A fase de florada dos cafezais no Brasil, que ocorrerá em setembro, deverá enfrentar um volume de chuvas insuficiente, o que já preocupa produtores e compradores do grão e anima os especuladores no mercado futuro.
A etapa é crucial para permitir um bom potencial produtivo dos pés, e a umidade baixa pode se refletir em uma nova quebra de safra em 2015/16. Recentes previsões climáticas indicando precipitações abaixo da média no próximo mês na região Sudeste motivaram uma elevação de 5,59% (ou 10,5 pontos) nos contratos do café arábica de segunda posição negociados na bolsa de Nova York em apenas dois dias. Ontem, esses papéis fecharam em US$ 1,9815 a libra-peso, patamar que não se observava desde o início de maio.
Previsões da Somar Meteorologia indicam que a região Sudeste deverá receber entre 50 milímetros e 100 milímetros de chuva em setembro, abaixo da média para o mês, de 120 milímetros. O problema mais grave, porém, é a possibilidade de precipitações irregulares, que podem provocar um abortamento dos botões.
“Como o solo já está com um baixo nível de umidade, precisaria chover bem no máximo sete dias depois da primeira chuva, senão a florada começa a cair”, afirmou Marco Antonio dos Santos, da Somar. No cenário ideal, as regiões produtoras deveriam receber entre 20 milímetros e 30 milímetros de chuva por semana para assegurar umidade adequada.
O cenário é diferente do observado na safra 2013/14, que recebeu boas doses de precipitações na primavera de 2013 e foi prejudicada pela seca apenas quando os grãos já estavam em fase de enchimento. No ciclo atual, os cafezais já vêm sofrendo com a baixa umidade dos solos desde janeiro. Além disso, a produção da temporada 2015/16 no país já tende a ser menor por conta da bianualidade da cultura.
A perspectiva pessimista para a produção brasileira já tem oferecido suporte para os preços na bolsa nova-iorquina e pode continuar mantendo a alta nos próximos dias, segundo Albert Scalla, vice-presidente sênior da FCStone para a América Latina. “Se passar mais de duas semanas e ainda tivermos seca nas lavouras do Brasil, o mercado pode ter um subida substantiva”, afirmou.
O analista ressaltou que, apesar da safra menor em 2013/14, o mundo não vive um déficit de oferta diante dos estoques ainda suficientes para atender a demanda, mas ele estima que duas quebras consecutivas na produção podem inverter o quadro.
A florada para a próxima safra deverá ocorrer na segunda quinzena do mês que vem. Até lá, deverão ocorrer dois episódios de chuva no Sudeste, conforme Santos, da Somar Meteorologia. Porém, a perspectiva é que as precipitações só voltem a cair com regularidade em outubro.
Com isso, os investidores especulativos já começam a comprar novas posições – e o comportamento das chuvas e dos preços nos próximos 30 dias deve ser determinante para definir o preço dos próximos nove a 12 meses, estima Scalla, da FCStone.
O diretor de commodities da Newedge em Nova York, Rodrigo Costa, ressaltou, ainda, que as cotações também tendem a oscilar em níveis acima do registrado nas últimas semanas por causa do fim das férias de verão no Hemisfério Norte, que costuma sinalizar o início do período de compras das torrefadoras para o consumo no inverno, que normalmente tem forte aumento.
CENÁRIO AGRÍCOLA