COBERTURA MORTA NO CAFEZAL

A aplicação de cobertura morta nas entrelinhas da lavoura de café pode proporcionar benefícios ao desenvolvimento do cafeeiro, entretanto esta prática inicialmente fica condicionada na disponibilidade e no custo de formação ou aquisição dos materiais que fazem parte de sua composição.

Esses benefícios são resultantes da ação de proteção do solo da erosão pela diminuição do impacto das chuvas e proteção da insolação excessiva amenizando sua temperatura e diminuindo a perda de umidade. Além disso essa cobertura possibilita a redução do nível de infestação das plantas daninhas e o fornecimento de nutrientes originados da decomposição de sua matéria orgânica.

A cobertura morta pode ser constituída pela camada de palha que se forma decorrente do controle das plantas daninhas, pelos restos de cultivos intercalares e pelo resíduos provenientes do beneficiamento de produtos.

Das plantas daninhas verifica-se que conforme a aplicação do sistema de manejo por herbicida ou roçadeira, a formação do volume da camada de palha e sua amplitude de cobertura do solo é dependente das espécies de plantas predominantes, do nível de infestação e da época de controle.

Dos cultivos intercalares se forma uma cobertura que depende da espécie consorciada com o café quer seja uma cultura de ciclo curto ou uma leguminosa anual ou perene, que disponibiliza seus restos vegetais pela respectiva realização da colheita e do manejo de corte.

Dos resíduos provenientes do beneficiamento de produtos como casca de café, casca de arroz, pó de serra e bagaço de cana colocados nas entrelinhas ou em todo cafezal, observa-se que o volume disponível e o grau de decomposição desses materiais podem propiciar maiores ou menores benefícios a lavoura.

No caso da casca de arroz, pó de serra e bagaço de cana a maior limitação está na alta relação carbono/nitrogênio desses materiais sendo maior que 30, tendo lenta decomposição de suas matérias orgânicas com maior utilização do nitrogênio do solo pelos microorganismos, não sendo indicadas para aplicações direta na lavoura, a não ser quando for realizada uma adubação nitrogenada complementar. O mais recomendável é que antes esses materiais façam parte da formação de um composto para depois serem aplicados na lavoura.

A casca de café por sua vez além de poder fazer parte de compostagem, se destaca como forma direta uma boa cobertura morta, pois geralmente se tem maior disponibilidade e apresenta características favoráveis ao cafezal como boa proteção do solo, baixa relação carbono/nitrogênio e capacidade de devolver a lavoura nutrientes extraídos pela produção principalmente o potássio. Este resíduo além da propriedade de realizar o controle de plantas daninhas por ação física, também pode inibir o nível de infestação dessas plantas por ação química, correspondendo o chamado efeito alelopático, que muitas coberturas mortas detém de forma diferenciada.

A existência do potencial de interferência química caracterizado por alelopatia, consiste na liberação de aleloquímicos elaborados pelas plantas e mantidos em seus tecidos vivos ou mortos, os quais ao serem lixiviados para o solo pela ação da chuva e do orvalho, exercem influências na germinação de sementes e/ou no desenvolvimento de plântulas de outras espécies.

Considera-se importante neste processo a classificação e a persistência de liberação desses produtos químicos e a quantidade disponível necessária para que possa causar efeito, sendo todas dependentes da espécie, constituição e idade do tecido vegetal fornecedor, bem como da intensidade de lavagem regida pelas condições de clima e solo.

Embora se verifique registro de comprovação de potencialidades alelopáticas em muitas coberturas mortas, existe a necessidade de maiores conhecimentos sobre a definição de seu uso direcionado e adequado sistema de manejo, visando sua maior eficiência sobre as plantas daninhas, como estratégia de redução do uso de herbicidas, minimização dos custos e melhoria das condições ambientais.

Com o pleno conhecimento da especificidade do potencial alelopático dessas coberturas, poderá ser viabilizada sua utilização racional e eficiente não só nas lavouras convencionais como também nas lavouras orgânicas, contribuindo para solidificar este recurso alternativo dentro do sistema de manejo integrado das plantas daninhas na lavoura cafeeira.

Julio Cesar Freitas Santos / Pesquisador Fitotecnísta
Embrapa Café / Epamig Patrocínio

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