MÁRIO CORRÊA
Aquecimento global pode gerar perdas por meio de quebras de safras de até 40% nas principais culturas.
As mudanças climáticas causadas pela degradação do meio ambiente deverão reduzir entre 20% e 40% a safra de alguns dos principais produtos agrícolas mineiros, como café, milho, feijão e soja. A avaliação é do chefe do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa e coordenador da equipe de Especialistas em Mudanças Climáticas da Organização Metereológica Mundial (OMM) da Organização das Nações Unidas (ONU), professor Luiz Cláudio Costa.
Apenas a safra de café, segundo maior produto na pauta de exportação mineira, deverá ter perda de 30% em 2020 com a elevação da temperatura. “E a situação tende a piorar nas prospecções para 2050”, salientou. A pesquisa foi realizada pelo grupo de estudiosos ligado à ONU, que recebeu o último prêmio Nobel da Paz devido aos alertas, cientificamente embasados, sobre o aquecimento global.
Conforme o professor, até 2100 a temperatura média em Minas deverá subir entre 2øC e 5øC, podendo causar verdadeiras catástrofes nas lavouras, sensíveis à variações mínimas de calor. “E o problema não é só a temperatura média, mas sim os extremos de temperatura, que vão se agravando”, explicou.
De acordo com ele, a seca pela qual o Estado passa já é efeito das mudanças ocasionadas pela atividade humana no clima. “ um exemplo dos extremos a que podemos chegar, com temperaturas muito altas fora de época. A tendência é piorar caso as ações de prevenção não sejam feitas”, disse Costa.
Os produtores de café do Estado já estimam perdas entre 10% e 30% da safra 2008/2009 devido à estiagem este ano. A produção mineira da colheita 2007/2008 está estimada em 14,8 milhões de sacas, cultivadas em uma área de 1 milhão de hectares, conforme levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Valorização – Na esteira do clima seco, o preço do grão está subindo. Entre junho e agosto, a saca do produto oscilou entre R$ 230 e R$ 245. Entretanto, como a chuva esperada para setembro não veio, o produto saltou para patamares de R$ 265 a R$ 270. “Esses problemas que estamos tendo agora são irreversíveis, pois os gases já estão na atmosfera e demoram mais de dois séculos para se dissiparem. Os estudos que realizamos agora servem para nos ajudar a lidar com esse novo cenário”, disse.
Segundo o professor, o estudo apontou ainda queda de 20% para a soja e feijão em 2020. “Isso supondo um cenário que não é nem otimista nem pessimista. A situação pode tanto ser pior quanto um pouco melhor”, afirmou.
Além da redução da emissão de gases poluentes, cessão do desmatamento e outras ações ligadas à preservação do meio ambiente, a tecnologia agrária também pode amenizar a situação. “Dependendo do nível de avanço tecnológico das lavouras, com novas sementes mais resistentes, por exemplo, as perdas poderão ser reduzidas em 10% a 12%”, ressaltou.
Além disso, o mapeamento das mudanças em cada região produtora do Estado ajudará os produtores a adaptarem o ciclo de plantio de acordo com as novas temperaturas. Conforme Costa, mesmo que as emissões de gases poluentes volte aos padrões e 1990, ocorrerá um aquecimento residual nos próximos anos, agravando as mudanças. “Com uma pesquisa mais apurada podemos orientar o setor a lidar com o clima diferente do que ele está acostumado”, afirmou.