Clima seco favorece a colheita do café em Minas Gerais

Williams Ferreira 1, Marcelo Ribeiro 2
 


(Viçosa, 19.04.2017) – O início do outono foi marcado por chuvas esparsas que
contribuíram para a etapa final de enchimento de grãos do café, tal condição
também deverá contribuir com a granação dos frutos da próxima safra de café que
está iniciando em Minas Gerais. Apesar destas chuvas, algumas colheitas mais
precoces têm demonstrado alto índice de frutos chochos, que podem estar
associados aos pequenos veranicos ocorridos
anteriormente.
 
Chuvas no mês de março em Minas
Gerais

Em Minas Gerais, ao longo do mês de março, o total
acumulado de chuva foi inferior a 100 mm sendo que nos primeiros vinte dias as
chuvas foram mais concentradas na região Centro-Sul do estado e nos últimos dez
dias choveu mais na porção Centro-Norte e Leste do estado (Figura 1).Do total
que choveu em março, apenas em pequenas áreas do Triângulo Mineiro, Noroeste e
Leste foram registradas chuvas acima da média (acima de 100%), ao passo que
valores abaixo da média (abaixo de 100%) foram observados em todas as regiões
mineiras, sendo que em muitos pontos os valores observados foram inferiores a
60% da média, isto é, choveu aproximadamente 2/3 do que normalmente ocorre no
mês de março (Figura 2) levando Minas Gerais às atuais condições de défict
hídrico o qual pode ser visto na Figura 3a.
 


01 a 10 de
março             
11 a 20 de
março                
21 a 31 de março



Figura 1 – Informações de chuva acumulada a cada 10 dias em Minas Gerais
ao longo do mês de março de 2017.


(a)              
(b)

Figura 2 –a) Valores percentuais de chuvas que ocorreram no mês de
março em relação à normal climatológica (valor igual a 100%); b) déficit hídrico
registrado no dia 31 de março de 2017. Fonte: SISDAGRO – www.inmet.gov.br
 
El Nino/La
Nina


Nas últimas semanas, as condições de temperatura na superfície do Oceano
Pacífico Tropical sugerem a permanência de condições de neutralidade em relação
ao fenômeno ENOS, ou seja, sem a presença de El Niño ou La Niña. Modelos
internacionais que monitoram o fenômeno ENOS indicam alta probabilidade de que o
Oceano Pacífico Tropical se mantenha em uma fase de neutralidade no primeiro
semestre de 2017, fazendo com que para Minas Gerais seja esperado o
comportamento climático dentro da normalidade para a estação do
ano.

Comportamento climatológico, ou normal, das temperaturas e chuvas no
trimestre abril a junho, conforme série histórica de dados:


Neste trimestre, no qual ocorre a maior parte do outono, as temperaturas caem
gradualmente, principalmente as mínimas, evidenciando a transição para o
inverno. A partir de abril, a amplitude térmica aumenta, com temperaturas
elevadas à tarde e amenas à noite e no início da manhã. Normalmente, no mês de
maio as massas de ar frio, com intensidade moderada a forte, conseguem atingir a
Região Sudeste, favorecendo a ocorrência da primeira onda de frio no estado
provocando, assim, à queda brusca de temperatura de um dia para o outro,
contribuindo para que as temperaturas permaneçam amenas por alguns dias. É
também em maio que normalmente são observadas as primeiras geadas nas regiões
serranas do Sul do Minas.


Com relação as chuvas, já no mês de abril, há redução gradativa na frequência
e nos totais acumulados de chuva, evidenciando o fim do período chuvoso. Em
maio, as chuvas são raras e praticamente restritas ao Centro-Sul e à faixa Leste
do estado. No mês de junho, praticamente não chove em grande parte da faixa
Norte. Tal comportamento revela o início da estação seca (Figura 3).



Abril                                      
Maio                                      
Junho
 
Figura 3 – Distribuição das chuvas em Minas Gerais, para os
meses de abril, maio e junho, médias climatológicas para o período
1961-1990.
 
Prognóstico para o trimestre

As chuvas poderão
variar entre os valores normais a abaixo da média, no Oeste e no Sul de Minas
Gerais, e as temperaturas tendem a ficar ligeiramente acima da média no Oeste,
Centro-Sul e Sudeste do estado. Para o mês de maio, em Minas Gerais, a Região
Sul é aquela na qual é esperado pequena anomalia negativa na precipitação, ou
seja, volumes de chuva pouco abaixo dos valores normais para o período.


 


Figura 4 – Previsão sazonal probabilística para o trimestre abril, maio e
junho de 2017. Fonte INMET.
 
O Café
Pode-se dizer que em Minas
Gerais, a estação seca já inicia com déficit de chuva, o que pode causar grande
estresse hídrico às lavouras de sequeiro no decorrer da estação. Na cafeicultura
o estresse hídrico associado a temperaturas mais elevadas, favorece a ocorrência
da maturação precoce dos frutos, fato esse já identificado na atual safra,
podendo contribuir para o menor acúmulo de fotoassimilados,e interferir também
na rota de açúcares, o que poderá comprometer à qualidade da bebida da próxima
safra. A possibilidade de volumes de chuvas abaixo dos valores médios, em
algumas regiões do estado, poderá também beneficiar o processo de secagem no
terreiro e, consequentemente, favorecer a qualidade do café. Os produtores devem
estar atentos à manutenção das máquinas, como o processo de engraxamento seguido
do teste dos demais equipamentos antes da utilização no campo, para não terem
surpresas durante o início da colheita da atual safra. Demais materiais
utilizados na colheita, como panos e sacarias, entre outros, também devem ser
adquiridos com antecedência.
O prognóstico
A análise e o prognóstico
climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no
histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles
atuantes na América do Sul. Foram consideradas ainda as informações
disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas
sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de
Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia
elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da
Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo 5º
DISME/INMET. Pelo fato do prognóstico climático fazer referência a fenômenos da
natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças
drásticas, a EPAMIG, a Embrapa Café, o INMET e demais órgãos que serviram como
fonte de consulta para elaboração desse documento, não se responsabilizam por
qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a
terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Sendo
de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui
disponibilizadas.
 
1 Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG UREZM na
área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas
voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais. – williams.ferreira@embrapa.br ou
williams.ferreira@epamig.br


2 Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a
cultura do café. mribeiro@epamig.br


 

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