Nos últimos anos a palavra diversificação foi ouvida com freqüência nos corredores da Cocamar, cooperativa de Maringá, noroeste do Paraná. Em 2006, no entanto, o termo parece estar sendo cortado de seu dicionário. Em março o grupo desistiu do mercado de fiação de seda, e atualmente, estuda a venda de sua destilaria. Assim como reduz as áreas de atuação, o grupo prepara-se para seu segundo ano de queda nas receitas. Em 2004, o faturamento da Cocamar chegou a R$ 1,154 bilhão, mas caiu para R$ 958 milhões no ano passado. Para 2006, a expectativa era de ao menos repetir o resultado de 2005, mas houve uma revisão e agora espera-se R$ 900 milhões.
Os motivos para a saída das duas áreas são diferentes. No caso da fiação de seda, o negócio iniciado nos anos 1980 era mantido mais por razões sociais, para não deixar os associados na mão, do que econômicas. O mesmo não pode ser dito da destilaria, rentável mas que atende ao interesse de poucos cooperados e necessita de ampliações para tornar-se competitiva. Só que os investimentos estão congelados. “Faremos apenas o que for essencial”, diz o presidente da cooperativa, Luiz Lourenço – que com as medidas em andamento garante que fechará o ano com resultado operacional positivo.
O executivo conta que, de 2001 para 2005, o número de sericicultores caiu de 800 para 260. “Nosso planejamento estratégico mostrou que o negócio não tem futuro. O mercado de seda tem compradores cativos, mas é limitado em volume”, afirma, citando a gravataria francesa Hermès, que era uma de suas clientes. Para sair do ramo, que representava menos de 1% do faturamento, a Cocamar repassou o processamento dos casulos para a unidade que a Bratac, maior empresa de fiação de seda do país, tem na vizinha Londrina. As máquinas serão vendidas.
Em abril a Cocamar informou que estava negociando a venda de sua destilaria para o grupo paranaense Santa Terezinha, o maior do Estado em açúcar e álcool. O negócio deveria ser concluído em junho, mas Lourenço disse que levará mais tempo. Comprada em 1993, a unidade fica em São Tomé e foi palco do lançamento nacional da colheita de cana em 2006. Hoje responde por 6% do faturamento. “Temos só 86 produtores e uma indústria pequena. Teríamos de investir cerca de R$ 80 milhões para elevar a capacidade”.
A proposta de compra chegou à mesa e a oferta foi boa. “O grupo Santa Terezinha está prometendo pagar o que o mercado não pagaria, porque tem interesses estratégicos ali”, contou. A destilaria deve moer 900 mil toneladas de cana-de-açúcar este ano, ante 730 mil na safra passada. A intenção é chegar a 72 milhões de litros de álcool, 22% mais que no ano anterior.
A Cocamar tem 6,8 mil cooperados e forte atuação em grãos, café, algodão e laranja. Desde 2000 vinha mantendo um ritmo de investimento superior a R$ 20 milhões por ano. Para 2006, estavam previstos R$ 25 milhões, em armazéns, área industrial e vias de acesso. “Não há razão para investirmos”, resume Lourenço, lamentando a crise da agricultura. Segundo ele, a área de varejo responderá por 25% das receitas, número que poderia ser maior, não fosse a queda no preço do óleo de soja.
Além da venda de ativos, a cooperativa demitiu mais de 200 pessoas e reduziu a atuação na área de recebimento de algodão. Em 2004, recebeu 1,35 milhão de arrobas. No ano passado, 650 mil e em 2006, 80 mil arrobas, volume insuficiente para abastecer sua indústria de fios por um mês. Por isso a cooperativa está comprando algodão de terceiros.
Mesmo com a queda na produção de soja, provocada pela estiagem, a indústria está funcionando bem, mas para não ter ociosidade, a cooperativa teve de recorrer a parceiros. A Cocamar informou que a Agrenco está destinando 270 mil toneladas do grão para serem esmagadas em Maringá. Sua capacidade é de 2,6 mil toneladas por dia e, no ano, devem ser processadas 780 mil toneladas.
Marli LimaFonte: Valor Econômico