CNC é contrário ao aumento da produção de café sem a implantação de programas que estimulem o avanço do consumo

121ª Sessão do Conselho Internacional da Organização Internacional do Café (OIC), realizada na cidade do México (MEX)

Por: BALANÇO SEMANAL — 16 a 20/04/2018

 
 


 
FUTURO DA CAFEICULTURA — Chegamos recentemente da 121ª Sessão do Conselho Internacional e das demais reuniões da Organização Internacional do Café (OIC), realizada na cidade do México (MEX) ao longo da semana passada, quando discutimos uma extensa pauta, dentro da qual predominou o desafio para os países produtores aumentarem o volume de café ofertado para o mercado consumidor, sem nenhuma proposta para o aumento do consumo.
 
Essa postura dentro do principal fórum da cafeicultura mundial choca e nos causa extrema preocupação, pois observamos, ao longo dos dois últimos anos pelo menos, que existe equilíbrio entre oferta e demanda. Diante disso, manifestamos, por meio da delegação brasileira presente na rodada de reuniões, que não aceitaremos quaisquer projetos que almejem o aumento da produção sem que esteja atrelado à elevação do consumo global, haja vista a necessidade de preços remuneradores aos cafeicultores, que vivenciam cenários de falta de competitividade em função das cotações aviltadas, que sequer cobrem os custos de produção.
 
O que ficou evidente é que os consumidores querem café sem se preocupar com a sustentabilidade dos produtores, em especial a econômica, porque, diante da falta de perspectiva para aumento dos preços, sequer mencionaram alguma iniciativa mais pragmática que auxilie a esse respeito.
 
Tendo ciência que os cafeicultores estão sujeitos a intempéries e adversidades climáticas, além dos movimentos especulativos dos fundos no mercado internacional, o Brasil, por meio de posicionamento do presidente executivo do CNC, deputado Silas Brasileiro, diante desse descaso, manifestou que não aceitaremos propostas alternativas que venham a comprometer o futuro da atividade cafeeira e que reagiremos para a implantação de programas que aumentem o consumo mundial não apenas nas nações importadoras, mas também nas produtoras, possibilitando geração de renda e agregação de valor ao elo produtivo.
 
Alertamos que o Brasil faz a sua parte. Se por um lado somos o maior produtor mundial de café com 50 milhões de sacas em média, somos também consumidores de 42% da nossa produção, fazendo o nosso dever de casa. Informamos que continuaremos investindo em pesquisa, tecnologia e conhecimento, gerando variedades mais produtivas e resistentes a condições climáticas e a pragas e doenças.
 
Informamos que também seguiremos trabalhando para a modernização de nossas Leis Trabalhista e Ambiental – que são as mais avançadas do mundo –, nas políticas de proteção aos preços, como operações em mercado futuro, e a interação com o setor industrial para desenvolvermos projetos e/ou consórcios de compradores para conseguirmos a aquisição de insumos mais eficientes e a preços mais justos.
 
Também diante do descaso em relação aos preços a serem pagos para os produtores de café, anotamos que estamos avaliando, no Brasil, se atualmente é conveniente abrir novas áreas com a cultura, ampliando nosso parque, ou renovar lavouras antigas menos produtivas e com espaçamento obsoleto, com grande desperdício de área.
 
Além disso, institucionalmente o CNC recorda que vem trabalhando o planejamento estratégico da cafeicultura brasileira, com o maior envolvimento de nossas cooperativas e nos aproximando das entidades que ainda não são associadas, para termos simetria de posicionamentos, e, para ampliarmos nosso leque de associados e de ações, estamos propondo a ampliação de nossa sede em Brasília (DF) e já está em andamento uma grande reforma em nosso escritório de São Paulo, criando uma infraestrutura para reuniões mais amplas, encontros de cúpula entre países produtores, consumidores, indústria e comércio, fornecedores de insumos em escala.
 
Tudo isso vem ao encontro de nossa proatividade e do significado de sermos mais ativos em benefício de nossas cooperativas de produtores e de crédito, cumprindo, enfim, o objetivo de uma política de resultados.
 
PLANO AGRÍCOLA E PECUÁRIO — Na quarta-feira, 18 de abril, o presidente executivo do CNC, deputado Silas Brasileiro, protocolou ofício endereçado ao secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Wilson Vaz de Araújo, apresentando sugestões ao Plano Agrícola e Pecuário 2018/19.
 
– Preços mínimos: o primeiro pleito apresentado diz respeito aos preços mínimos para o café na safra 2018. Dando continuidade aos trabalhos realizados nos últimos meses, o CNC solicitou a revisão da Portaria Mapa Nº 438, de 28 de março, que fixou os valores mínimos para os cafés arábica e conilon na safra 2018/19 em R$ 341,21 e R$ 202,19, respectivamente, com variações de 2,46% e de -9,57%, patamares que são incoerentes com a realidade dos custos de produção vivenciada por grande contingente de cafeicultores.
 
