1º CADERNO
17/11/2008
China tira espaço de fornecedor do Brasil na Argentina
De São Paulo
17/11/2008
Os produtos chineses estão ganhando espaço no mercado argentino e substituindo os fornecedores brasileiros. A participação da China nas importações do país vizinho chegou a 11,7% no acumulado de julho de 2007 a junho de 2008. A fatia chinesa estava em 10,14% no acumulado de 12 meses até junho de 2007 e não passava de 4% em junho de 2003, conforme dados levantados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em contrapartida, o Brasil perdeu 4 pontos percentuais de participação nas importações argentinas. O quinhão brasileiro nas compras do principal sócio do Mercosul recuou de 35,6% de julho a 2004 a junho de 2005 para 31,5% no acumulado de 12 meses até junho de 2008.
“É uma tendência preocupante, porque o Brasil conta com preferências tarifárias na Argentina, que ainda possui tarifas de importação elevadas, e mesmo assim está perdendo espaço”, disse Sandra Rios, consultora da CNI. Graças ao Mercosul, a maior parte dos produtos brasileiros chega na Argentina sem pagar tarifa de importação.
A especialista avalia que os fabricantes brasileiros podem voltar a ganhar competitividade no mercado argentino no segundo semestre deste ano, graças à desvalorização da moeda brasileira, provocada pela crise internacional. Por outro lado, a demanda da Argentina pode diminuir à medida em que a crise desaqueça a economia local.
Em alguns setores, o avanço chinês na Argentina é expressivo. Em produtos cerâmicos, a participação dos chineses saltou de 8,5% em 2003 para 25% em 2007 nas importações argentinas. No setor de confecções, a China representava apenas 2,6% do que os argentinos compram do exterior. Em 2007, chegou a 16%. Em calçados, a alta foi de 12,6% para 27,9% no mesmo período.
O Brasil, que possui participações expressivas nesses setores, sofreu apenas pequenas oscilações, mas sempre para baixo. A fatia dos empresários brasileiros no setor de cerâmica na Argentina cedeu de 42,4% para 41,75% entre 2003 e 2007. Nos setores de confecção (60,7% para 58,5%) e calçados (61,3% para 58,5%) também foi registrado recuo.
Além da Argentina, a CNI avaliou a concorrência com os chineses em um outro importante mercado para os produtos manufaturados brasileiros: os Estados Unidos. Nesse mercado, a participação brasileira, que é bastante reduzida, segue relativamente estável, enquanto os chineses perdem espaço.
O quinhão do Brasil nos EUA saiu de 1,14% no acumulado de 12 meses até junho de 2000 para 1,51% na mesma comparação até junho de 2005, para 1,39% até junho 2007 e 1,36% em junho deste ano. Os chineses saltaram de 7,9% em junho de 2000 para o recorde de 16,3% em junho de 2007 e caíram para 15,8% em 2008. Para Sandra, a queda recente da participação dos chineses pode ser resultado do desaquecimento da economia americana em função da crise.
De acordo com a especialista, o desempenho relativamente estável do Brasil se deve a produtos básicos, como fumo, peles e couro, gesso e cimento, e café. Já os chineses se destacam no mercado americano em manufaturados, como confeccionados (35,3% em 2003 para 48,6% em 2007) e máquinas e aparelhos mecânicos (17,5% para 25,6%).
Sandra Rios acredita que os empresários devem incrementar as medidas antidumping contra a China, caso o país direcione para o Brasil os produtos que não estão sendo consumidos nos Estados Unidos e na União Européia por conta da crise econômica. No primeiro semestre do ano, foram abertas três investigações de dumping contra a China. (RL)