BALANÇO SEMANAL — 24 a 28/09/2012
Semana foi marcada pela rodada de reuniões na 109ª Sessão do Conselho da Organização Internacional do Café, em Londres, e pelo anúncio do CMN de R$ 600 milhões adicionais para a linha de estocagem na safra 2012.
RODADA DE REUNIÕES DA OIC — Começamos a semana com uma boa notícia para o Brasil já no primeiro dia de reuniões da 109ª Sessão do Conselho da Organização Internacional do Café (OIC), em Londres. O pleito apresentado pela delegação brasileira para que o País sedie as reuniões e a celebração do cinquentenário da OIC foi aprovado e, assim, definiu-se que Belo Horizonte, capital do maior Estado produtor de café no Brasil, Minas Gerais, receberá as delegações das nações que compõem a Organização em 2013.
— Mecanismos de proteção:na terça-feira (25), foi realizada a reunião do Grupo Central do Fórum Consultivo sobre Financiamento do Setor Cafeeiro, que é composto por representantes do Conselho Nacional do Café (CNC) do Brasil, do Banco Mundial, da Aliança Financeira para o Comércio Sustentável e da Sucafina, trader suíça de café, tendo como presidente a embaixadora dos Estados Unidos Amy Karpel. As discussões se concentraram em como proporcionar mais instrumentos aos produtores de café para financiarem e gerirem os riscos da atividade em todo o mundo.
Os membros do grupo manifestaram a importância de se levantar mais informações e conhecimento sobre os mecanismos existentes para que os cafeicultores tenham maior acesso a esses mecanismos. Nesse sentido, o Conselho Nacional do Café citou a necessidade de uma maior oferta de lançadores de opções de venda no mercado, uma vez que este é um instrumento de fácil compreensão e utilização e que possui a vantagem de oferecer uma garantia de preço para os produtores. Explicamos que um programa de opções tem o poder de ampliar o volume de crédito aos cafeicultores, já que reduz o risco dos empréstimos.
Além disso, recomendamos que a OIC promova estudos para coletar informações sobre os principais instrumentos de gestão de risco utilizados pelos produtores, qual o grau de utilização no mundo e os principais agentes que oferecem liquidez desses mecanismos. Em posse desses resultados, a Organização poderá promover contatos com instituições financeiras para alavancar a utilização das ferramentas de gestão. O CNC sugeriu, ainda, que o Fórum procure fazer contato com a Aliança Internacional do Cooperativismo para promover a criação de cooperativas de produtores nos locais onde eles não possuem estruturas organizadas. O objetivo dessa iniciativa é gerar a esses cafeicultores o acesso a financiamentos para a promoção do com&eacu te;rcio sustentável.
— Impactos da certificação:também na terça, a OIC realizou um seminário sobre os impactos econômico, social e ambiental dos processos de certificação na cafeicultura. Na oportunidade, Committee on Sustainability Assessment (COSA), Rainforest Alliance, Kraft Foods, Iseal Alliance, African Fine Coffees Association (AFCA), Centro de Estudios Regionales Cafeteros y Empresariales (CRECE) da Colômbia, Indonesian Coffee and Cocoa Research Institute (ICCRI) e, pelo Brasil, Embrapa Café, fizeram apresentações sobre o tema.
Os principais pontos levantados nas abordagens foram consensuais no que diz respeito aos retornos gerados pela certificação, sendo este um importante processo para promover a conscientização e o uso de técnicas de melhoramento contínuo na cadeia produtiva do café. Segundo as explanações realizadas, certificar lavouras e produto é sinônimo de preservação do meio ambiente, melhoria do manejo na utilização da água, aumento da produtividade e da qualidade e melhora das condições de vida dos trabalhadores, com maior acesso à educação e à assistência médica.
No Seminário, o Brasil foi muito bem representado pelo gerente geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo, que apresentou o trabalho do braço cafeeiro da estatal no desenvolvimento de processos próprios de certificação, como o programa de Produção Integrada do Café (PIC), que conta com sólida base técnica e científica. Ele falou sobre as modificações estruturais na forma de produção do café e comentou que a certificação não deve ser vista como um fim, mas como um meio.
