fonte: Cepea

Colheita de café em regime de escravidão em Ibiá MG

Sindicato de Araxá retira trabalhadores rurais de fazenda em Ibiá; só havia batata, macarrão e farinha para comerem, não eram registrados e não sobravam com R$ 50 na semana.

O Sindicato dos Empregados Rurais de Araxá e Região (SER) recebeu uma
denúncia da Polícia Militar de Ibiá que relatava indícios de trabalho escravo na
Fazenda MGA (Volpato) – plantação de café no distrito de Tobati.
Representantes do sindicato e policiais militares foram até o local e
constataram péssimas condições de trabalho, falta de registro dos trabalhadores,
alimentação cobrada,e alojamento precário e pagamentos irrisórios. Dos 15
trabalhadores, seis permaneceram em Ibiá e o restante veio para Araxá, onde
estão em uma casa transitória sob os cuidados do SER.


“Chegando à fazenda, nós detectamos várias situações irregulares, pessoas
trabalhando há aproximadamente um mês sem registro na carteira e em péssimas
condições de alojamento. No nosso entendimento, esses trabalhadores sofreram com
a alienação de mão de obra e vieram do Norte de Minas, da Bahia e dois deles são
do Maranhão”, afirma a presidente do sindicato, Lucelena Braga Felício.


Segundo relato dos trabalhadores, passavam necessidades e num período de 12
dias estavam comendo apenas macarrão, feijão e farinha. O trabalho também não
rendia o que eles esperavam referente a condições financeiras e que a comida era
cobrada por R$ 7/dia.


Com isso, os trabalhadores não conseguiam receber quase nada no fim de um mês
e muito menos para voltarem às suas cidades.



De acordo com Lucelena, o proprietário da fazenda já deveria estar cumprindo
um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) determinado pelo Ministério Público do
Trabalho no ano passado, quando ele foi flagrado em uma fiscalização do
sindicato em outra fazenda de sua propriedade – Nossa Senhora Aparecida.


“Nós já informamos o Ministério Público sobre a situação e provavelmente será
executado esse TAC com multas (que varia de R$ 2 mil a R$ 5 mil por
trabalhador)”, conta Lucelena. “Estamos em 2010, tecnologia avançada, e não
podemos aceitar empregadores que usam do sistema escravidão”, acrescenta. 


Trabalhadores


Welis Mendes Pereira veio da Bahia em busca de uma boa oportunidade de
trabalho na região, mas quando chegou por aqui viu que foi enganado. Segundo
ele, uma rádio local anunciou a oportunidade e a promessa de um salário de 50 a
60 reais por dia, livre da taxa de alimentação, além de ótimas condições de
alojamento.


“Frio eu passei demais. Fome, nem se fala, até picado de banana nós tivemos
que fazer para comer. A gente pedia aos vizinhos que tinham plantação de banana.
A gente cozinhava e comia para não passar fome”, relata.


O trabalhador veio com a esposa e ganhava R$ 22 por dia, mas com o desconto
de R$ 14 pela “boia”, só ficava com R$ 4 para cada. Antes de procurar pelos
direitos, Welis diz que os trabalhadores ainda tentaram um acordo com a “patroa”
da fazenda pedindo apenas o dinheiro da passagem de volta, mas nem isso eles
interessaram em fazer. “Se eu falar pra você que agora eu tenho R$ 2, eu estou
mentindo.”


“Esperamos justiça e o que ele fez conosco não aconteça com mais ninguém.
Eles deveriam tomar um pouco de vergonha na cara também porque isso não pode ser
feito com o ser humano. Nem porco trabalha de graça”, desabafa.



Elizeldo Barbosa Castro, que também veio da Bahia, relata que é acostumado a
trabalhar com a colheita de café e sua diária não fica por menos de R$ 80.
“Nunca passei em toda a minha vida o que eu passei lá. Foi tudo muito diferente
do que haviam prometido”, afirma.


“Passei muito frio. A telha do galpão era de zinco e quando ia chegando lá
pelas 4h da manhã começava até a pingar água”, diz. O trabalhador também
denuncia a péssima condição de alimentação. “A gente tinha só batata, macarrão e
farinha.”

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