No documento, elucidamos que o preço mínimo estabelecido para a variedade arábica está aquém dos custos de produção apurados em importantes regiões cafeeiras do Brasil, compostas, principalmente, por produtores de pequeno porte. Para ilustrar esse fato, citamos os custos operacionais efetivos de café arábica apurados pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) em parceria com a CNA, que variaram entre R$ 349,35 e R$ 389,57 por saca nos municípios mineiros de Capelinha, Guaxupé e Santa Rita do Sapucaí e em Franca (SP) e Apucarana (PR).
 
Sendo o preço mínimo a base das políticas públicas de apoio à manutenção do produtor na atividade em períodos que as cotações caem abaixo do custo de produção, é fundamental que o Governo conceda um reajuste de, no mínimo, 10% em relação ao valor do arábica vigente na safra 2017 (R$ 333,03/saca). Caso contrário, os instrumentos de política agrícola para a garantia de renda não terão eficácia social, já que não serão capazes de alcançar os produtores mais necessitados.
 
Em relação aos preços mínimos do café conilon, consideramos inaceitável a queda de -9,57% frente ao valor da safra 2017 (R$ 223,59), principalmente porque os custos operacionais efetivos do conilon apurados pela UFLA/CNA são superiores às cotações mínimas fixadas para a safra 2018 (R$ 202,19) em todas as origens produtoras da variedade: Cacoal (RO), R$ 240,59; Itabela (BA), R$ 228,62; e Jaguaré (ES), R$ 215,22. Para piorar este cenário, recordamos que os produtores de robusta enfrentarão aumento de despesas na temporada que se aproxima.
 
Lembramos, ainda, que a produção brasileira de café conilon foi duramente afetada por longos períodos de estiagem entre 2014 e 2017, o que levou ao esqueletamento de muitas lavouras e à redução dos tratos culturais. Esse fato refletiu nos levantamentos oficiais dos custos de produção, criando a impressão de custos decrescentes. Contudo, alertamos que essa situação foi passageira e, neste ano, com a retomada da produção devido ao clima mais favorável, haverá incremento do uso de fatores de produção, como insumos e mão de obra, resultando em curva crescente de despesas.
 
Devido a isso, o CNC apresentou como fundamental que os preços mínimos do café conilon tenham reajuste, pelo menos, de 5% em relação aos R$ 223,59 vigentes na safra 2017, de forma que seja garantida a eficácia das políticas públicas, principalmente em uma colheita que se inicia sob a égide de especulações a respeito de volumes produzidos, com impacto de aviltamento na renda dos cafeicultores.
 
– Juros: outro pleito da cafeicultura brasileira se refere à urgente necessidade de redução das taxas de juros do crédito rural, inclusive do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), que atualmente se encontram acima da taxa Selic. O CNC expôs que é vital que os juros se ajustem à realidade macroeconômica do Brasil, sendo mantida a flexibilidade para que os agentes financeiros possam ofertar taxas inferiores às oficiais, conforme a conquista obtida na Resolução 4.603, de 19 de outubro de 2017.
 
MERCADO — O mercado internacional do café arábica registrou queda ao longo desta semana, possivelmente pressionados pela até então normalidade do clima nas regiões produtoras brasileiras, que deve possibilitar a entrada da safra no mercado dentro do período considerado normal, entre maio e junho.
 
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia aplicada (Cepea), o clima mais firme nas últimas semanas favorece a maturação dos grãos arábica na maior parte das regiões acompanhadas pela instituição. No Espírito Santo, há alguns registros de precipitações, também favorecendo as lavouras, haja vista que a expectativa é para uma colheita um pouco mais tardia nesta temporada.
 
Para a Somar Meteorologia, o tempo aberto da madrugada favorece as temperaturas baixas no fim de semana no Sudeste, principalmente nas áreas da Serra da Mantiqueira e no sul de Minas, onde a sensação de frio será maior nas primeiras horas do dia. Para o período da tarde, a previsão é que as temperaturas subam na Região. “Por causa de instabilidades as nuvens aumentam no fim do dia e pode chover isolado e com baixos acumulados no Rio de Janeiro, no interior de Minas, no Espírito Santo e no oeste paulista”, prevê o serviço.
 
Ontem, o dólar retomou o nível de R$ 3,40 no pregão, após três quedas consecutivas, que levaram a cotação à vista a testar uma mínima de R$ 3,37. Segundo analistas, o ajuste interno acompanha, parcialmente, a desvalorização das moedas emergentes e ligadas a commodities frente à divisa no mercado externo. Ainda assim, a recuperação não tirou o saldo negativo semanal, com o dólar recuando 1% ante o real e encerrando a quinta-feira a R$ 3,3915.
 
Na Bolsa de Nova York, o vencimento julho do contrato “C” encerrou a sessão de ontem a US$ 1,1625 por libra-peso, com perdas de 325 pontos na comparação com a semana anterior. Na ICE Europe, o contrato com vencimento em julho de 2018 do café conilon foi cotado, ontem, a US$ 1.767 por tonelada, avançando US$ 31 na semana.
 

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