01/11/2009
Commodities agrícolas são uma boa opção para quem quer retorno rápido. Investimento, no entanto, é de alto risco
Paola Carvalho – Estado de Minas
Depois de investir em ações de empresas brasileiras, o juiz do trabalho Daniel Cordeiro Gazola, de 34 anos, resolveu aplicar o dinheiro em commodities agrícolas, especialmente no boi gordo, café arábica, milho e soja. No conforto de seu apartamento no Bairro Sion, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, ele confere as cotações da arroba do animal ou das sacas dos grãos, estuda as notícias do dia e liga para a corretora de valores para dar respaldo à análise e emitir a ordem de compra ou venda. Está atrás de alto retorno financeiro no curto prazo, mesmo o risco sendo elevado. “Como os preços são muito voláteis, compro e vendo os contratos em prazo médio de uma semana. Não tenho nada a ver com boi ou soja, mas, com pouco recurso, dá para ganhar um bom dinheiro”, diz.
Os derivativos agrícolas nasceram da necessidade de os empresários do campo se protegerem das oscilações dos preços. Mas também podem ser usados para investimento da pessoa física. Por não oferecer garantia de retorno, porém, devem ser considerados como investimentos de risco. “Commodities têm algumas vantagens em relação às ações. A primeira, e talvez a maior delas, é a alavancagem, ou seja, investir com menor volume de recursos e ter grande potencial de retorno”, explica o responsável pela mesa de negociação de commodities da XP Investimentos, Tito Gusmão.
“Na Bovespa, compram-se ações e vira-se sócio de uma empresa. Na BM&F, não se compra o boi gordo, mas, sim, um contrato futuro”, destaca o especialista. Na prática, consegue-se investir R$ 1,5 mil em um contrato de boi de R$ 26 mil, por exemplo. Se a valorização for de 10%, significa que o investidor pode embolsar R$ 2,6 mil. Ou seja, se a aplicação foi de R$ 2 mil, tem-se agora R$ 4,6 mil, bem mais que o dobro do dinheiro investido. “Por outro lado, se houver uma desvalorização, você pode ficar até devendo. Por isso, é um sucesso para especular. Diferentemente de ações, a ideia não é formar patrimônio no longo prazo, mas ganhar dinheiro no curto prazo”, afirma Gusmão.
Como surgiu o mercado de derivativos? Em 1942, 82 dos maiores comerciantes de grãos de Chicago uniram-se para criar uma bolsa organizada, a Chicago Board of Trade (CBOT). O objetivo era promover o comércio da cidade e arranjar local adequado para que compradores e vendedores pudessem negociar as commodities. A fundação da Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP) em 1917 é identificada como o ponto de partida dos derivativos no Brasil. Hoje, os negócios estão concentrados na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa). Em setembro, último mês fechado, a bolsa negociou 151 milhões de contratos, com movimentação financeira de R$ 3,3 bilhões, segundo o gerente de serviços em commodity da BM&FBovespa, Luiz Cláudio Cassagni.
Como é A BM&F exemplifica a razão dos derivativos. Eu sou pecuarista e você planta milho em uma fazenda a 25 quilômetros de distância da minha. Ao longo desses últimos anos, tenho comprado seu milho para usar como ração para meu rebanho. Estabelecemos que o pagamento é à vista, ao preço vigente no mercado, no dia da entrega. O milho é uma commodity fundamental tanto para você quanto para mim.
Entretanto, temos uma grande diferença. Eu torço para que o preço do milho caia e você para que, depois da safra, seja o mais alto possível. Estamos a cinco meses da safra e as cotações são extremamente voláteis. Diante da apreensão, fazemos um acordo. Fixamos, agora, um preço razoável para os dois lados. Assim, não há preocupação com o que vai acontecer na próxima safra. E, sabendo o preço do milho de antemão, podemos planejar: eu, a engorda de bois e você, o plantio.
“A primeira função dos derivativos é proteger o produtor agrícola. É quase obrigação para quem é do setor. Mas, se o investidor que não está ligado à cadeia do agronegócio quiser aplicar, tem que saber que está correndo risco”, afirma Cassagni. O sócio da gestora de recursos DLM Invista Marcelo Domingos concorda. “Só recomendo essa operação para um profissional qualificado. Se um investidor pessoa física realmente quiser, deve ter conhecimento e o apoio de uma corretora”, destaca.
Por dentro desse mercado
Derivativos
Nome dado à família de mercados com operações de liquidação futura. A origem do termo está associada à ideia de que os preços desses contratos derivam dos preços do ativo. Quatro modalidades de contratos são negociadas nesses mercados: a termo, futuro, de opções e de swaps.
Mercado a termo
Como comprador ou vendedor do contrato a termo, você se compromete a comprar ou vender certa quantidade de um bem (mercadoria ou ativo financeiro) por um preço fixado, ainda na data de realização do negócio, para liquidação em data futura. Os contratos a termo somente são liquidados integralmente no vencimento. Podem ser negociados em bolsa e no mercado de balcão.
Mercado futuro
Deve-se entender o mercado futuro como uma evolução do mercado a termo. Você se compromete a comprar ou vender certa quantidade de um bem por um preço estipulado para a liquidação em data futura. Os compromissos são ajustados financeiramente às expectativas do mercado referentes ao preço futuro daquele bem, por meio do ajuste diário (mecanismo que apura perdas e ganhos). Além disso, os contratos futuros são negociados somente em bolsas.
Mercado de opções
No mercado de opções, negocia-se o direito de comprar ou de vender um bem por um preço fixo numa data futura. Quem adquirir o direito deve pagar um prêmio ao vendedor tal como num acordo de seguro.
Mercado dE SWAP
No mercado de swap, negocia-se a troca de rentabilidade entre dois bens. Pode-se definir o contrato de swap como um acordo entre duas partes que estabelecem a troca de fluxo de caixa tendo como base a comparação da rentabilidade entre dois bens. Por exemplo: swap de ouro x taxa prefixada. Se, no vencimento do contrato, a valorização do ouro for inferior à taxa prefixada negociada entre as partes, receberá a diferença a parte que comprou taxa prefixada e vendeu ouro. Se a rentabilidade do ouro for superior à taxa prefixada, receberá a diferença a parte que comprou ouro e vendeu taxa prefixada.
Vantagens dos derivativos
Hedge (proteção)
Proteger o participante do mercado físico de um bem ou ativo contra variações adversas de taxas, moedas ou preços. Equivale a ter uma posição em mercado de derivativos oposta à posição assumida no mercado à vista, para minimizar o risco de perda financeira decorrente de alteração adversa de preços.
Alavancagem
Os derivativos têm grande poder de alavancagem, já que a negociação com esses instrumentos exige menos capital do que a compra do ativo à vista. Assim, ao adicionar posições de derivativos a seus investimentos, você pode aumentar a rentabilidade total desses a um custo mais baixo.
Especulação
Tomar uma posição no mercado futuro ou de opções sem uma posição correspondente no mercado à vista. Nesse caso, o objetivo é operar a tendência de preços do mercado.
Arbitragem
Tirar proveito da diferença de preços de um mesmo produto/ativo negociado em mercados diferentes. O objetivo é aproveitar as discrepâncias do processo de formação de preços dos diversos ativos e mercadorias e entre vencimentos.
Fonte: BM&FBovespa