GABRIELA DI BELLA
RICARDO LERMAN
ENVIADOS A SÃO SEBASTIÃO DA GRAMA (SP)
28/11/2015 01h13
Em São Sebastião da Grama, no interior de São Paulo, o
ditado é exato: a grama está mesmo crescendo mais verde. Em um ano de
turbulência econômica no país, a pequena cidade a 250 km da capital paulista vai
muito bem, obrigada.
Historicamente ligada à produção de café para exportação os cafeicultores da
região colhem os benefícios da alta do dólar e vivem um momento de otimismo que
contrasta com os atuais números negativos da economia nacional.
“O volume de exportações de grãos neste ano aumentou cerca de 30% em relação
a 2014”, afirma Paulo Henrique Baptistella, dono de uma exportadora de Grama,
como é carinhosamente apelidada a cidade.
No Brasil, a exportação de café na safra 2014/2015 registrou um recorde
histórico: foram 36 milhões de sacas vendidas, um aumento de 7% em comparação ao
mesmo período do ano anterior.
Localizada no Vale da Grama, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, a
região tem alguns diferenciais. Terras acima de mil metros de altitude,
temperatura amena –em torno dos 20º C a maior parte do ano–, e solos ricos em
micronutrientes favorecem o plantio de cafés especiais, como o árabico e o “fine
cup”, considerados “gourmet”.
Por causa disso, marcas produzidas na cidade já receberam diversos prêmios
nacionais e internacionais de qualidade e têm a maior nota do Brasil pelo
Programa de Qualidade do Café.
É a qualidade que chama a atenção de compradores em outros países, pois com o
grão “gourmet” é possível melhorar o sabor de cafés menos nobres. “É um
privilégio comprar o café daqui porque há ‘blend’ [composição de vários cafés
para elevar a qualidade] para todos os países”, afirma Baptistella.
A alta do dólar, para o exportador, é bem-vinda. “Tem a preocupação com a
economia e política do país, mas certamente estamos em um bom momento”, diz.
O empresário, assim como a maioria dos moradores de Grama, sempre trabalhou
com café. Ele começou na torrefação de grãos do seu pai em 1996, com o tempo,
comprou uma fazenda e, em 2006, começou a trabalhar exclusivamente com
exportação. Ele espera aumentar o faturamento em 20% neste ano.
Herdeiro de uma família que trabalha com café há mais de um século, o
empresário Augusto Carvalho Dias Carneiro também comemora.
Ele vive há 20 anos nos Estados Unidos, onde montou uma firma de importação
para levar o café da família. “Nesse momento em que o dólar está alto, eu acho é
bom para os dois lados, porque o preço fica mais justo”, afirma.
Alguns plantadores chamam a atenção para o fato de que, em consequência da
alta da moeda americana, insumos e adubos –que são adquiridos em dólar– também
sobem e provocam aumento dos custos de produção.
Ainda assim, para Bapstitella, “há um pouco de ‘chororô’ nessas reclamações”.
“A mão de obra é cotada em reais, assim como uma série de outras variáveis. Não
é tempo de reclamar”.
Em 2015, segundo dados do Conselho de Exportadores de Café (Cecafe), a
evolução da exportação de cafés especiais teve 10,5% de aumento em relação ao
mesmo período de 2014. “Estamos prevendo uma safra boa para 2016.
Não temos muito estoque, está tudo correndo dentro da normalidade e com
preços bons. O dólar está ajudando, o preço do café na bolsa de Nova York se
mantém estável. Todos da cadeia estão ganhando”, diz o exportador.
GABRIELA DI BELLA e RICARDO LERMAN fizeram o 1º Programa de Treinamento em Fotojornalismo e Vídeo da Folha, patrocinado por Friboi, Odebrecht e Philip Morris Brasil.