Commodities agrícolas seguem sob pressão

29 de dezembro de 2011 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

29/12/2011 
  
 
 
Por Fernando Lopes | De São Paulo | Valor Economico


Apesar de encerrarem dezembro nos mais baixos patamares de 2011, as cotações internacionais das principais commodities agrícolas alcançaram médias anuais nominais sem precedentes, garantidas sobretudo pelo comportamento dos mercados até julho.


As previsões para os primeiros meses de 2012 convergem para a continuidade das curvas descendentes que se acentuaram a partir de agosto, tendo em vista a recessão que se avizinha no mundo desenvolvido e os surtos de aversão ao risco de grandes fundos de investimentos, que reduziram consideravelmente as posições nesses mercados nos últimos meses.


Ainda que o cenário seja baixista, a difícil convalescença do dólar e os estoques mundiais em geral baixos tendem a limitar as prováveis quedas. Ao mesmo tempo, adversidades climáticas que ameaçam safras importantes na América do Sul podem tornar o quadro até positivo para alguns produtos – especialmente os grãos, as commodities agrícolas de maior liquidez.


Mas, mesmo do lado da oferta, onde reservas restritas e quebras de safras somaram-se ao crescente consumo em países emergentes e ajudaram a manter as commodities nas alturas após a debacle do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, o horizonte não permite euforias altistas.


Em primeiro lugar porque o La Niña pode poupar as lavouras sul-americanas de grandes perdas; em segundo, porque a elevada rentabilidade da atual safra (2011/12) de cereais e oleaginosas no Hemisfério Norte sugere que seus agricultores terão condições de manter, na próxima temporada (2012/13), o ritmo de recuperação após a forte quebra da produção em 2010/11, principalmente na Rússia e arredores.


Conforme cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega de commodities negociadas nas bolsas de Chicago (milho, soja e trigo) e Nova York (açúcar, algodão, cacau, café e suco de laranja), apenas cacau e trigo não fecharão 2011 com médias anuais recordes (o balanço foi fechado em 28 de dezembro). No caso do cacau, a maior média foi registrada em 2010; no do trigo, em 2008.


Em contrapartida, só o açúcar não terá neste último quarto do ano a média trimestral mais baixa de 2011. O viés foi acentuado em dezembro, quando os oito produtos que fazem parte do levantamento tiveram médias mensais menores que as de novembro.


Esse comportamento geral se refletiu no Índice de Preços de Alimentos da FAO, o braço de agricultura e alimentação da ONU. Formado por cereais, óleos e gorduras vegetais, açúcar, carnes e lácteos, o indicador atingiu seu pico histórico em fevereiro (238 pontos), e em novembro bateu no menor nível de 2011 (215 pontos). A parcial de dezembro ainda não foi fechada.


Como as turbulências financeiras aprofundaram-se na Europa neste segundo semestre, produzindo movimentos que amenizaram a palidez do dólar e fortaleceram a aversão ao risco, os fundos que investem em commodities reduziram suas apostas e colaboraram para as quedas.


No fim de novembro, investidores institucionais liquidaram posições de compra nos mercados de milho, soja, trigo, açúcar e café. Ao mesmo tempo, aumentaram suas posições de venda, em uma estratégia de proteção a novas quedas das cotações que colaborou para tonificar a tendência.


Por enquanto, a maioria dos quadros de oferta e demanda globais não sinaliza mudanças drásticas na situação atual de estoques apertados, o que colabora, junto com as projeções de aumento do consumo mundial de alimentos no longo prazo, para a contenção de uma fuga muito mais aguda.


O Conselho Internacional de Grãos (IGC), por exemplo, prevê que a produção mundial de trigo e grãos forrageiros como o milho somará 1,816 bilhão de toneladas nesta safra 2011/12, 3,7% mais que em 2010/11. Mas estima que o consumo total aumentará 2,2%, para 1,826 bilhão de toneladas, puxado pelos emergentes.


Analistas lembram que, em países desenvolvidos, o consumo de alimentos não costuma ser afetado por crises econômicas, já que sua participação nos orçamentos domésticos é pequena. Ao mesmo tempo, economias emergentes como a chinesa e a brasileira crescerão em 2012, e mesmo a perspectiva de desaceleração do gigante asiático não evitará o incremento da demanda.


“A crise envolve 20% do mercado consumidor global, localizado em países onde o consumo de alimentos é relativamente inelástico. Os demais 80% estão em países que continuam crescendo”, disse Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, recentemente ao Valor.


Para o economista Fabio Silveira, da RC Consultores, isso não evitará um “sensível declínio” dos preços médios anuais das commodities agrícolas em 2012, com destaque para a soja, atualmente muito dependente de seu principal importador, a China – e o grão passará por maior pressão baixista caso o La Niña não prejudique as plantações no Brasil e na Argentina, que, somados, lideram as exportações globais.


Já a Tendências Consultoria Integrada acredita que as cotações internacionais da soja, o carro-chefe do agronegócio brasileiro, vão subir em relação ao nível atual e encerrarão 2012 com média estável em relação à prevista para este ano. Ainda no front externo e na mesma comparação, a empresa prevê alta de 2,8% para o milho e queda de 3,7% para o açúcar.


Entre as chamadas “soft commodities” – as agrícolas negociadas em Nova York -, a maior pressão segue sobre o algodão, que em março atingiu máximas em 140 anos e encerra dezembro com preço médio quase 35% mais baio que no mesmo mês de 2010, segundo o Valor Data.


Nesse mercado, a oferta mundial cresceu embalada pelos bons preços, o que esfriou a espiral altista, e a concorrência de têxteis sintéticos aumentou.


Cacau e suco de laranja são duas outras “soft” que estão com ofertas firmes, e a tendência para açúcar e café é de crescimento, em linha com a velha lógica que mostra que a produção cresce após períodos de preços elevados e cai depois que eles arrefecem.


Cacau, suco e café, particularmente, também podem registrar quedas maiores da demanda com a crise em países desenvolvidos, que ainda sustentam seu consumo apesar da tendência de crescimento em emergentes.
 
 

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