Do lado altista, preocupações climáticas e seu efeito na produção global da commodity segue no radar de agentes
Os preços dos cafés seguiram voláteis nestes últimos dias, refletindo as preocupações com a oferta global da commodity.
Após o recuo em julho, os contratos do arábica em NY e do robusta em LN tem operado sobretudo em alta, devido às preocupações com os impactos do clima na produção global.
Segundo Laleska Moda, analista de café da Hedgepoint Global Markets, “há receio no Vietnã quanto às altas temperaturas e à seca na produção em 24/25. Enquanto os níveis de chuvas melhoraram a partir de julho, as temperaturas seguem acima da média histórica, o que pode limitar uma recuperação no ciclo – nossas estimativas ainda apontam para uma produção em 24/25 inferior à 23/24”, diz.
De acordo com Laleska, “no Brasil, após os temores com a passagem de duas frente frias no país, agentes agora aguardam a abertura das floradas da safra 25/26.
“Ainda que tenha havido a abertura de flores em algumas localidades, o setor ainda aguarda a abertura das floradas principais nas regiões produtoras brasileiras, que pode ser favorecido por um maior volume de chuvas”, acredita.
No entanto, as previsões até o momento apontam para um clima mais seco neste começo de setembro, o que também tem gerado certa preocupação no setor.
“De forma geral, 2024 tem sido marcado por menores volumes de chuvas no Brasil, o que tem levado a um maior estresse hídrico nas lavouras de café e mantendo participantes do mercado em alerta quanto à possíveis impactos no potencial produtivo”, observa.
Dado que o Brasil é o maior produtor de café do globo, qualquer mudança na expectativa da oferta do país pode ocasionar flutuação dos preços.
Por outro lado, ainda é precipitado quaisquer estimativas quanto à 25/26, especialmente dado que floradas significativas não foram reportadas.
Além disso, recentemente o NOAA reduziu a probabilidade do La Niña nos próximos meses: há probabilidades quase iguais para ENSO-neutro e La Niña entre agosto-outubro de 2024, com uma maior probabilidade do La Niña à medida que nos aproximamos do fim do ano.
“Além disso, a intensidade do fenômeno do La Niña também foi reduzida. Caso o clima siga mais próximo da neutralidade no restante de 2024, especialmente em termo de precipitações, a próxima temporada de café pode ser beneficiada, podendo trazer correções nas cotações no curto-prazo”, analisa.
Outros fatores também podem ocasionar correções nas próximas semanas. Nos últimos dias, foi reportado um aumento nos estoques certificados de arábica da ICE.
“Ainda que inferior aos níveis históricos, os estoques avançaram 3,2% em agosto, frente ao acumulado de julho, e já são 72,8% superiores ao mesmo período de 2023. A recuperação dos estoques certificados levou à queda dos preços futuros na quinta-feira (29)”, aponta.
Do lado do robusta, os preços têm se mantido em níveis historicamente altos em agosto – o contrato Nov/24 atingiu os maiores níveis em 16 anos na sexta-feira (30) – mas alguns indicadores apontam que o mercado pode estar tecnicamente sobrecomprado, com a possibilidade de correção no curto prazo.
Em resumo, os fatores climáticos seguem influenciando o mercado cafeeiro, devido ao impacto na produção da commodity. Na Ásia, agentes seguem receosos do efeito do clima adverso na produção do Vietnã em 24/25.
No Brasil, com o período das floradas em ação, o mercado também segue atento ao cenário climático brasileiro, especialmente na espera de chuvas, dado o clima mais seco até o momento.
“De forma geral, nossa expectativa é de que o déficit em 24/25 – reflexo da menor produção esperada no Vietnã e no Brasil – siga dando suporte aos preços no longo prazo”, diz.
Ainda assim, a redução da intensidade do La Niña e a maior probabilidade de um ENSO-neutro até outubro pode trazer um cenário climático mais otimista para a produção 25/26 brasileira, podendo trazer pressão de baixa no curto prazo.
Outros fatores baixistas que devemos dar atenção é a recuperação dos estoques certificados da ICE, além de fatores técnicos do lado do robusta, que sugerem uma correção nos valores no curto prazo.
“É válido ressaltar, no entanto, que as incertezas quanto à oferta e a alta volatidade dos preços têm mantido uma baixa liquidez no fechamento de negócios no mercado, tanto no mercado físico quanto no futuro. No Vietnã, por exemplo, o fechamento de contratos para a safra de 25/26 está inferior do que nos anos anteriores”, conclui.
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