14/07/2014 – Apesar da perspectiva de quebra da produção brasileira de café arábica nesta safra 2014/15, por conta da seca e do forte calor nos primeiros meses do ano, algumas cooperativas estão recebendo volumes maiores de seus associados que no mesmo período do ano passado, já que a colheita está mais acelerada. Uma das exceções, porém, é a Cooxupé, a maior cooperativa do segmento do país. Localizada no Sul de Minas, uma das regiões mais prejudicadas pelo clima desfavorável, o grupo contabiliza uma menor quantidade de grãos chegando a seus armazéns diante das perdas na produção.
Boa parte dos volumes que entram nos armazéns das cooperativas não é comercializada. A Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha (Minasul), por exemplo, vendeu pouco café de seus associados no mês passado porque o cafeicultor está “segurando” o produto, de acordo com Guilherme Salgado, gestor do departamento de café. A Minasul recebeu em torno de 100 mil sacas até o fim de junho, volume cerca de 10% maior que no mesmo intervalo de 2013.
Na Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec), de Franca, na Alta Mogiana Paulista, o recebimento de café até o fim de junho foi de 250 mil sacas, 400% maior que no mesmo período de 2013 (50 mil sacas), segundo o gerente do departamento de café Anselmo Magno de Paulo. Além de a colheita estar adiantada, a bienalidade é muito forte na região e já havia previsão de safra maior este ano, mesmo com a expectativa de quebra de 10% em função da seca. A cooperativa deverá receber 1,35 milhão de sacas, ante as 750 mil sacas do ano passado.
Paulo explica que a comercialização está mais lenta atualmente porque muitos produtores da Alta Mogiana Paulista haviam acertado vendas futuras desde 2012 para entrega ao longo deste ano.
Na Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaiso), de Minas, até segunda-feira passada cerca de 32% do volume previsto de recebimento desta colheita 2014/15 já havia entrado em seus armazéns, ante cerca de 18% no mesmo intervalo de 2013, afirma Paulo Sérgio Elias, gestor do agronegócio do grupo.
Apesar da perspectiva de quebra em torno de 20% em relação ao volume de 2,8 milhões de sacas estimado inicialmente para a produção na região de atuação da Cooparaiso – sudoeste mineiro, Cerrado, Matas de Minas e Mogiana Paulista-, Elias explica que a maior quantidade de entradas de café na cooperativa se deve ao adiantamento, em torno de 20 dias, do início da colheita deste ano em função da seca, que acelerou a maturação dos grãos e que, agora, facilita os trabalhos no campo, reduzindo o período total de colheita em decorrência da maior disponibilidade de máquinas para esse trabalho.
No caso da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), a oferta de café está muito restrita. Segundo Lúcio Dias, superintendente comercial, o fluxo de recebimento está menor que o esperado, em torno de 50 mil sacas por dia, ante as usuais 60 mil a 65 mil. Mesmo com a colheita adiantada, a menor entrada de café se deve à quebra da produção. A cooperativa atua no Sul e Cerrado de Minas e no Vale do Rio Pardo (SP).
Dias explica que, mesmo com preço maior do café este ano, o produtor está recebendo menos dinheiro diante do menor volume produzido e dos custos maiores, o que trava a comercialização. Além disso, em consequência das cotações mais altas da commodity no primeiro trimestre deste ano, muitos produtores fizeram vendas futuras – em torno de 30% da safra que a cooperativa deverá receber este ano. No ano passado, praticamente não foram fixadas vendas futuras pelos cooperados da Cooxupé, de acordo com Dias.
Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), diz que cerca de 40% da colheita de café da temporada 2014/15 no país foi realizada. Conforme ele, até 31 de maio as principais cooperativas de café do país tinham recebido um volume de 500 mil sacas do grão, apenas 100 mil a mais ante 2013. O volume estocado de café nas cooperativas praticamente não se alterou, diz Brasileiro. Em maio de 2013, havia 5,5 milhões de sacas, contra 5,4 milhões de sacas no mesmo mês deste ano.
Apesar da comercialização lenta no mercado interno, as exportações de café cresceram 15,5% em volume no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2013, para 17,458 milhões de sacas, conforme o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé). Esse maior fluxo foi apontado por analistas como fator para o recuo das cotações do arábica nos últimos dias.
Thiago Cazarini, da Cazarini Trading, diz que os contratos de exportação foram fechados anteriormente e que, neste momento, exportadores e torrefadores não têm pressa para comprar café brasileiro.
Fonte: Carine Ferreira, Valor Econômico