08/05/2013
Novo preço mínimo do café, inferior aos custos de produção, só servirá ao produtor se o Governo atuar diretamente no mercado por meio de leilão de PEPRO
O preço mínimo do café arábica, fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em R$ 307,00, a saca de 60 kg, está abaixo dos custos de produção, o que desmoraliza os cálculos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que identificou um custo de produção de R$ 336,13 por saca. A avaliação é da presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, que defende a adoção de mecanismos de intervenção no mercado pelo Governo, casos do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (PEPRO) e do Programa de Opções Públicas de Venda, como a única maneira de a medida surtir algum efeito prático para o produtor.
Para a CNA, somente dessa forma seria possível proporcionar melhores condições para o financiamento e escoamento da safra e alguma garantia de renda ao produtor. Para cobrir os custos de produção do cafeicultor, a CNA defendeu a fixação de um novo preço mínimo do café de R$ 340,00. O preço mínimo de R$ 307,00, divulgado hoje pelo Ministério da Agricultura, representa uma defasagem de 9,71% em relação ao solicitado pelo setor. O valor de R$ 261,69, em vigor para a safra 2012/2013, foi fixado em 2009, muito aquém das atuais necessidades da cafeicultura.
Antes do anúncio do novo preço mínimo, previsto inicialmente para 28/4, a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, levou aos ministérios da Fazenda e da Agricultura o cenário de forte perda de renda do setor diante da crescente elevação dos custos de produção e queda dos preços de mercado.
A polêmica expectativa em relação à aprovação de novo preço mínimo para o café arábica e o valor a ser fixado deixou o mercado totalmente instável e com baixo interesse nos negócios. As cotações do café operaram em alta, na última semana, nos mercados futuros do Brasil e de Nova Iorque, principalmente devido às previsões de chegada de duas frentes frias nas regiões produtoras do País.
Intervenção – A CNA defende a imediata intervenção do Governo no mercado cafeeiro, para dar alguma estabilidade ao produtor antes que a colheita do café se intensifique. Na Zona da Mata, em Minas Gerais e Espírito Santo, por exemplo, os produtores já iniciaram a colheita. Levantamento feito pelo Campo Futuro/CNA aponta que os custos de produção estão acima de R$ 350,00 a saca, em regiões como Guaxupé/MG, Santa Rita do Sapucaí/MG e Manhumirim/MG, valor muito superior ao preço mínimo fixado pelo CMN.
A cafeicultura de montanha, na região de Manhumirim/MG, tem trabalhado com um custo de produção total de R$ 571,28/saca, segundo dados do Campo Futuro 2012. Com a média do preço de venda nos últimos oito meses (de julho/12 a mar/13) de R$ 320,09/saca, o prejuízo por saca é de R$ 251,19, comprovando a grave descapitalização do cafeicultor.
“Se levarmos em consideração que, em 2012, cerca de 25,4 milhões de sacas foram colhidas por produtores de regiões montanhosas, o prejuízo nos últimos oito meses ficou em torno de R$ 6,38 bilhões”, afirma a presidente da CNA. Cabe lembrar que cerca de 50% da cafeicultura brasileira está localizada em regiões de montanha, onde os custos se equivalem pelo uso intensivo da mão de obra.
Tendência – Análise da CNA mostra a tendência de baixa do mercado cafeeiro. Só em 2012, a queda dos preços do café arábica foi de 36%, acumulando baixa de 10% no ano. Revela, também, que não existem fatores concretos capazes de reverter, no médio prazo, essa queda de preços no mercado de café. Isso porque a pressão provocada pela oferta de café, em consequência da colheita do produto no Brasil, tende a reduzir ainda mais os preços obtidos pelo cafeicultor.
O preço médio de venda do café arábica, na semana passada, nos municípios mineiros, foi de R$ 296,50 a saca. Valor insuficiente para cobrir os custos de produção dos cafeicultores que poderia ser amenizado por meio de leilão de PEPRO.