Breno Fonseca
Apesar de ainda só serem produzidos em pequena escala, mudas feitas por sistema vegetativo demoram 20 anos a menos que por sementes
Normalmente realizada através das sementes, a produção de mudas de café arábico pode ser feita também por cultura dos tecidos das folhas dos cafeeiros. Porém, a fixação de todas as características pela técnica tradicional de melhoramento leva cerca de 30 anos de trabalhos, enquanto que a multiplicação vegetativa apresenta a vantagem de oferecer variedades selecionadas em um período de 10 anos. É o que conta o pesquisador Carlos Henrique Siqueira de Carvalho, um dos responsáveis pela pesquisa para a produção de mudas por clonagem na cafeicultura.
De acordo com Carlos Henrique, uma única folha pode fornecer de 10 a 20 mil mudas. E é exatamente a produção em larga escala das mudas o objetivo principal do projeto iniciado em 2000 pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e, há seis anos, levado adiante pela Embrapa café e pela Fundação Procafé. O pesquisador da Embrapa explica que o processo de clonagem é feito através da cultura de tecidos em laboratório, depois de selecionadas as plantas com as características desejadas em campo.
— Coletamos algumas folhas, levamos para o laboratório, fazemos uma limpeza para retirar contaminantes e cortamos as folhas em pequenos pedacinhos, que são colocados em uma gelatina que tem os nutrientes necessários para induzir o crescimento de um pequeno calo no pedaço foliar, onde serão formados minúsculos embriões, muito semelhantes aos que vemos nas sementes de café. A partir de então, forma-se a muda de café — esclarece o pesquisador, acrescentando que a nova tecnologia foi desenvolvida para multiplicar os cafeeiros de maior potencial agrícola e resistência a doenças e pragas, como o bicho mineiro, freqüente em várias regiões do país, principalmente no Cerrado.
As mudas clonais representam uma alternativa ao produtor rural, já que a finalidade do trabalho é disponibilizá-las aos cafeicultores. Segundo o pesquisador da Embrapa café, o próximo passo é otimizar a técnica, que já existe em pequena escala. Assim, as mudas serão produzidas nas chamadas biofábricas, laboratórios especializados na produção de mudas em proporções comerciais. Carlos Henrique comenta que, caso o cafeicultor ainda não tenha acesso à clonagem, ele pode utilizar em sua propriedade outras técnicas, como a estaquia, mas que, ao final de 2011, serão montados uma série de experimentos junto aos produtores.
— Já temos plantas no campo que foram multiplicadas através dessa tecnologia e outras selecionadas sendo avaliadas em várias regiões. O que estamos fazendo é multiplicando as plantas matrizes que vão dar origem às mudas clonais para que possamos montar experimentos em grande quantidade. Até porque alguns pés de café são interessantes mas não podem ser multiplicados por semente, pois são híbridos oriundos do cruzamento entre dois outros tipos, o que lhes diferencia das plantas mães. Nesse caso, fazemos, portanto, a multiplicação vegetativa em laboratório — conclui Carlos Henrique.
Para maiores informações, basta entrar em contato com a Embrapa café pelo telefone (61) 3448-4378 ou com a Fundação Procafé pelo (35) 3214-1411.