O período de estiagem atípico que atingiu o Espírito Santo de abril até o último mês pode prejudicar a produtividade das lavouras na próxima safra. A escassez de chuvas entre julho e setembro, época da florada, pode prejudicar a qualidade dos frutos e afetar o rendimento das lavouras na próxima colheita.
Apesar de agosto ter ficado dentro da média esperada, a falta de chuvas nos outros meses anulou essa normalidade. O estado é o maior produtor brasileiro de conilon, e, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), produziu 7,4 milhões de sacas de 60 quilos na safra 2008. O número corresponde a 70% da safra total de conilon do Brasil.
Dados mostram que em setembro as chuvas atingiram apenas 14% da média histórica de 70mm no município de São Mateus, norte do estado. André Madeira, da Climatempo, explica que a presença de uma massa de ar quente e seco sobre a região até o último mês impedia a ocorrência de chuvas. “Essa situação deve se normalizar daqui para frente. Mas a quantidade de chuva perdida vai fazer muita falta para a produção na região”.
Em São Gabriel da Palha, os produtores acreditam que a quebra da safra é praticamente certa. Antônio Joaquim de Souza Neto, presidente da Coabriel, a maior cooperativa do Espírito Santo, avalia uma redução de pelo menos 30% na próxima safra. “Os açudes da região secaram e isso prejudicou até quem tinha como irrigar”, explica.
O relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Avançada, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) revela que, por esse motivo, as vendas no mercado físico estão praticamente paradas, pois os produtores apostam em alta no médio prazo. Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, diz que ainda é um pouco cedo para calcular possíveis perdas. “Sabemos que a situação no Espírito Santo é preocupante, mas é prematuro falar em quebra”, disse. Ele acrescenta que por causa da importância que a região possui na produção brasileira, possíveis problemas podem elevar as cotações.
O grão é tradicionalmente destinado ao consumo doméstico, mas a quebra na safra do Vietnã em 2006 – maior produtor mundial do conilon -, provocou um aquecimento nas exportações até o início deste ano. No caso do café tipo arábica, as condições do clima estão normais em Minas Gerais, principal produtor do grão. Marcelo de Moura Almeida, diretor de gestão de agronegócio da Cooparaíso, revela que os tratos culturais na região estão atrasado porque as chuvas atrapalham o final da colheita, “mas isso não deve provocar nenhum prejuízo”. A reportagem é de Roberto Tenório, da Gazeta Mercantil.