos estão entre os fatores importantes
POR RAPHAEL SALOMÃO / REVISTA GLOBO RURAL
 
cafe_agronegocios_minas_gerais (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

Ruvaldo Delarisse chegou ao Cerrado mineiro a convite de um amigo de seu pai, também cafeicultor. Atualmente, investe na produção de cafés especiais no município de Patrocínio. Exporta 80% da produção para países como Estados Unidos, Canadá, Suécia, Japão e Austrália.

A propriedade tem 154 hectares, 125 deles cobertos por cafezais. De acordo com o produtor, em ano de ciclo alto, a colheita fica entre 6.000 e 7.000 sacas e, em ciclo baixo, entre 1.500 e 2.000. A fazenda fica em uma região conhecida como Chapadão de Ferro, no local de um extinto vulcão, a quase 1.300 metros de altitude.

“Buscamos fazer um produto especial, de características exóticas, para que possamos ter um valor agregado em mercados que pagam por um produto diferenciado”, afirma o cafeicultor, para quem a agregação de valor é um importante diferencial. “Normalmente, em média, conseguimos um ágio em torno de 50% do valor do mercado comum para esses cafés especiais.”


Desde 2003, Delarisse inscreve seus produtos em concursos. Neste ano, conquistou o primeiro lugar na categoria natural no 1o Prêmio da Região do Cerrado Mineiro.
Aliado à busca por um café especial, de melhor qualidade, deve estar todo um esforço de marketing, afirma o produtor. O café que ele produz tem marca própria. “O fortalecimento da marca é importante para agregar valor ao café e deve estar aliado à manutenção e aprimoramento da qualidade, porque existem clientes que pagam, mas exigem.”


Na gestão, o uso da tecnologia é considerado fator-chave. Como a área permite, a colheita é mecanizada, com custo menor em relação à colheita manual. Ele acredita e investe ainda no acompanhamento da lavoura feito por profissionais especializados, como agrônomos. “É um custo que temos, mas que nos possibilita uma contínua melhoria na qualidade.”


Delarisse afirma também que uma de suas preocupações é privilegiar os recursos próprios no custeio da safra. Até dois anos atrás, o produtor usava em torno de 70% de recursos de bancos. “Chegamos a vender uma área que tínhamos para equilibrar as contas e agora estudamos adquirir uma área nova.” Atualmente, 80% dos recursos empregados na lavoura são próprios.


No caso de financiamentos pelos bancos, o agricultor acredita que o máximo de taxa de juros possível de se suportar é de 5,5% ao ano. “A gestão mais eficiente possibilita a busca por maneiras de baixar custos sem perder produtividade. Ainda mais nessa época de preços baixos, precisamos evitar pagar juros altos”, afirma o produtor. “É muito importante tentar usar o mínimo de recurso de financiamento bancário, fazer o possível para produzir com recursos próprios.”


A tecnologia também auxilia na racionalização do uso de recursos como água e energia. “As máquinas mais modernas possibilitam economia. Conseguimos uma redução no consumo de água da ordem de 40% e de energia em torno de 20%, com aumento na produção.” Segundo o produtor, por estar em uma região que possibilita o uso de máquinas nas operações de cultivo, a mecanização contribui para baixar os custos e aumentar a eficiência.

Reaproveitamento

“A preservação é uma obrigação porque, em nosso caso, a natureza é matéria-prima”, diz, ao defender o manejo sustentável da lavoura. Uma das técnicas que ele utiliza é o manejo do solo com as chamadas trinchas. Evita o uso de herbicidas e mantém o material no solo, retendo umidade e evitando erosão, conciliando meio ambiente com produtividade.

Outra técnica é o reaproveitamento de recursos, explica Delarisse. A água que sobra da despolpa do café, por exemplo, é reutilizada na própria lavoura. “Fazemos também a adubação orgânica do solo e economizamos com fertilizantes.” Outras formas de reutilização dos descartes da produção para diminuir o impacto ambiental incluem reutilizar a palha de café nos fornos dos secadores, evitando assim a queima de madeira, e também fazendo adubação orgânica do solo. “Com isso, economizamos com fertilizantes.”

Outro fator importante para a valorização do produto é a certificação. Delarisse tem quatro. São elas a 4C – Código Comum para a Comunidade Cafeeira, o Certifica Minas (do governo de Minas Gerais), o Starbucks e o UTZ Kapeh, que certifica internacionalmente as práticas sociais e ambientais nas lavouras cafeeiras. “A certificação ajuda a manter a propriedade rigorosamente dentro das normas ambientais, trabalhistas e sociais”, afirma  Delarisse.

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