Análise foi feita durante palestra no 5º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, promovido em S. Paulo pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda)
Com o tema “Solos e Fertilizantes, Pilares da Segurança Alimentar Global”, foi aberto nesta terça-feira, dia 25, em São Paulo, o 5º Congresso Brasileiro de Fertilizantes. Promovido pela Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), o evento reuniu os maiores especialistas no tema, além de autoridades públicas e lideranças do agronegócio. De acordo com o presidente do Conselho de Administração da Anda, George Wagner Bonifácio e Sousa, o evento acontece num momento de grande incerteza econômica e política do país, que torna ainda mais urgente as reivindicações do setor que, segundo ele, podem ser resumidas em ter uma política adequada de seguro agrícola, melhor infraestrutura de logística, estratégia adequada de acordos comerciais com países relevantes e uma ampla reforma trabalhista que levem em conta as peculiaridades do agronegócio.
Além de George Wagner, também participaram da abertura do evento, o secretário-adjunto da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Rubens Rizek; o secretário de Logística e Transporte de São Paulo, Duarte Nogueira; o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho e o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Reinaldo Cantarutti.
Após a abertura, o cientista Paul Fixen, vice-presidente sênior do International Plant Nutrition proferiu a palestra “Solos, Fertilizantes e Segurança Alimentar”, quando destacou a importância das boas práticas com o manejo do solo para assegurar o constante aumento de produtividade necessário para garantir alimentos para o mundo. “Isso será cada vez mais fundamental, pois a estimativa é de que o mundo terá de produzir nos próximos 50 anos a mesma quantia de alimentos que já foi produzida ao longo da história, desde que o homem desenvolveu a agricultura”, disse.
Fixen salientou ainda que estudos indicam que fazendas com uma gestão adequada dos solos permite aumentar em até 58% a produção de alimentos. “Infelizmente, boa parte dos países do mundo não tem cuidado bem dos solos, uma vez que nada menos que 40% deles estão degradados”, informou. Segundo Fixen, em algumas regiões da África, essa degradação atinge a marca de 65%. “Estima-se que metade dos solos agriculturáveis no mundo foram perdidos nos últimos 150 anos”, completa.
Em seguida, Fixen destacou o decisivo papel dos fertilizantes na produção de alimentos. Segundo ele, de 40% a 60% da produção mundial de alimentos depende do uso de fertilizantes. “O que temos de fazer hoje é lançar mão de toda a tecnologia ao nosso dispor para fazer uma adubação cada vez mais eficiente, quase que adaptada a cada planta, de forma a aumentar a produtividade sem desperdiçar insumos e, ao mesmo tempo, evitar impactos ambientais decorrente de adubação excessiva e desnecessária”, concluiu.
O segundo painel “Solo, Fertilizantes e Agrossociedade” foi ministrado por José Luiz Tejon, diretor do Núcleo de Estudos de Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, que destacou que a rápida transformação pelo qual passa o planeta e, também, o agronegócio demanda um novo posicionamento de todo o mercado. “Precisamos aprender a conversar com o cliente de nosso cliente, que é o consumidor final. Não podemos mais manter o nível de informação apenas dentro da cadeia”, afirmou.
Um exemplo dessa mudança é que o consumidor final está cada vez mais atento com o que ele consome em termos de alimentos e, com isso, vem crescendo a importância em conhecer a origem do alimento consumido, de como é seu processamento, e se ele é sustentável. Por isso, atualmente, as companhias estão atentas para levar a informação para seu cliente.
Para Tejon, a ciência é o alvo de ataques por desconhecimento e incompreensão e, dessa maneira, o setor precisa trabalhar de forma educativa e lúdica a ciência do agronegócio para o consumidor final. “Temos que explicar o que é defensivo agrícola, o que é mecanização da agricultura de precisão, o que é fertilizante, porque se não o consumidor vai falar que somente comida orgânica é boa e saudável. O que não é correto”. Essa integração entre a sociedade urbana e o campo, que está inserido no conceito de agrossociedade, representa a realidade e o futuro mundial.
O Brasil, segundo Tejon, é uma instituição de segurança estratégica mundial obrigatória no que tange o fornecimento de alimentos para o mundo, cuja estimativa é alcançar, em 2050, 10 bilhões de pessoas. “Avalio que o agronegócio precisará superar sete desafios para manter esse posicionamento: preço de terra, população, desperdício de alimentos e insumos, consumidor mais exigente, ciência com maior capilaridade, entendimento sobre o funcionamento das cadeias produtivas e mudança de mentalidade do produtor rural”.
Ao final da programação da manhã do Congresso, a Anda entregou uma homenagem especial concedida ao engenheiro agrônomo e empresário do setor, Wilson Alves de Araújo, que dedicou cerca de 70 anos ao setor de fertilizantes, como pesquisador, empresário e liderança setorial.
Em coletiva de imprensa, promovida durante o evento, foi feito o anúncio de que a Anda lançará, em setembro, uma plataforma digital que reunirá informações sobre os vários aspectos relativos ao setor de fertilizantes. Denominado Nutrientes para a Vida, o site, que já existe nos Estados Unidos, pretende ser uma fonte de informações para levar os conceitos corretos da indústria de fertilizantes, que levem em conta aspectos econômicos, sociais, tecnológicos e também de sustentabilidade. Os dirigentes da entidade enfatizaram também que o segmento reforça seu compromisso de continuar a suprir adequadamente a demanda brasileira por fertilizantes na atual safra.