Ciclo de baixa do café ainda está longe de chegar ao fim

O cenário de margens apertadas para os produtores brasileiros de café, delineado pelo baixo patamar das cotações da commodity no exterior e no país, deverá se estender por mais dois anos, segundo especialistas do segmento.

16/04/2019 Com as estimativas confirmando um novo superávit do produto no mercado global na safra 2018/19, quando foi positiva a bienalidade da safra do Brasil – maior produtor e exportador -, o espaço para recuperações é exíguo e dependerá, em grande medida, da ocorrência de problemas climáticos em polos cafeeiros.

De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), a produção mundial de café em 2018/19 deverá somar 168 milhões de sacas de 60 quilos, um aumento de 1,5% em relação ao ciclo anterior. O excedente em relação à demanda chega a 3,1 milhões de sacas e vem depois de um superávit em 2017/18 calculado em 4,2 milhões. Nas contas da entidade, o último déficit global, modesto (366 mil sacas), foi em 2016/17.

Nesse contexto, os contratos futuros de segunda posição de entrega já acumulam quedas superiores a 10% em 2019, a 20% nos últimos 12 meses e a 30% nos últimos 24 meses, conforme cálculos do Valor Data. Em março, a saca exportada pelo país foi negociada, em média, por US$ 128,6, conforme dados a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), queda de 17% sobre o mesmo mês de 2018. Somando essas quedas à redução da colheita, projeta o Ministério da Agricultura, o valor bruto da produção (VBP) da cultura deverá ser R$ 5 bilhões menor que no ano passado (ver a matéria Valor da produção do grão deve cair R$ 5 bi neste ano).

“Uma recuperação dos preços virá apenas em um ou dois anos”, afirmou Andrea Illy, controlador e presidente da italiana illycaffè, em recente visita ao país. Trata-se de uma projeção até mais otimista que a do analista Gil Barabach, da consultoria Safras & Mercado, para quem os preços não terão força para subir antes de dois anos. “Enquanto o superávit persistir, não haverá sustentação”. No início de abril, os contratos do arábica mais negociados em Nova York desceram ao menor patamar em 13 anos e por lá permanecem.

Em 2018/19, o salto da produção foi puxado pela América do Sul, onde a colheita aumentou 4,4%, para 80,72 milhões de sacas – 62,5 milhões das quais no Brasil. Em 2019/20, a safra brasileira também deverá ser farta, da ordem de 58 milhões de sacas, segundo a Safras & Mercado. Se confirmado, o volume será 8% menor que o de 2018/19, mas é considerado elevado por se tratar de um ciclo de bienalidade negativa que marca as lavouras de arábica.

E, no país, a colheita já bate à porta. Para o café conilon, os trabalhos tendem a ganhar fôlego na segunda quinzena de abril, e a produção esperada chega a 18 milhões de sacas, 12% maior que a do ciclo anterior. No caso do arábica, a colheita deverá ser adiantada para o início de maio e ficará próxima de 41 milhões de sacas, 15% abaixo de 2018/19. O adiantamento é explicado pela florada antecipada dos cafezais, que se deu em agosto, e pelas temperaturas elevadas em janeiro, que aceleraram o ciclo produtivo da variedade.

“Há luz no fim do túnel?”, perguntam os mais esperançosos, enquanto algumas brechas oferecem suportes temporários às cotações, algumas vezes ligadas ao comportamento dos preços de outras “soft commodities”. Não exatamente, dizem analistas, até porque à oferta ampla se une o comportamento do câmbio, que tem sido incapaz de compensar a baixa dos preços.

Guilherme Morya, do Rabobank, lembra, contudo, que em julho geadas no Brasil podem abrir espaço para leves altas, embora seja cedo para prever se intempéries vão de fato acontecer. “Até outubro, a tendência é que os preços continuem sem ultrapassar US$ 1 dólar a libra-peso [em Nova York]”. Segundo ele, em outubro tanto as chuvas no Brasil (que sinalizam como será a florada) quanto a pré-colheita de robusta no Vietnã podem agregar novos fatores à equação dos fundamentos e, pontualmente, mexer com os preços de forma mais sensível. Mas nem por isso a perspectiva é de menos pressão.

Por Marina Salles e Marcela Caetano | De São Paulo

Fonte : Valor

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