23/02/2014
Falta de chuvas e calor afetaram a produção e desenvolvimento dos grãos.
Novas técnicas para irrigação durante a noite também foram desenvolvidas.
Pé de café secou com a estiagem
(Foto: Reprodução EPTV)
A falta de chuvas e o excesso de calor durante os meses de janeiro e fevereiro deste ano prejudicaram as lavouras de café no Sul de Minas no momento de enchimento dos grãos. O problema surpreendeu os produtores de café do Sul de Minas, que, para tentar driblar o período de estiagem, criaram um método para aplicar uma espécie de filtro solar nas folhas do café. Em Três Pontas (MG), produtores desenvolveram uma calda que, quando aplicadas sobre as folhas, ajuda a combater o calor e a falta de água sobre as plantas.
Com a estiagem, as mudas de café não conseguem absorver água e nutrientes e acabam desidratadas e necrosadas, o que pode acarretar atraso no desenvolvimento e na produtividade futura. Para tentar controlar isso, o produtor Roberto Rezende aplica a calda na folhagem, composta por cal virgem e açúcar. “Serve para formar uma camada esbranquiçada, o que ajuda a amenizar o sol escaldante”, explicou.
Questionado, o agrônomo Rodrigo Naves Paiva, da Fundação Procafé de Varginha, explica que o composto com água, cal e açúcar, usado como filtro solar, pode ser eficaz. “Alguns funcionam como protetivo, fazem com que a planta perda menos água e a radiação solar reflete também nas folhas e a transpiração é reduzida. Mas, ainda precisamos estudar mais para ter resultados mais consistentes”, comentou.
Novas formas de irrigação
Uma técnica para evitar a perda do café é manter as plantas molhadas e irrigadas, já que a chuva mais recente não chegou a 30 milímetros. Alguns produtores, por exemplo, trocaram o turno de horário de irrigação, para tentar salvar a lavoura.
Em Campo do Meio (MG), o produtor João Kennedy encontrou uma nova forma de irrigar. Com uma máquina que era usada para jogar esterco, ele improvisou a irrigação. O trabalho com ela acontece durante a noite. Na propriedade com 150 mil mudas de café, apenas 7,5 mil pés são regados por noite e recebem 10 litros de água. “É uma medida desesperada. Estamos tentando diminuir um pouco essa perda que já está acontecendo. Poderíamos dizer que nas lavouras adultas, acima de 4 anos, já perdemos 20%. Já nas lavouras pequenas, com menos de 4 anos, a perda já está em torno de 80%”, disse.
De acordo com o agrônomo André Luiz Garcia, esta é a melhor alternativa para a plantação diante da falta de chuvas. “Quem tem condições de fazer isso durante a noite, tem melhor aproveitamento da água, um menor gasto tanto de água, como de energia, além de evitar o risco de queimar a folha”, ressaltou.
Entretanto, mesmo com as medidas paliativas criadas por alguns produtores, a falta de água no solo e o excesso de calor devem prejudicar a safra deste ano e também a do ano seguinte na região. Sem água, as lavouras sofrem o que os agrônomos chamam de déficit hídrico, que é quando não há água suficiente no solo para alimentar as plantas.
Economia
Alguns produtores já estimam perdas de até 20% do total da produção deste ano e da próxima safra também. Com isso, o mercado já sofre os reflexos da seca. Na terça-feira (18), a saca subiu U$ 18 no mercado futuro e U$ 21 no mercado interno. A expectativa é de que ele continue subindo. O café tipo 6, bebida dura, fechou o dia em R$ 354 e o tipo 7 fechou em R$ 340.
De acordo com o gerente da Cooperativa Minas Sul, em Varginha, Marco Antônio Bíscaro, a alta tem sido boa para o mercado interno e também para a bolsa de valores. “O mercado ainda não sabe dimensionar o tamanho da quebra, devido a seca, então, pode ser um início de ano promissor, mas ainda é cedo para dizer. Nas duas primeiras semanas de fevereiro, as vendas aumentaram”, comentou.
Já o presidente do Centro de Comércio do Café de Minas Gerais, Archimedes Coli Neto, afirma que o mercado já computa uma possível quebra de safra no Brasil, o que pode ser bom para o país. “Isso tem um impacto enorme nas cotações, no mercado e na vida da nossa região. O mercado está subindo e de maneira positiva, já que há equilíbrio na questão de remuneração e preço”, completou.