Cigarras: um inimigo quase invisível da cafeicultura

06/04/2012

O cafeeiro (Coffea sp.) é uma planta arbustiva originária da Etiópia, da qual se colhem as sementes, para a produção de uma bebida estimulante conhecida como café. Essa planta é largamente cultivada em países tropicais, para consumo próprio, e exportação para países de clima temperado. No Brasil, essa espécie foi introduzida, vinda das Guianas, pelas mãos dos colonizadores. Atualmente o País é o principal produtor mundial de café, seguido pelo Vietnã e Colômbia. Em âmbito nacional, os principais estados produtores são Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Paraná e Rondônia, que correspondem a 97% da produção nacional.


Por ser uma cultura tradicional do Brasil, seu bom desempenho é de fundamental importância para toda a economia nacional, pela sua participação na receita cambial, transferência de renda aos outros setores da economia, contribuição à formação de capital no setor agrícola do País, além da expressiva capacidade de absorção de mão de obra. A estimativa de produção de café (arábica e conilon) para a safra de 2012 está entre 48,9 e 52,2 milhões de sacas de 60 quilos do produto beneficiado, o que corresponde a 50,6 milhões de sacas no ponto médio. O resultado representa um crescimento entre 12,6% e 20,2%, quando comparado com a produção obtida na temporada anterior que foi de 43,4 milhões de sacas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Emater estimam crescimento expressivo na produção de café conilon em Rondônia (principal estado produtor da região Norte), entre 26% e 32%, com uma área plantada de 168 mil hectares.


As cigarras são relatadas como uma das mais importantes pragas-chave dessa cultura. Apesar de referidas pelos produtores acrianos como insetos presentes nessa cultura, não se sabe ao certo o nível de danos que causam. O cafeeiro, quando atacado por cigarras, apresenta definhamento progressivo, folhas com pontuações brancas e com queda prematura, “envaretamento” e, principalmente, decréscimo acentuado de produção. Os danos provocados por esses insetos, à primeira vista, não são detectados devido às cigarras passarem a maior parte de seu ciclo biológico enterradas no solo. Na fase ninfal, sugam continuamente a seiva bruta das raízes do cafeeiro. Posteriormente, a ninfa móvel abandona as raízes cavando uma galeria circular e individual para sair do solo (quanto maior o número de orifícios sob a saia do cafeeiro, maior o grau de infestação), fixando-se em suportes, como o tronco das árvores. Nessa fase acontece a emergência dos adultos, que irão começar o novo ciclo reprodutivo da praga. Por intermédio de órgãos especializados localizados no abdômen, o macho estridula ou “canta”, com a finalidade de atrair a fêmea da espécie para o acasalamento.


Os principais gêneros de cigarras associadas ao cafeeiro são: Quesada, Fidicina, Dorisiana, Carineta e Fidicinoides e, até o momento, foram registradas 12 espécies associadas ao cafeeiro no Brasil: Quesada gigas (Olivier), Quesada sodalis (Walker), Fidicina mannifera (Fabricius), Fidicina pullata (Berg), Dorisiana drewseni (Stål), Dorisiana viridis (Olivier), Carineta fasciculata
(Germar), Carineta matura (Distant), Carineta spoliata (Walker), Fidicinoides pronoe (Walker), Fidicinoides pauliensis (Boulard & Martinelli) e Fidicinoides sarutaiensis (Santos, Martinelli & Maccagnan).


Para o Estado do Acre são registradas as espécies: Carineta dolosa Boulard, Carineta rufescens (Fabricius), Carineta viridicolis (Germar), Carineta spoliata (Walker), além de espécimes dos gêneros Taphura e Dorisiana. Assim, nota-se que, além de uma espécie que tem o cafeeiro como planta hospedeira, foi confirmada a presença do gênero Dorisiana no estado, o qual também possui espécies associadas ao cafeeiro. Portanto, novos estudos devem ser realizados a fim de constatar ou não a presença de espécies de importância econômica em cafezais no Estado do Acre, para que medidas de controle sejam efetivamente realizadas.


Os patógenos de solo, como por exemplo, o fungo entomopatogênico Metarhizium anisoplie (Metsch.), são os principais inimigos naturais das cigarras. Quando entram em contato com as ninfas de cigarras, os esporos do fungo germinam, produzindo enzimas que degradam a pele da cigarra e ajudam o fungo a invadi-la. Conforme cresce, o fungo libera toxinas que modificam o comportamento da ninfa e impedem que ela se mova, levando o inseto à morte.


Assim, nota-se que as cigarras são importantes insetos-praga associados à cultura do café no Brasil. No entanto, novos estudos fazem-se necessários para verificar as espécies associadas e níveis de dano ocasionados por esses insetos na produção de café na Amazônia, para que técnicas de controle eficiente sejam adotadas.


AUTORIA


Rodrigo Souza Santos
Biólogo
Doutor em Entomologia Agrícola
Pesquisador da Embrapa Acre,
E-mail:: rodrigo@cpafac.embrapa.br

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