24/09/15
A desvalorização contínua do real colocou em alerta a indústria argentina, que, além de perder compradores no Brasil (principal destino das exportações do país), passou a temer uma enxurrada de produtos brasileiros no seu mercado.
Empossado nesta terça-feira (22) na presidência da União Industrial Argentina (UIA), Andrián Kaufmann, presidente-executivo da empresa de alimentos Arcor na Argentina, demonstrou preocupação com a competição de produtos brasileiros, que, com a desvalorização do real, ficaram 30% mais baratos só neste ano.
“A Argentina é o principal mercado de produtos industriais do Brasil. Ou seja, nos preocupa as duas coisas [as exportações e as importações do Brasil], por isso falamos também da necessidade de proteger a indústria argentina do que pode acontecer”, disse o executivo.
Sem acesso ao mercado internacional de crédito, a Argentina mantém desde 2011 controles rígidos à importação. Isso vem contendo as compras de produtos brasileiros nos últimos anos, o que é alvo de constantes queixas de empresários do Brasil.
A Argentina, porém, comprometeu-se na OMC (Organização Mundial do Comércio) em eliminar a mais famosa de suas restrições, as DJAIs (declaração juramentada de autorização à importação), até 31 de dezembro deste ano.
Kaufmann, porém, adiantou que elas terão sobrevida.
“Sabemos que as DJAIs terminam no fim do ano, mas pelo que ouvimos haverá entre 60 e 90 dias mais até que elas sejam eliminadas por completo”, afirmou.
O presidente-executivo da Arcor acrescentou que ficou no ar se o novo presidente argentino adotará outras medidas de proteção comercial. O mandato de Cristina Kirchner termina em 10 de dezembro.
“Há setores mais sensíveis que outros e que necessitam de um tempo para superar essa conjuntura. Hoje a realidade é que as DJAIs vão deixar de existir, e o que sabemos é que todos os países têm distintas formas de proteger a sua indústria. Acredito que o governo que virá também o fará”, respondeu ele à Folha.
Segundo ele, a crise econômica no Brasil está afetando exportadores argentinos de maneira generalizada, mas as queixas mais frequentes vêm dos setores automotivo e de frutas. As vendas argentinas para o Brasil recuaram 23% de janeiro a agosto ante o mesmo período de 2014.
Para o economista argentino Marcelo Elizondo, da consultoria DNI, a desvalorização brasileira está desmascarando a baixa competitividade da indústria argentina, que é particularmente afetada pelos aumentos de custos provocados por uma inflação que ronda 27% ao ano segundo cálculos de consultorias -o dado do governo, contestado, aponta alta de 14,7%.
“As importações do Brasil só não pesam mais na Argentina porque o governo está restringindo as compras”, disse o economista.
“Mas quando a nova administração, que assume em 10 de dezembro, regularizar as importações, corre-se o risco de que os produtos brasileiros tenham muita facilidade em entrar na Argentina. Por isso, sim, é uma ameaça.”