hEDGEpoint divulgou levantamentos para a produção de café no Brasil, apontando 74,24 milhões de sacas de 60 kg na safra 2024/25.
Por Silas Brasileiro – Presidente do Conselho Nacional do Café
A Agência Reuters de Notícias publicou nesse dia 28/11, projeções feitas pela corretora e analista hEDGEpoint Global Markets, que divulgou levantamentos para a produção de café no Brasil, apontando um possível recorde histórico de 74,24 milhões de sacas de 60 kg na safra 2024/25. Tínhamos diversos assuntos para serem tratados nos próximos dias, mas ao tomar conhecimento da reportagem, de imediato, fizemos questão de alertar, tanto o mercado quanto o produtor, que tais informações não passam de abuso e especulação. Já dissemos em outras oportunidades que não gostamos de utilizar essas palavras, mas vamos ter de usá-las.
A terceira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a produção cafeeira no país em 2022 (publicada em setembro de 2023), com mais de 95% colhida em final de agosto, sinalizava um volume de 54.360,6 mil sacas. De acordo com os dados da Companhia, a colheita de café arábica deve chegar a 38,16 milhões de sacas. Cenário oposto é encontrado nas lavouras de conilon, onde é esperada uma queda de 11% na colheita quando comparado com o excelente resultado obtido em 2022, com estimativa de 16,2 milhões de sacas colhidas neste ano.
Sobre a previsão de 74,24 milhões de sacas
Em primeiro lugar, a falta de transparência por parte do levantamento realizado pela hEDGEpoint Global Markets sobre as metodologias utilizadas para chegar a essas previsões, levanta sérias questões sobre sua confiabilidade. O relatório não fornece informações detalhadas sobre os modelos, parâmetros e fontes de dados utilizados, deixando dúvidas quanto à robustez e validade dessas projeções.
Além disso, é essencial destacar a ausência de consideração às condições climáticas adversas que têm afetado a produção agrícola global, em especial, as regiões produtoras de café no Brasil. As previsões parecem subestimar a influência das mudanças climáticas, principalmente em uma cultura tão sensível às variações de tempo e clima como o café.
O recente período de seca, mencionado superficialmente nas matérias com esse tema, não pode ser simplesmente negligenciado, pois tem implicações significativas na produção. Sabemos que há possibilidade de que o El Niño seja extremamente agressivo e provoque um veranico extremo em janeiro de 2024, o que pode comprometer sobremaneira o volume de café a ser colhido no país nas próximas safras.
A especulação sobre recordes de produção também deve ser encarada com ceticismo diante do aumento dos preços do café. A pressão econômica pode estar influenciando as projeções, criando um ambiente propício para abusos e exploração de informações. A falta de uma abordagem mais cautelosa e fundamentada na realidade pode levar a decisões precipitadas no mercado, prejudicando os produtores e investidores.
É imperativo ressaltar que prever com precisão a produção agrícola, especialmente em larga escala como a cafeicultura brasileira, é uma tarefa complexa. As variáveis climáticas, sociais e econômicas são inúmeras e interligadas, tornando qualquer projeção uma estimativa incerta.
Aprimoramento das previsões
Diante desse cenário, o Conselho Nacional do Café (CNC) recentemente entrou em contato com o Diretor-Executivo de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), Sílvio Porto, que prontamente agendou uma reunião na segunda-feira, 13/11, com representantes do Dipai em busca de alinhar uma metodologia para o aperfeiçoamento do levantamento de safras de café do Brasil.
Assim, ficou definida a criação de um grupo de trabalho que contará com a condução da Conab, coordenado pelo CNC, contando com o apoio de cooperativas e outras entidades. Os envolvidos voltaram a se reunir na última segunda-feira, 27/11, para alinhar as tratativas e dar andamento no projeto. O Comitê Técnico de Estatística do CNC irá se reunir no dia 1º de dezembro, próxima sexta-feira, para iniciar os trabalhos. Ficou decidida a participação ativa e uma sólida parceria entre cooperativas, Conab, OCB, Conselho Nacional do Café e o Departamento de Comercialização do Mapa, sob o comando de Sílvio Farnese.
Por fim, a divulgação dessas projeções deve ser encarada com prudência. A falta de detalhes sobre a metodologia, a possível exploração da especulação e a subestimação das condições climáticas adversas levantam dúvidas sobre a credibilidade dessas estimativas. Em um setor tão dinâmico e suscetível a variáveis externas, é fundamental abordar as projeções com um olhar crítico e cauteloso.