Clima antecipa colheita de café arábica e robusta do Brasil

quinta-feira, 27 de março de 2014 


Por Roberto Samora


SÃO PAULO, 27 Mar (Reuters) – A colheita de café arábica e robusta começará este ano entre 15 e 25 dias mais cedo do que o normal no Brasil, maior produtor global da commodity, com condições climáticas diversas gerando uma antecipação dos trabalhos, disseram técnicos do setor produtivo.


Algumas poucas áreas, incluindo as de café arábica, já registram uma atípica atividade de colheita, mas os volumes colhidos são insignificantes, acrescentaram especialistas ouvidos pela Reuters, ressaltando que isso não pode ser classificado como uma largada para os trabalhos.


No caso do arábica, a severa seca dos últimos meses antecipa a colheita, que estará mais intensa já no início de maio no sul de Minas Gerais, principal Estado produtor do Brasil –normalmente isso ocorre somente no final de maio.


Já os produtores do robusta (ou conilon) –variedade que tradicionalmente é colhida antes do arábica devido à fenologia– deverão começar para valer a colheita em meados de abril, quando isso seria feito somente no início de maio, após chuvas abundantes terem antecipado as floradas e favorecido a formação do grão.


A produção do robusta, entretanto, representa apenas cerca de 25 por cento da safra nacional de café, e está basicamente concentrada no Espírito Santo, enquanto a colheita de arábica, que responde pela maior parte da produção brasileira, está espalhada por Minas Gerais, São Paulo e Paraná, entre outros Estados.


“Ela (colheita do arábica) deve antecipar, na primeira semana de maio começa… Com essa seca, o café acabou antecipando todo o ciclo, granando mais cedo… O estresse da planta acabou desencadeando o processo de maturação”, afirmou o coordenador do programa de Cafeicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Gladyston Carvalho.


ESTRAGOS


Se a seca deverá antecipar a colheita, potencialmente adiantando uma tradicional pressão sazonal aos preços globais, ela já causou estragos irreversíveis nas principais regiões produtoras de café arábica, levando as cotações do produto na bolsa de Nova York a uma máxima em dois anos no início de março.


Segundo o especialista Epamig, órgão do governo de Minas, as cultivares mais precoces já têm de 20 a 30 por cento de frutos maduros, quando normalmente elas entrariam em maturação em maio.


“Este ano, pela condição climática, vai ter antecipação em várias regiões, o café vai chegar mais cedo… Não é ‘aquele’ café, porque o começo da apanha sempre tem um percentual de verde, um percentual maior de café com defeito”, afirmou.


Carvalho disse ainda que os números de perdas pela seca “continuam assustadores”, mas ainda não há levantamentos disponíveis que determinem com exatidão a dimensão dos prejuízos. “O café está menos pesado, muito chocho, só tem casca, fruto mal granado, grão miúdo. O produtor gastará muito volume para fazer a mesma saca.”


Segundo o diretor técnico da Cooparaiso, cooperativa do Sul de Minas Gerais, Paulo Sérgio Elias, em algumas regiões mais quentes, próximas à represa de Furnas, “o pessoal está fazendo uma tentativa de colheita”, mas os grãos aparentemente maduros não têm frutos.


“Existe uma expectativa de antecipar sim em 15 dias a colheita deste ano… Infelizmente, com o problema climático, o café acaba amadurecendo, de forma indevida, mas mais cedo”, disse o diretor técnico da Cooparaiso, Paulo Sérgio Elias.


O café que floresceu mais tarde, na parte mais sombreada da planta, e teve enchimento de grãos em fevereiro, pode apresentar melhor produtividade do que os frutos de ponteiro, com amadurecimento precoce, afirmou Elias.


ESPÍRITO SANTO


Nas lavouras capixabas, há registro de alguma colheita, mas o volume colhido de robusta não chega a 1 por cento da produção da região, disse o gerente-geral da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel da Palha (ES), Edimilson Calegari.


Segundo ele, a intensificação da colheita só começa em meados de abril, e o volume colhido, diferentemente do que aconteceu nas áreas de café arábica, será superior o registrado em 2013, quando uma seca afetou as lavouras.


“Tivemos muita chuva no período de dezembro e janeiro, justamente no período da formação do grão. Não teremos uma boa safra como em 2012, mas vai ser melhor que em 2013”, disse Calegari.


A cooperativa espera receber pouco mais de 1 milhão de sacas em 2014 (contra 860 mil sacas em 2013), o que representa cerca de 10 por cento da produção da região, que responde pela maior parte da safra capixaba.

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