BALANÇO SEMANAL — 04 a 08/02/2013
CNC solicita elaboração de votos para agilizar a liberação de recursos para as linhas de custeio, colheita e estocagem na safra 2013. No mercado, maior oferta do café conilon e aumento nos blends reduzem as cotações do café arábica.
RECURSOS DO FUNCAFÉ PARA 2013 — Nesta semana, em audiência com o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Gerardo Fontelles, solicitamos a elaboração de votos agrícolas, a serem encaminhados para apreciação do Conselho Monetário Nacional (CMN) na reunião de março, referentes à liberação dos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para as linhas de Custeio, Colheita e Estocagem na safra 2013.
Acertadamente, no ano passado, o governo voltou a disponibilizar os recursos em tempo hábil para os produtores, de maneira que não se sentiram pressionados a vender suas safras para honrar compromissos financeiros tão logo realizassem os trabalhos de cata, o que deu fôlego na base. O CNC acredita que a sequência das liberações no período correto ao cafeicultor brasileiro permitirá uma estruturação de bons tratos culturais ao longo das safras e, consequentemente, colaborará com a política que defendemos de um escoamento ordenado da produção, sem gerar pressão nas cotações nos meses de ápice de colheita.
OFERTA AMPLA? — Na terça-feira, 5 de janeiro, a Organização Internacional do Café (OIC) revisou para 144,5 milhões de sacas sua estimativa à safra mundial 2012/2013, volume que representa elevação de 7,3% frente ao ciclo anterior. Apesar de os especuladores tirarem proveito dessa informação para sugerir uma superoferta e pressionar ainda mais os preços – já em patamares absurdamente baixos quando se analisa os fundamentos –, recordamos que o consumo mundial da bebida aumentou 4,7% nos últimos quatro anos, chegando a 139 milhões de sacas em 2011, e que a OIC prevê continuidade desse incremento em 2012 e 2013, haja vista a recuperação da economia nos Estados Unidos e os sinais de revitalização na União Europeia.
Entendemos que o consumo de café continua resistente às preocupações da macroeconomia e que há espaço para crescimentos substanciais nos países produtores e, também, nas nações emergentes, destacadamente na Ásia. Além disso, não esqueçamos que os estoques se encontram em níveis historicamente reduzidos, tanto nos produtores, quanto nos importadores. Ou seja, falar em oferta ampla de café é um abuso e não passa, novamente, de aproveitar um espaço que se tem na mídia para interferir negativamente no mercado e tirar proveito ao comprar o produto a baixos preços, que sequer cobrem os custos do produtor.
PROJEÇÃO DO IBGE — Em linha com o raciocínio de que não haverá superoferta e que o volume mundial produzido se equivalerá à demanda, ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou sua nova estimativa para a safra 2013 de café do Brasil. A expectativa do órgão é que o Brasil colherá 47,8 milhões de sacas neste ano, ou 5,9% a menos do que as 50,8 milhões de sacas produzidas em 2012. Esse volume está dentro do intervalo previsto pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – 46,98 milhões a 50,16 milhões de sacas – e esperamos que sirva para acabar definitivamente com as especulações de que o colheremos mais café do que no ano passado, como alguns “profetas” vem cravando. Até porque, em seu anúncio, o IBGE alerta que os “custos de produção elevados e problemas com mão de obra também pesaram bastante em 2012 e podem influenciar negativamente a safra atual”.
MERCADO — Os contratos futuros do café arábica voltaram a registrar fortes perdas no acumulado desta semana na bolsa de Nova York. Esse movimento pode ser explicado pelo fato dos mercados futuros serem regidos por expectativas, que funcionam como movimentos, como marés. Essas marés se formam e avolumam com especulações e fundamentos. Nesse contexto, muitas vezes as expectativas que estão no rumo da maré atropelam os fundamentos que vêm em sentido contrário, como ocorre atualmente, com o mercado sendo dominado por uma maré de baixa e, nela, especula-se uma ampla oferta do grão, o que não corresponde à realidade.
Mas não são apenas especulações que formam esses movimentos, pois os fundamentos que vêm junto os ajudam a ganhar corpo. Com as notícias de redução da oferta global de cafés arábicas e possível escassez para suprir a demanda, as indústrias foram ágeis e procuraram no conilon a garantia de suprimento que necessitavam. Esta ação ficou evidenciada com o aumento das exportações do Vietnã nos últimos meses e também pelo fortalecimento das cotações desta variedade, reduzindo a sua diferença em relação aos arábicas.
Paradoxalmente à teoria econômica, nem sempre os mercados obedecem a sua lógica, principalmente quando tem um produto parecido que possa ser utilizado em substituição. Senão vejamos. Com a redução da oferta de arábicas e maior disponibilidade de robustas, o que se poderia esperar? Aumento dos preços dos arábicas e aumento dos diferenciais entre as duas variedades de cafés. O que aconteceu? O oposto.
De acordo com o Indicador CEPEA/ESALQ, na média da temporada 2012/13 (julho/12 até janeiro/13), o arábica tipo 6, bebida dura para melhor, recuou 24% ante mesmo período de 2011/12, enquanto o arábica tipo 7, bebida rio, caiu apenas 7%. Nesse cenário, o diferencial entre esses tipos tem se estreitado. Em fevereiro de 2011, a saca do tipo 6 valia R$ 198 a mais; no mesmo mês de 2012, a diferença esteve em apenas R$ 97 e, agora, início de fevereiro, limita-se a cerca de R$ 50. Portanto, o mercado nos mostra que, no café, a teoria física dos vasos comunicantes tem imperado. Na falta de uma variedade, a indústria, com recursos tecnológicos cada vez melhores, consegue mudar rapidamente a composição dos seus blends.
Porém, muitos outros fundamentos positivos, que neste momento estão sendo “atropelados” pela maré de baixa, hão de ressurgir no seu movimento contrário. Nesta hora, vai se noticiar novamente a quebra de safra dos centrais, o reduzido estoque das indústrias, o aumento do consumo, etc. Portanto, mantemos a recomendação de cautela nos movimentos de baixa e de vendas parceladas na recuperação do mercado. Com a recente extensão de prazo de pagamento dos financiamentos de estocagem, temos um cenário favorável para a sustentação dos preços no mercado físico, mesmo com as quedas nos contratos futuros.
Atenciosamente,
Silas Brasileiro
Presidente Executivo do CNC
Comentários
Renato Sanches Leal
Todos os procedimentos governamentais ou qualquer outro resultaram em menor preço! Portanto o caminho não esta dando certo, outras leituras e realidades tem que ser melhor entendidas. Devemos ter uma leitura real e melhor embasada e também olhar o outro lado que não gostamos.