Chuva e frio prejudicam lavouras de café Por José Braz Matiello

Massa fria, que trouxe a chuva, provocou aumento na umidade e queda de temperatura, fatores que provocaram, em conjunto, efeitos prejudiciais às lavouras de café

Por: J.B. Matiello, J.E. P. Paiva, S.R. Almeida, Rodrigo N. Paiva, Iran B. Ferreira e Marcelo Jordão Filh

Por José Braz Matiello, J.E. P. Paiva, S.R. Almeida, Rodrigo N. Paiva, Iran B. Ferreira e Marcelo Jordão filho – engenheiros agrônomos da Fundação Procafé



Em final de maio e início de junho foram registradas chuvas anormais nas principais regiões cafeeiras de café arábica do país, no Sul de Minas e na Mogiana (SP). O exemplo da Estação em Varginha mostra chuvas totais de cerca de 90 mm, com precipitações distribuídas em 11 dias, quase seguidamente.


A massa fria, que trouxe a chuva, provocou aumento na umidade e queda de temperatura, fatores que provocaram em conjunto efeitos prejudiciais às lavouras de café, aqui sendo destacadas as principais observações de campo realizadas.


1-Aceleração na maturação dos frutos – os quais passaram, mais rapidamente, de maduros para secos, reduzindo a possibilidade de preparo de cafés CD. A nosso ver, esse fenômeno foi provocado pelo ataque de fungos saprófitas na casca, facilitado pela umidade. Ocorre que neste ano já havia, antes da chuva, aparecido uma anormalidade de causa provável fisiológica, onde a casca dos frutos mostrava muitas manchas marrons. Estas formavam inúmeras lesões, as quais podem ter agravado o ataque dos fungos saprófitas, causadores de morte e apodrecimento de tecidos e, em consequência, aumentando a produção de etileno na casca.


2-Fermentação em frutos – com a umidade constante, os frutos ao passarem de maduros a passa/secos foram mais atacados por fungos causadores de fermentações indesejáveis, como Penicillium, Fusarium e Aspergillus, que levam à depreciação da bebida. Este aspecto foi mais grave em regiões mais problemáticas para qualidade, como as de menor altitude na região.


3-Queda maior de frutos ao chão – provocada pela umidade das chuvas e associação com os ventos. Os frutos úmidos e no estágio de secos ficam mais pesados e seu pedúnculo mais fraco, caindo caem em maior quantidade. Esse efeito foi maior em variedades de maturação precoce, como o Mundo Novo.


4-Ativação dos frutos verdes – a retomada da umidade no solo, depois de cerca de 40 dias sem chuva, parece ter ativado o crescimento dos frutos verdes, observando-se, no geral, que boa parte cresceu mais, engrossando a sua casca. Por outro lado, alguns que se encontravam com lesões e, especialmente, pela produção de etileno nos frutos próximos, secos, houve uma aceleração da sua maturação. Isso e mais, um ataque de Colletotrichum oportunista, especialmente, em frutos já lesionados, por outras doenças ou pragas (cochonilhas e ácaros) provocaram a passagem de uma parte deles de verde a secos.


5-Antecipação do ataque de Phoma e bacteriose – com a umidade e queda da temperatura houve favorecimento à antecipação do ataque dessas doenças, com efeito sobre a folhagem, a ramagem ponteira e algumas gemas florais iniciais.


6-Queda severa de folhas – a queda de folhas, mesmo em lavouras com boas condições vegetativas, como aquelas podadas no sistema safra zero, foi provocada pelo choque hídrico, pela morte de fungos epífitas sobre a folhagem/ramagem e pelo ataque de doenças.


7-Emissão de ramificações secundárias em ramos produtivos – por efeito do frio intenso, alguns ramos tiveram as últimas folhas (novinhas) queimadas ou com crescimento paralisado, levando à quebra da dominância apical, com isso surgindo ramificações secundárias abundantes, em muitas lavouras, com transformação de gemas florais em vegetativas.


8-Florações pequenas extemporâneas – depois do estresse hídrico que vinha acontecendo, especialmente em regiões mais quentes e em ponteiros das plantas, houve uma pequena abertura de floração, ainda fora de época.


Analisados os problemas constatados, em conjunto, os quais ocorreram em maior ou menor grau dependendo das condições das lavouras, pode-se observar que as perdas qualitativas, no tipo, aspecto e bebida do café desta safra, ficam bem evidentes. As perdas quantitativas ainda deverão ser melhor avaliadas, pois dependem do prosseguimento da colheita, da eficiência no recolhimento do café de varrição e, no que se refere à próxima safra, vai depender do nível de enfolhamento remanescente, de forma critica, lá na frente, no período de pré-florada.



 


 


Foto: Procafé

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Nas fotos acima frutos (verdes e maduros) com casca prejudicada por manchas escuras, isto mesmo antes das chuvas, o que deve ter facilitado, com a umidade, e a ação de micro-organismos, o processo de aceleração da maturação e seca.

Foto: Procafé
Frutos verdes “re-ativados”, que cresceram mais e têm boa granação, ao lado de frutos secos. Varginha (MG), meados de maio e inicio de junho de 2016.

Foto: Procafé
Secagem/chochamento de frutos verdes, estes por efeito de lesões por cochonilhas, combinadas com o ataque de Colletotrichum, infecção independente de chuvas – Carmo do Paranaíba (MG), junho de 2016


Foto: Procafé

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Fermentação, por fungos, em frutos secos, por efeito da umidade, sendo de coloração branca ou rosa, assim considerados Penicillium, Aspergillus e Fusarium – Areado (MG), junho de 2016

Foto: Procafé

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Efeito da chuva e frio na abertura precoce de algumas flores e na emissão de gemas vegetativas onde sairiam gemas florais e ataque de Phoma, inicial, junto aos botões. Areado (MG) junho de 2016.

Foto: Procafé
Queda intensa de folhas, mais de um lado da planta, em cafeeiro, por efeito de umidade e frio e seus desdobramentos microbiológico e fisiológico.

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