Clima encarece alimentos

Chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste, e seca no Sul, geram prejuízos no campo, estimulando a alta dos preços. BC pode parar queda de juros

Por: Correio Braziliense

05/01/2012 
  

Chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste, e seca no Sul, geram prejuízos no campo, estimulando a alta dos preços. BC pode parar queda de juros
 
Victor Martins

As fortes chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste, somadas à estiagem na Região Sul, começam a afetar a mesa do brasileiro e as previsões de inflação dos economistas. Os problemas climáticos nessas áreas têm promovido uma escalada de preços e alguns produtos sofreram reajustes pesados, de até 200% — caso do tomate, que era facilmente encontrado a R$ 2 o quilo e deve chegar às gôndolas dos supermercados a R$ 6 a partir desta semana em Brasília. Os prejuízos ainda não foram calculados, mas representantes do setor produtivo relatam problemas nas safras de soja, milho, feijão, hortaliças e legumes.


Se a situação piorar drasticamente, o Banco Central pode ser levado a interromper o processo de redução dos juros básicos (Selic) ou ao menos diminuir o ritmo de ajuste na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana. Para esse encontro, porém, não só o cenário doméstico deve ser levado em conta. O mercado está pessimista em relação ao setor externo e à crise na Europa e o BC pode compartilhar dessa visão, o que tem causado uma migração nas apostas de juros futuros. Segundo André Perfeito, economista da corretora Gradual Investimento, a maioria se deslocou de uma taxa de um dígito para 10% ao ano em 2012.


Na visão de Perfeito, porém, o Copom deve repetir o corte de 0,5 ponto percentual na Selic, a exemplo do que fez nas últimas três reuniões. Ele e outros especialistas consideram que, apesar do impacto intenso das chuvas e da seca, ainda não é possível saber por quanto tempo o clima continuará a prejudicar as lavouras — embora exista a certeza de que, a curto prazo, o efeito imediato é alta de preços nos alimentos. Segundo os economistas, o Copom, formado pelos diretores do BC, pode tratar o problema climático como temporário.


“Um dos efeitos mais claros dessa situação é a simples especulação sobre o que pode acontecer com os preços de alimentos. Nesse sentido, a sinalização não é positiva”, alertou Perfeito. “O IPC-FIPE (Índice de Preços ao Consumidor) já aponta uma incômoda reversão da tendência de desaceleração”, avalia Perfeito. Jason Vieira, economista da corretora Cruzeiro do Sul, explica que a questão climática está há meses nos cálculos do mercado para o início de 2012, mas ele faz uma ressalva: “Nossas projeções levam em conta a incerteza em relação ao clima. Mas, se esses problemas se estenderem demais, corre-se o risco de termos uma inflação igual ou mais pesada do que a registrada no início de 2011, quando os preços dos alimentos dispararam”.


Apodrecimento
Ricardo Airton, produtor do núcleo Istanislau/Tabatinga, na zona rural do Distrito Federal, lamenta o excesso de chuvas. “De 800 sacas de repolho que eu venderia neste mês, perdi 200. Vou ter de passar o trator por cima do que se estragou”, reclama. Na lavoura de tomate, 10% da produção de Airton foi perdida. A chuva foi tanta que apodreceu os pés da fruta e as mudas não chegaram nem mesmo a florescer. Segundo o agricultor, a produção local atende a 30% do consumo da csidade — os outros 70% vêm de Santa Catarina e do Espírito Santo, regiões afetadas intensamente pelo clima.


As perdas estão disseminadas entre os principais produtores de grãos e hortaliças do país. Em algumas regiões do Sul e do Sudeste, fala-se em 100% de prejuízo. “A região oeste do Paraná tem uma quebra de safra que varia de 10% a 30% em soja, milho e feijão. Cada dia sem chuva acumula mais perdas. Precisa chover urgentemente”, afirma Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, cooperativa agroindustrial com sede em Cascavel. “Com mais de 45 dias sem chuvas onde o milho estava fora de irrigação, já chegamos a 100% de perdas em algumas áreas. Outras amargam 80% de prejuízo. O pior é que não temos expectativa de chuva para os próximos 30 dias”, observa Carlos Sperotto, presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).


Commodities em baixa
Os preços dos alimentos em alta no mercado interno não são acompanhados pelo valor dos produtos básicos no mercado internacional. O Índice de Commodities do Banco Central (IC-Br) divulgado ontem apontou queda de 0,53% em dezembro dos preços dos itens primários na cotação externa. O indicador caiu de 125,01 pontos em novembro para 124,34 no mês passado. A queda no acumulado do ano é de 0,35%. O recuo, nesse caso, foi liderado pelas commodities metálicas, como alumínio, minério de ferro, cobre, estanho, zinco, chumbo e níquel. Os preços em reais desses minérios caíram 10,78% no ano, embora o BC tenha registrado uma pequena alta de 0,36% em dezembro. No mês, a queda foi forte para produtos agropecuários, como carne de boi e porco, algodão, óleo de soja, trigo, açúcar, milho e café — os preços recuaram 0,81%. A contração no acumulado do ano foi mais suave, de 0,48%. Já os produtos do setor energético — petróleo brent, gás natural e carvão — subiram 13,50% em 2011, mas caíram 0,32% em dezembro.


Entrada de US$ 65,2 bi


Vânia Cristino
Em meio à fuga de investidores da Europa em crise e diante da robustez exibida pela maior economia da América do Sul, o Brasil voltou a ocupar, em 2011, o posto de porto seguro para os estrangeiros. Ávidos por proteger seus recursos, eles despejaram uma montanha de dólares no país. Assim, o ano passado terminou como o segundo maior da história em saldo de dólares. Nada menos que US$ 65,28 bilhões, valor que supera em 168% o fluxo cambial de 2010 — de US$ 24,35 bilhões —, desembocaram no país, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central.


O fluxo cambial de 2011 só foi menor do que o verificado em 2007, quando entraram no Brasil US$ 87,5 bilhões. O comércio exterior foi o principal responsável pelo ingresso de recursos no ano passado. O saldo líquido da balança comercial encerrou o ano positivo em US$ 43,9 bilhões. Em 2011, o Brasil exportou o equivalente a US$ 251,1 bilhões em mercadorias e gastou US$ 207,2 bilhões com a aquisição de bens e produtos importados. Foi a primeira vez, desde 2008, que a entrada de dólares pelo comércio exterior superou o ingresso de recursos das operações financeiras.


De sua parte, o fluxo financeiro encerrou o ano registrando um saldo líquido positivo de US$ 21,3 bilhões, valor que superou em 18% a entrada de dólares pelo segmento registrada em 2010. É nessa conta que o Banco Central contabiliza as transações de compra e venda de ações, títulos de renda fixa, empréstimos, remessas de lucros e investimentos produtivos. Nessas operações, foi registrado o ingresso de US$ 393,9 bilhões e saída de US$ 372,6 bilhões.


 
 
 


       
  
 
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