Bartholo destacou as mudanças no cultivo, no processamento e nas práticas comerciais, concluindo que as novas técnicas de sustentabilidade devem ser desenvolvidas com um sistema de produção que proporcione maior competitividade a seus participantes. Ele apresentou como exemplo de sucesso no Brasil, e que já conta com reconhecimento de algumas entidades internacionais, o Certifica Minas Café, programa criado na gestão de Silas Brasileiro — atual presidente executivo do CNC — à frente da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.
O gerente salientou, ainda, que, com os processos de certificação e a implementação de sistemas de produção sustentáveis, os produtores vivem a expectativa de melhorar a agregação de valor. Em relação ao comércio e à indústria, Bartholo frisou a necessidade de os produtores garantirem fornecimento de volume e qualidade demandados pelo mercado.
— Qualidade e consumo: Durante as reuniões da OIC, os países produtores se comprometeram a implementar um Programa de Melhoria do Café, almejando afastar do mercado a oferta de grãos de baixa qualidade, o que o CNC entende como uma medida que poderá contribuir para elevar o consumo internacional da bebida. Também ficou evidenciado um sentimento de maior unidade dentro da OIC no que diz respeito ao aperfeiçoamento dos índices de informação. Assim, acreditamos que o avanço da ciência e da tecnologia no campo permitirá uma redução nos custos de produção, fator que entendemos como fundamental para haver mais competitividade e, por conseguinte, estímulo ao consumo.
— Rússia: Neste ano, pela primeira vez a federação russa participou das discussões da Junta Consultiva do Setor Privado da OIC, que é constituída pelos principais países produtores e por nações consumidoras de café. A partir de 2013 a Rússia integrará a entidade como consumidor, fato que o CNC interpreta como importante, especialmente para o Brasil, pois existe a real possibilidade de abertura ainda maior deste mercado que já importa o café nacional.
MAIS RECURSOS PARA ESTOCAGEM —Em reunião ordinária realizada na quinta-feira (27), o Conselho Monetário Nacional (CMN) elevou em R$ 600 milhões o montante de recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) voltados às operações de Estocagem em 2012. Assim, o total destinado a esta linha chega a R$ 1,5 bilhão na safra atual.
Conforme anunciado em nossos boletins anteriores, o CNC trabalhou junto ao Governo Federal para a liberação desses R$ 600 milhões adicionais à Estocagem, entendendo que era necessário um montante de recursos satisfatório para que os produtores pudessem armazenar a safra e não fossem obrigados a vender assim que realizassem a colheita, fato que pressionaria sobremaneira os preços no mercado e reduziria a rentabilidade.
Agradecemos o empenho do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em relação à tramitação desse nosso pleito — aprovado por toda a cadeia produtiva no âmbito do Conselho Deliberativo da Política Cafeeira (CDPC) —, em especial ao ministro Mendes Ribeiro, aos secretários José Carlos Vaz (Executivo) e Gerardo Fontelles (Produção e Agroenergia) e ao diretor do Departamento do Café, Edilson Alcântara.
MERCADO — Nesta semana, os preços internacionais do café arábica permaneceram praticamente inalterados em relação ao desempenho do período anterior, com o contrato dezembro oscilando dentro do intervalo de US$ 1,70 a US$ 1,75 por libra peso na bolsa de Nova York.
Sem novidades no lado fundamental, as atenções estão voltadas para o clima no Brasil e, em especial, à florada nos cafezais, as quais já ocorreram antecipadamente no Espírito Santo e em alguns poucos pontos de Minas Gerais. Apesar de serem um dos alvos preferidos dos especuladores de mercado, o CNC recorda que o florescimento dos pés de café não revela, de fato, o montante a ser colhido em 2013, haja vista que isso depende do chamado “pegamento” dos “chumbinhos”, da transição das flores para grãos.
Dessa maneira, recomendamos que os produtores sigam buscando os recursos do Funcafé para estocagem junto aos agentes financeiros, pois isso lhes permitirá armazenar o produto de melhor qualidade e negociar esse café aproveitando os picos de mercado, de forma a obter renda na atividade, fugindo dos movimentos especulativos que deverão surgir em função da ocorrência de chuvas no cinturão produtor e do início da abertura das floradas.
Atenciosamente,
Silas Brasileiro
Presidente Executivo do CNC